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SOMBRA NO PLANALTO
Banco avalia que não terá tempo hábil para substituir multinacional em maio de 2005
Caixa admite manter GTech mesmo após fim de contrato
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A menos de 14 meses do final do
polêmico contrato com a GTech
para processamento on-line de
dados das casas lotéricas, a Caixa
Econômica Federal considera a
possibilidade de não poder se desfazer em maio do ano que vem da
parceria iniciada em 1997 e que
rende cerca de R$ 25 milhões por
mês à multinacional.
Segundo avaliação da Superintendência de Projetos Especiais
da Caixa, serão necessários pelo
menos 18 meses para substituir as
operações da GTech. O prazo é
contado a partir do início da licitação dos novos prestadores de
serviços. E a licitação continua
barrada por ações movidas pela
própria multinacional na Justiça.
"Caso precise, [a Caixa] poderá
estender total ou parcialmente a
prestação de serviços pela GTech
pelo prazo necessário à implantação do novo modelo", afirmou o
banco estatal em resposta a uma
consulta da Folha. "A Caixa não
permitirá a paralisação dos serviços das loterias", disse o banco
por meio da assessoria.
O contrato assinado em 8 de
abril do ano passado, que renovou por 25 meses a parceria entre
Caixa e GTech, permite a interrupção dos serviços já em outubro deste ano, com 18 meses de
contrato. Essa hipótese, no entanto, estaria descartada mesmo que
a licitação de novos serviços já estivesse concluída.
"A partir da finalização do certame licitatório, serão necessários
12 meses para trocar, com segurança e sem interrupção do serviço, todas as máquinas e sistemas
de telecomunicações, de logística
e de suporte para que as 9.000 casas lotéricas continuem funcionando normalmente", diz a estatal. Desde 2000, quando aprovou
um novo modelo tecnológico e de
operação para o sistema de loterias, a Caixa tenta substituir os
serviços da GTech. Começa aí a
batalha entre o banco e a empresa
na Justiça, ainda sem desfecho.
Em maio de 2002, a diretoria
adotou um novo modelo, que
centraliza no próprio banco a inteligência do processo. Desde então, foram investidos quase R$ 45
milhões na compra de equipamentos para comunicações e processamento de dados e desenvolvimento de softwares. Esse sistema não tem autonomia, porém,
para ocupar o espaço da GTech,
segundo avaliação da Caixa.
Enquanto a Justiça não libera as
licitações para a compra de 25 mil
computadores, por exemplo -a
GTech quer que a licitação admita
a venda em bloco dos serviços, na
qual teria preferência-, a Caixa
trata de montar uma rede paralela
de correspondentes bancários.
Esses pontos poderão abrigar
farmácias populares, uma proposta do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva durante a campanha
eleitoral, para venda de medicamentos a preços subsidiados. A
idéia está em estudo no Ministério da Saúde.
Até o final do mandato de Lula,
em 2006, a Caixa espera ter instalado 10 mil correspondentes bancários, cuja tecnologia é desenvolvida pelo próprio banco e onde
são pagos benefícios sociais e cobradas contas de serviços públicos. No total, serão mais postos
que as atuais 9.000 lojas lotéricas
do país, cujos dados são processados pela GTech. A multinacional
tem planos de continuar operando a rede de loterias no Brasil depois do prazo final do contrato. A
sua renovação até maio de 2005
foi objeto de polêmica negociação
concluída em 8 de abril de 2003.
Executivos da GTech afirmam
que o ex-assessor do Planalto
Waldomiro Diniz intermediou a
renovação. Segundo depoimento
deles à Polícia Federal, Waldomiro pediu que a empresa contratasse os serviços de consultoria de
Rogério Buratti em troca de lobby
a favor da renovação do contrato
com a Caixa. A Caixa nega interferência externa. Buratti foi secretário do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) quando ele era
prefeito de Ribeirão Preto (SP).
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