São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE
Sem dinheiro para pagar salários e com a polícia fora das ruas, governador requisita ajuda ao governo federal
Buaiz ameaça pedir intervenção no ES

LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial a Vitória

Sem pagar o salário do funcionalismo há quatro meses e com o efetivo da PM aquartelado, o governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz (PV), ameaça pedir intervenção federal se não conseguir verbas do governo federal para pagar o funcionalismo.
"Se a polícia continuar aquartelada e a coisa começar a perder o controle, vou ter que chamar tropas federais", afirmou Buaiz, que disse já ter conversado com o ministro da Justiça, Renan Calheiros, sobre o assunto.
Na terça-feira, o funcionalismo público estadual entra em greve geral. Buaiz classifica a situação financeira do Estado como pré-falimentar e reclama que há 40 dias tenta, sem sucesso, falar com o presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o assunto.
O porta-voz-adjunto da Presidência, Georges Lamazière, afirmou ontem que o governo federal apoiou o Estado, mas que, "infelizmente, o governador Vitor Buaiz não teve as condições políticas necessárias para proceder o saneamento das contas".
"Caberá ao novo governador (José Ignácio, do PSDB) enfrentar o problema", afirmou Lamazière, em resposta à carta aberta a FHC sobre a crise que Buaiz publicou em jornais ontem.
O porta-voz confirmou o pedido de audiência, mas disse que, quando o encontro foi marcado pelo Palácio do Planalto, no último dia 10, Buaiz afirmou estar doente e enviou representantes.
Anteontem, acompanhado do presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz, e do presidente do Tribunal de Justiça, Wellington da Costa Citty, Buaiz foi a Brasília tentar se encontrar com o presidente.
Os três só conseguiram se encontrar com o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Pedro Parente. Pediram a liberação de R$ 115 milhões, que, segundo Buaiz, o governo deve ao Espírito Santo.
"Parente disse que esse dinheiro ia demorar a chegar porque dependia de uma tramitação burocrática", relatou Buaiz. "Isso é uma decisão política", reclamou.
A folha salarial é de cerca de R$ 90 milhões -quase 90% da receita. E há 45 mil pessoas com salários atrasados, incluindo pensionistas e aposentados.
O governador acena com o pagamento dos salários de julho e agosto. Mas, para isso, ele precisa contar com o repasse da venda da carteira de crédito da Cohab-ES (Companhia Habitacional do Espírito Santo), acertada anteontem com a Caixa Econômica Federal por R$ 48 milhões.
Mesmo assim, a greve está mantida, segundo o Sisead (Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta).
O Ministério Público e a Procuradoria Geral da República pretendem entrar, no início da próxima semana, com uma ação civil pública contra a União por "ruptura do pacto federativo". Até a semana passada, o Legislativo e o Judiciário estavam com os salários em dia.
˛ Aquartelamento
Ontem, os policiais em Vitória ficaram dentro dos quartéis fazendo serviços de rotina ou mesmo jogando cartas.
O secretário de Segurança Pública, Adão Rosa, fez um apelo aos policiais que voltem ao trabalho neste final de semana, mas não surtiu efeito.
Segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados do Estado, cabo Messias da Silva, a situação não se altera até haver uma proposta concreta do governo.
Rosa só conseguiu, após uma reunião no final da tarde, convencer os delegados de polícia a não aderir à greve geral na terça.
Ontem, a Associação Comercial do Espírito Santo disse que pretende distribuir, nos próximos três meses, 21 mil cestas básicas para as famílias dos 8.000 PMs.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.