São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 1998

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DOMINGUEIRA
Confete e Futebol

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

O tédio carnavalesco abate-se sobre o país fantasiado de alegria. As mesmas peruas, as mesmas imagens, o mesmo bumbo. Enquanto na Bahia a Tropicália entra no ritmo da bunda music, no Rio espera-se que a Mangueira e Chico Buarque salvem a festa.
Num ano de Copa do Mundo e eleição, bem que Momo poderia ter saído de fininho.

Copa do Mundo é o próximo assunto da agenda nacional. E ao que parece a confusão continua imperando no mundo da bola. O grande debate do momento é se Zagallo deve ou não ter um auxiliar técnico. Bocejo.

Houve uma grande histeria na imprensa esportiva diante dos resultados do Brasil na Copa Ouro. De fato, foi ridículo, numa competição dispensável. Não parece ser o caso, porém, de tomar aqueles jogos como exemplo para crucificar Zagallo. Foi um time reunido às pressas, com jogadores ainda em início de temporada, muitos sem a menor chance de ir à Copa do Mundo.
As rivalidades entre modernizadores e conservadores acabam provocando distorções. Os primeiros aproveitam qualquer fiasco para atacar os segundos, que usam qualquer triunfo para defender seus métodos.
Da mesma forma que as vitórias internacionais do futebol brasileiro não comprovam um gerenciamento inteligente do esporte, maus resultados como esses da Copa Ouro não podem ser absolutizados, como prova cabal da incompetência do técnico e da CBF.

Agora, que Zagallo está bobeando, é certo. Deveria ter levado Giovanni e Amoroso para essa Copa Ouro, já deveria ter testado Marcelinho -é inexplicável que o jogador do Corinthians não tenha tido oportunidade numa seleção que envolveu mais de cem jogadores sem resolver o problema da meia-direita- e já deveria definido seu esquema de jogo.

Há quem acredite que discutir futebol é uma empobrecedora perda de tempo. Não creio. Quem acompanha o jogo sabe que ele encerra uma infinidade de possibilidades. A todo instante pode-se raciocinar abstratamente, em torno de modelos, observar os resultados práticos, retornar ao modelo, modificá-lo ou confirmá-lo. É um jogo de táticas, estratégias, talento individual, articulação coletiva, que reserva sempre espaço para aquilo que faz a vida ser interessante: o imponderável.




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