São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Banco avalia que não terá tempo hábil para substituir multinacional em maio de 2005

Caixa admite manter GTech mesmo após fim de contrato

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A menos de 14 meses do final do polêmico contrato com a GTech para processamento on-line de dados das casas lotéricas, a Caixa Econômica Federal considera a possibilidade de não poder se desfazer em maio do ano que vem da parceria iniciada em 1997 e que rende cerca de R$ 25 milhões por mês à multinacional.
Segundo avaliação da Superintendência de Projetos Especiais da Caixa, serão necessários pelo menos 18 meses para substituir as operações da GTech. O prazo é contado a partir do início da licitação dos novos prestadores de serviços. E a licitação continua barrada por ações movidas pela própria multinacional na Justiça.
"Caso precise, [a Caixa] poderá estender total ou parcialmente a prestação de serviços pela GTech pelo prazo necessário à implantação do novo modelo", afirmou o banco estatal em resposta a uma consulta da Folha. "A Caixa não permitirá a paralisação dos serviços das loterias", disse o banco por meio da assessoria.
O contrato assinado em 8 de abril do ano passado, que renovou por 25 meses a parceria entre Caixa e GTech, permite a interrupção dos serviços já em outubro deste ano, com 18 meses de contrato. Essa hipótese, no entanto, estaria descartada mesmo que a licitação de novos serviços já estivesse concluída.
"A partir da finalização do certame licitatório, serão necessários 12 meses para trocar, com segurança e sem interrupção do serviço, todas as máquinas e sistemas de telecomunicações, de logística e de suporte para que as 9.000 casas lotéricas continuem funcionando normalmente", diz a estatal. Desde 2000, quando aprovou um novo modelo tecnológico e de operação para o sistema de loterias, a Caixa tenta substituir os serviços da GTech. Começa aí a batalha entre o banco e a empresa na Justiça, ainda sem desfecho.
Em maio de 2002, a diretoria adotou um novo modelo, que centraliza no próprio banco a inteligência do processo. Desde então, foram investidos quase R$ 45 milhões na compra de equipamentos para comunicações e processamento de dados e desenvolvimento de softwares. Esse sistema não tem autonomia, porém, para ocupar o espaço da GTech, segundo avaliação da Caixa.
Enquanto a Justiça não libera as licitações para a compra de 25 mil computadores, por exemplo -a GTech quer que a licitação admita a venda em bloco dos serviços, na qual teria preferência-, a Caixa trata de montar uma rede paralela de correspondentes bancários.
Esses pontos poderão abrigar farmácias populares, uma proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral, para venda de medicamentos a preços subsidiados. A idéia está em estudo no Ministério da Saúde.
Até o final do mandato de Lula, em 2006, a Caixa espera ter instalado 10 mil correspondentes bancários, cuja tecnologia é desenvolvida pelo próprio banco e onde são pagos benefícios sociais e cobradas contas de serviços públicos. No total, serão mais postos que as atuais 9.000 lojas lotéricas do país, cujos dados são processados pela GTech. A multinacional tem planos de continuar operando a rede de loterias no Brasil depois do prazo final do contrato. A sua renovação até maio de 2005 foi objeto de polêmica negociação concluída em 8 de abril de 2003.
Executivos da GTech afirmam que o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz intermediou a renovação. Segundo depoimento deles à Polícia Federal, Waldomiro pediu que a empresa contratasse os serviços de consultoria de Rogério Buratti em troca de lobby a favor da renovação do contrato com a Caixa. A Caixa nega interferência externa. Buratti foi secretário do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) quando ele era prefeito de Ribeirão Preto (SP).


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