São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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Dilma nega mensalão e defende Dirceu

"Não houve isso de maneira alguma", diz ministra, que considera seu antecessor na Casa Civil "uma pessoa injustiçada"

Dilma diz que não conhecia Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema do mensalão, e que governo nunca faria tais concessões

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) negou a existência do mensalão e disse que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu foi "injustiçado". Ela depôs no CCBB (sede provisória do governo) como testemunha de dois réus do mensalão, os ex-deputados Roberto Jefferson (PTB) e José Janene (PP).
Revelado em 2005 em entrevista à Folha pelo ex-deputado Roberto Jefferson, o mensalão foi um esquema de pagamento de propina a congressistas em troca de apoio ao governo Lula. As investigações mostraram que o dinheiro utilizado vinha de empréstimos de fachada.
Dirceu, Jefferson e Janene estão entre os 39 réus da ação penal do mensalão. O relator do processo, que tramita no Supremo Tribunal Federal, é Joaquim Barbosa. Para acelerar a tramitação, ele delegou a juízes de primeira instância os procedimentos de ouvir testemunhas em todo o país.
"Acho que Dirceu foi uma pessoa injustiçada, se quer minha opinião, e também tenho por Dirceu grande respeito", respondeu a ministra à juíza Pollyana Kelly Martins Alves, da 12ª Vara Federal.
Dilma também fez referências positivas ao deputado Paulo Rocha (PT) que renunciou em 2005 para evitar cassação e a Professor Luizinho (PT), ex-deputado. A ministra disse não acreditar que tenham se beneficiado de recursos públicos.
Sobre a existência do mensalão, Dilma mostrou-se categórica: "Não, eu não tinha ouvido [falar]. Tomei conhecimento pelas notícias da imprensa".
A ministra usou as discussões do novo modelo do setor elétrico, em 2004, na Câmara, para negar a existência do mensalão. "O setor inteiro participou [das discussões], obviamente com interesses divergentes porque a cadeia econômica do setor é complexa."
Para Dilma, essa mesma situação se aplica às discussões das reformas tributárias e da Previdência que estavam em curso no Congresso, apesar de afirmar no depoimento que não participou das negociações: "Não houve isso [o mensalão] de maneira alguma. Não existia a menor possibilidade".
Dilma disse que não havia a menor possibilidade de partidos exigirem vantagens do governo. "Isso não aconteceu, até porque era impossível. Não havia a menor possibilidade de isso ser aceito por nós", afirmou.
Segundo Dilma, ela não conhecia o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado pelo Ministério Público como o "operador" do mensalão, e que tinha relação "qualificada" com Jefferson.
Disse que se conheciam porque ele era líder do PTB e se encontraram algumas vezes para discutir mudanças no setor elétrico: "A relação foi sempre muito qualificada. Ele não fez [qualquer pedido de vantagem ou indicação de cargos no Ministério de Minas e Energia] para mim, nunca, jamais".
O depoimento foi acompanhado pelos advogados dos acusados, que puderam fazer perguntas à ministra. Ela disse que não passou pela Casa Civil eventual pedido de providência de Lula para apurar a denúncia de Jefferson sobre o mensalão.


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