São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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Dossiê relaciona deputado a assassinatos


ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

Dossiê elaborado por uma subcomissão do CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), órgão do Ministério da Justiça, aponta o envolvimento do deputado federal Hildebrando Pascoal Nogueira Neto (PFL-AC), 47, com um grupo de extermínio responsável por pelo menos 30 mortes no Acre.
Testemunha ouvida pela Procuradoria da República no Acre afirma ter visto uma fita de vídeo com imagens que apontam o deputado como suspeito de decepar com uma motosserra os braços de Agilson Santos Firmino, o "Baiano". Agilson "Baiano" estaria envolvido na morte de Itamar Pascoal, irmão do deputado.
Coronel reformado da Polícia Militar, Hildebrando Neto foi o segundo deputado mais votado no Acre, tomou posse na Câmara no último dia 1º e tem direito a imunidade parlamentar.
Desde o dia da posse, o desembargador Gercino José da Silva Filho, responsável por denúncias contra grupo de extermínio no Estado, reforçou sua segurança devido a ameaças de morte.
A Folha obteve cópia do depoimento do traficante Waltemir Gonçalves Oliveira, o "Palito", que está preso em pendência da Polícia Federal cumprindo pena por assalto e tráfico de drogas.
Em um trecho do depoimento, prestado em 1998, "Palito" afirma: "O homem que apanhou a motosserra na carroceria da camioneta entregou-a ao homem com as características de ser o deputado Hildebrando Neto, e esse passou a decepar os braços da vítima, que era o "Baiano"".
O corpo de "Baiano" foi deixado na frente de uma emissora de TV de Rio Branco (AC), com os braços e as pernas decepados. Um dos seus filhos, Wilder, de 13 anos, foi encontrado morto com o corpo parcialmente queimado.
"Palito" afirma ter comprado essa fita de um presidiário que teria roubado cinco fitas de um sargento da PM ligado ao deputado.
O dossiê com denúncias contra Hildebrando Neto será encaminhado à presidência da Câmara dos Deputados. Ele está ameaçado de perder o mandato por quebra de decoro parlamentar e ter de responder a processos no Supremo Tribunal Federal.
As investigações foram solicitadas por procuradores da República do Acre e por Gercino José da Silva Filho, que foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado . Silva Filho pediu ao Ministério da Justiça que investigasse uma série de assassinatos no Acre cujas vítimas apresentavam em comum a cabeça ou os membros decepados.
Gercino Filho deixou o cargo no mesmo dia que Hildebrando ganhou imunidade como parlamentar. Passou a andar escoltado por quatro PMs e dois agentes federais por causa de ameaças feitas pelo deputado em telefonemas grampeados pela PF.
Em conversa com um homem não identificado, uma voz identificada como sendo a de Hildebrando diz que pretende matar o ex-presidente do tribunal: "Só tem um jeito: é eu matar o Gercino no meio da rua. Deixa esfriar um pouco mais. Quando der, eu vou matar esse cara no meio da rua".
A hipótese de Hildebrando participar do grupo de extermínio ganhou força após a morte de José Hugo Alves Júnior, outro suspeito da morte do irmão do deputado. Ele foi preso no Piauí pela PM e entregue a falsos policiais federais.
Antes do crime, Hildebrando trocou telefonemas com o oficial da PM do Piauí que prendeu o suspeito e o entregou aos falsos agentes federais. "O corpo foi banhado em ácido", disse o delegado da PF Wanderley Vasconcelos, que irá indiciar o deputado e o oficial da PM do Piauí.
O deputado teria mandado sequestrar e mantido em cárcere privado a mulher do suspeito. Além disso, distribuiu cartazes, inclusive no Piauí, oferecendo R$ 50 mil por quem desse informações sobre o paradeiro de José Hugo.
Em outra conversa grampeada, Hildebrando Neto reclama do dono de uma oficina por ter revelado à PF que o carro de José Hugo fora apreendido por policiais militares.


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