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Dossiê relaciona deputado a assassinatos
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
Dossiê elaborado por uma subcomissão do CDDPH (Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana), órgão do Ministério da
Justiça, aponta o envolvimento do
deputado federal Hildebrando
Pascoal Nogueira Neto (PFL-AC),
47, com um grupo de extermínio
responsável por pelo menos 30
mortes no Acre.
Testemunha ouvida pela Procuradoria da República no Acre afirma ter visto uma fita de vídeo com
imagens que apontam o deputado
como suspeito de decepar com
uma motosserra os braços de Agilson Santos Firmino, o "Baiano".
Agilson "Baiano" estaria envolvido na morte de Itamar Pascoal, irmão do deputado.
Coronel reformado da Polícia
Militar, Hildebrando Neto foi o segundo deputado mais votado no
Acre, tomou posse na Câmara no
último dia 1º e tem direito a imunidade parlamentar.
Desde o dia da posse, o desembargador Gercino José da Silva Filho, responsável por denúncias
contra grupo de extermínio no Estado, reforçou sua segurança devido a ameaças de morte.
A Folha obteve cópia do depoimento do traficante Waltemir
Gonçalves Oliveira, o "Palito", que
está preso em pendência da Polícia
Federal cumprindo pena por assalto e tráfico de drogas.
Em um trecho do depoimento,
prestado em 1998, "Palito" afirma:
"O homem que apanhou a motosserra na carroceria da camioneta
entregou-a ao homem com as características de ser o deputado Hildebrando Neto, e esse passou a decepar os braços da vítima, que era
o "Baiano"".
O corpo de "Baiano" foi deixado
na frente de uma emissora de TV
de Rio Branco (AC), com os braços
e as pernas decepados. Um dos
seus filhos, Wilder, de 13 anos, foi
encontrado morto com o corpo
parcialmente queimado.
"Palito" afirma ter comprado essa fita de um presidiário que teria
roubado cinco fitas de um sargento da PM ligado ao deputado.
O dossiê com denúncias contra
Hildebrando Neto será encaminhado à presidência da Câmara
dos Deputados. Ele está ameaçado
de perder o mandato por quebra
de decoro parlamentar e ter de responder a processos no Supremo
Tribunal Federal.
As investigações foram solicitadas por procuradores da República do Acre e por Gercino José da
Silva Filho, que foi presidente do
Tribunal de Justiça do Estado . Silva Filho pediu ao Ministério da
Justiça que investigasse uma série
de assassinatos no Acre cujas vítimas apresentavam em comum a
cabeça ou os membros decepados.
Gercino Filho deixou o cargo no
mesmo dia que Hildebrando ganhou imunidade como parlamentar. Passou a andar escoltado por
quatro PMs e dois agentes federais
por causa de ameaças feitas pelo
deputado em telefonemas grampeados pela PF.
Em conversa com um homem
não identificado, uma voz identificada como sendo a de Hildebrando diz que pretende matar o ex-presidente do tribunal: "Só tem
um jeito: é eu matar o Gercino no
meio da rua. Deixa esfriar um pouco mais. Quando der, eu vou matar
esse cara no meio da rua".
A hipótese de Hildebrando participar do grupo de extermínio ganhou força após a morte de José
Hugo Alves Júnior, outro suspeito
da morte do irmão do deputado.
Ele foi preso no Piauí pela PM e entregue a falsos policiais federais.
Antes do crime, Hildebrando
trocou telefonemas com o oficial
da PM do Piauí que prendeu o suspeito e o entregou aos falsos agentes federais. "O corpo foi banhado
em ácido", disse o delegado da PF
Wanderley Vasconcelos, que irá
indiciar o deputado e o oficial da
PM do Piauí.
O deputado teria mandado sequestrar e mantido em cárcere privado a mulher do suspeito. Além
disso, distribuiu cartazes, inclusive
no Piauí, oferecendo R$ 50 mil por
quem desse informações sobre o
paradeiro de José Hugo.
Em outra conversa grampeada,
Hildebrando Neto reclama do dono de uma oficina por ter revelado
à PF que o carro de José Hugo fora
apreendido por policiais militares.
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