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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DA FATURA
Advogados do empresário alegam que as dívidas "constituem fato público e notório'; CPI suspeita que empréstimos sejam de fachada
Valério cobra na Justiça R$ 100,6 mi do PT
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza, apontado
como operador do "mensalão",
recorreu à Justiça para cobrar do
PT os empréstimos que alega ter
feito para o partido: em duas
ações, ele exige R$ 100.582.166,35
da legenda, em valores corrigidos.
Como o PT não reconhece as dívidas, alegando que elas não estão
registradas e não foram aprovadas pela direção partidária, os advogados de Valério citam nas
ações artigos do Regimento Interno e do Estatuto do PT. Segundo
os advogados, o regimento dá à
Secretaria de Finanças da legenda,
então a cargo de Delúbio Soares,
poderes para arrecadar recursos
financeiros em nome do partido.
As ações, impetradas na última
sexta nas 10ª e 11ª Varas Cíveis da
Circunscrição Judiciária do Distrito Federal pelo escritório Rodolfo Gropen Advocacia, tratam
dos empréstimos tomados por
Valério para o PT e da parcela de
outro que ele pagou como avalista
do partido -R$ 55.941.227,81 e
R$ 351.508,20, respectivamente.
Antes de recorrer à Justiça, os
advogados do empresário dizem
ter feito "tentativas amigáveis" de
receber a dívida da direção do PT,
mas o partido não reconheceu as
dívidas que Valério contraiu nos
bancos Rural e BMG.
Na ação ordinária de cobrança
são cobrados os seis empréstimos
feitos para o PT em nome da
SMPB Comunicação, Graffiti participações e Rogério Lanza Tolentino e Associados (advogado e sócio de Valério). Os valores atualizados, conforme a petição, somam R$ 100.082.166,35. Essas dívidas foram contraídas entre fevereiro de 2003 e abril de 2004.
São R$ 55,9 milhões da dívida
original e mais R$ 44,1 milhões de
juros, atualização monetária e encargos financeiros (IOF e CPMF).
Na ação monitória, Valério pede que a Justiça reconheça ser ele
credor de R$ 500.769,00 e, a partir
disso, que seja executada a cobrança. Esse valor se refere a uma
parcela de um empréstimo de R$
2,4 milhões tomado no Banco
BMG pelo PT. A parcela, de R$
351 mil, foi paga por Valério, que
era avalista nesse empréstimo
juntamente com Delúbio e José
Genoino, ex-presidente do PT.
Um dos advogados de Valério,
João Manoel Martins disse que
nas ações eles procuram "se cercar de todos os lados", de forma a
contestar os argumentos do PT.
Eles afirmam que operações desse
tipo podem ser "objeto de contrato tácito ou mesmo verbal" e que
essas dívidas já "constituem fato
público e notório, [para] o qual a
lei processual civil dispensa a produção de provas", citando reportagens na imprensa sobre os empréstimos e os depoimentos nas
CPIs -especialmente os prestados por Delúbio, nos quais reconhece ter pedido os empréstimos.
Na ação, é citado o regimento
interno do PT para tentar derrubar a alegada falta de aprovação
da direção. Registraram o artigo
24, que diz que à Secretaria de Finanças do partido compete, entre
outras coisas, "propor, organizar
campanhas e meios de arrecadação de recursos para o partido".
Os advogados citam ainda o artigo 167 do estatuto do PT, que diz
que "as instâncias dirigentes, em
geral, e as secretarias de finanças,
em particular, são responsáveis"
pela criação "de formas e mecanismos que ampliem a arrecadação" e alegam que o estatuto "autoriza o tesoureiro-geral, que acumula a função de secretário-geral
de Finanças, a proceder, isoladamente, à contratação de operações financeiras em nome do PT".
Em tese, segundo Martins, se a
Justiça acatar os argumentos de
Valério, o PT será cobrado judicialmente e, se não pagar, poderá
ter bens e recursos financeiros penhorados. O advogado disse que
ações desse tipo podem demorar,
no mínimo, três anos.
A CPI dos Correios, que investiga o "mensalão", já levantou a
suspeita de que os empréstimos
seriam fachadas para acobertar
desvio de dinheiro público. O senador Delcídio Amaral (PT-MS),
presidente da CPI, declarou que a
tese dos empréstimos para caixa
dois "absolutamente não se sustenta". Um fato que reforça essa
suspeita são os recursos da Visanet transferidos pelo Banco do
Brasil à DNA, outra agência em
que Valério era sócio: ao menos
R$ 10 milhões dos valores transferidos estariam sem os serviços
prestados correspondentes.
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