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Dilma nega mensalão e defende Dirceu
"Não houve isso de maneira alguma", diz ministra, que considera seu antecessor na Casa Civil "uma pessoa injustiçada"
Dilma diz que não conhecia Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema do mensalão, e que governo nunca faria tais concessões
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) negou a existência
do mensalão e disse que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu
foi "injustiçado". Ela depôs no
CCBB (sede provisória do governo) como testemunha de
dois réus do mensalão, os ex-deputados Roberto Jefferson
(PTB) e José Janene (PP).
Revelado em 2005 em entrevista à Folha pelo ex-deputado
Roberto Jefferson, o mensalão
foi um esquema de pagamento
de propina a congressistas em
troca de apoio ao governo Lula.
As investigações mostraram
que o dinheiro utilizado vinha
de empréstimos de fachada.
Dirceu, Jefferson e Janene
estão entre os 39 réus da ação
penal do mensalão. O relator
do processo, que tramita no
Supremo Tribunal Federal, é
Joaquim Barbosa. Para acelerar a tramitação, ele delegou a
juízes de primeira instância os
procedimentos de ouvir testemunhas em todo o país.
"Acho que Dirceu foi uma
pessoa injustiçada, se quer minha opinião, e também tenho
por Dirceu grande respeito",
respondeu a ministra à juíza
Pollyana Kelly Martins Alves,
da 12ª Vara Federal.
Dilma também fez referências positivas ao deputado Paulo Rocha (PT) que renunciou
em 2005 para evitar cassação e
a Professor Luizinho (PT), ex-deputado. A ministra disse não
acreditar que tenham se beneficiado de recursos públicos.
Sobre a existência do mensalão, Dilma mostrou-se categórica: "Não, eu não tinha ouvido
[falar]. Tomei conhecimento
pelas notícias da imprensa".
A ministra usou as discussões do novo modelo do setor
elétrico, em 2004, na Câmara,
para negar a existência do
mensalão. "O setor inteiro participou [das discussões], obviamente com interesses divergentes porque a cadeia econômica do setor é complexa."
Para Dilma, essa mesma situação se aplica às discussões
das reformas tributárias e da
Previdência que estavam em
curso no Congresso, apesar de
afirmar no depoimento que
não participou das negociações: "Não houve isso [o mensalão] de maneira alguma. Não
existia a menor possibilidade".
Dilma disse que não havia a
menor possibilidade de partidos exigirem vantagens do governo. "Isso não aconteceu, até
porque era impossível. Não havia a menor possibilidade de isso ser aceito por nós", afirmou.
Segundo Dilma, ela não conhecia o empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza,
apontado pelo Ministério Público como o "operador" do
mensalão, e que tinha relação
"qualificada" com Jefferson.
Disse que se conheciam porque ele era líder do PTB e se
encontraram algumas vezes
para discutir mudanças no setor elétrico: "A relação foi sempre muito qualificada. Ele não
fez [qualquer pedido de vantagem ou indicação de cargos no
Ministério de Minas e Energia]
para mim, nunca, jamais".
O depoimento foi acompanhado pelos advogados dos
acusados, que puderam fazer
perguntas à ministra. Ela disse
que não passou pela Casa Civil
eventual pedido de providência
de Lula para apurar a denúncia
de Jefferson sobre o mensalão.
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