São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Solenes, mas farsantes


Reuniões ministeriais têm por finalidade montar uma cena para dar à platéia ilusões de um governo em progressão


O GOVERNO prepara o importante ato convocado para amanhã pelo presidente da República: a reunião ministerial inauguradora do novo ano, com toda a pompa à altura de momento tão relevante.
A única frase que saiu de uma reunião ministerial para a história foi o "Às favas os escrúpulos!", do coronel Jarbas Passarinho (autor também do ponto de exclamação), na mesa e na hora em que era baixado o AI-5. O então coronel-ministro poderia emitir a mesma sentença muito antes, mas teve a intuição providencial de reservá-la até a ocasião em que ficaria, para sempre, e além de todo sentido pessoal, como um lema dos 21 anos de ditadura.
Por esse legado único, já se vê que as reuniões ministeriais são inutilidades solenes. Para a administração e para o interesse público. Sua finalidade é apenas a montagem de uma cena com mau script e piores atores, destinada a usar jornais e TV para dar à platéia as ilusões de um governo em progressão. Não há o que deva ser comunicado ao país que precise de reunião ministerial como cenário. E não há iniciativa de governo que não resulte de decisão definida entre uns poucos.
No caso do governo Lula, não há nada que possa ser produzido em reunião com 36 ministros (ou são 37, se já perdi a conta?). Assim como o que lá possa ser dito não devesse sê-lo ao próprio responsável pela área em questão, em uma troca de determinações e informações no velho e produtivo sistema de despacho de cada ministro com o presidente. Sistema bem resultante, mas trabalhoso, o que serve para explicar sua abolição no governo passado e a inexistência no atual. Getúlio, Juscelino, Jânio, Jango, Sarney, Itamar, e Geisel entre os militares, mantinham até dias certos para despacho da maioria dos ministros, vários deles toda semana.
Reuniões de ministério começam e acabam no interesse por suas aparências: são farsas.

Na testa
Posse de Edison Lobão no cargo de ministro laranja, com o honroso testemunho de Paulo Maluf e, melhor ainda, a exibida felicidade de Lula pelo acréscimo de qualidade frutificante que deu ao governo e à sua Presidência.
Sem que isso reduza esta constatação: nomear Edison Lobão com a crença, como faz Lula, de que está solucionando os problemas com sua "base" no Senado, é um ato de desinteligência política extremada. O desgaste que, por si mesmo, Edison Lobão já causou a Lula e ao governo, por receber na mais plena ignorância o problema interno mais inquietante - o risco de apagão energético-, tem preço impagável na opinião pública.
Mas Lobão não está só. Com ele, emergiu uma situação embaraçosa e mais agitadora no Senado, com a posse ou não-posse do suplente Edinho Lobão enrolado em denúncias, acusações, suspeitas e investigações. E quem lançou o Senado em tal situação foi Lula, o desejoso de fortalecer-se por lá.
Para arredondar a desinteligência política, é incrível que Lula & cia. não tenham notado o mais visível: a nomeação de Edison Lobão é indiferente aos insubordinados dos partidos da "base", os que não se sujeitam à orientação do Planalto. Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Mozarildo Cavalcanti, Mão Santa, que têm subvertido os esquemas governistas, com outros eventuais, tendem agora a posições ainda mais distantes do governo. A tese de que Lula precisou agradar ao senador José Sarney encontra três respostas: o custo foi muito alto, haveria soluções bem mais baratas; Roseana Sarney recebe do governo o destaque mais relevante no Congresso, e José Sarney não ficaria contra Lula, muito menos por Edison Lobão.


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