São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004 |
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GOVERNO EM DISPUTA Presidente decide intervir no gerenciamento dos ministérios para tentar acabar com paralisia e queixas Lula e ministros discutem agenda contra crise
KENNEDY ALENCAR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Contrariado com a paralisia do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai interferir diretamente nesta semana no gerenciamento dos ministérios para combater o imobilismo administrativo. Entre hoje e amanhã, Lula terá reunião com a coordenação de governo, grupo que reúne seus principais ministros. Também se encontrará com o ministro José Dirceu (Casa Civil) para debater uma "agenda de emergência". Essa "agenda" está sendo preparada pelo chefe da Casa Civil, que tem falado com diversos ministros desde a semana passada para indagar quais são as pendências prioritárias de cada pasta. Lula também passará a dar mais audiências individuais a ministros, entre eles Roberto Rodrigues (Agricultura). Rodrigues se queixou diretamente a Dirceu na semana passada da paralisia administrativa. O dia da audiência não estava marcado até ontem. Segundo palavras de quem falou com Lula no final de semana, "ele está profundamente irritado" com a morosidade administrativa. Lula, por exemplo, dá razão ao ministro da Agricultura no desentendimento com o colega Guido Mantega (Planejamento). Lula deverá atender aos pleitos de Rodrigues, ainda que em parte. Também cobrará de Dirceu e Mantega que agilizem decisões que afetam outras pastas. Lula fez a reforma ministerial em janeiro para tentar melhorar justamente sua ação administrativa, mas o caso Waldomiro Diniz veio em seguida e até acentuou tal imobilismo, pois afetou diretamente Dirceu, o gerente do governo. Enfraquecido desde que Waldomiro, ex-subchefe de Assuntos Parlamentes da Casa Civil, apareceu em vídeo de 2002 pedindo recursos para campanhas eleitorais e para si, Dirceu sentiu o golpe e não tocou bem o gerenciamento. Sobrevivência política O ministro da Casa Civil se dedicou muito mais à própria sobrevivência política, aumentando a dependência do governo em relação a aliados fisiológicos, como o PMDB e setores do PFL, para evitar CPIs no Congresso. A reação administrativa de Dirceu só começou mesmo na semana passada, mais de um mês após o caso Waldomiro, quando ele passou a montar a "agenda de emergência" diante do acúmulo na sua própria pasta de assuntos que precisava decidir. O próprio presidente também chegou a cobrar do chefe da Casa Civil uma "agenda de governo". Na sexta-feira passada, por exemplo, Lula pediu aos ministros que retomassem obras federais paralisadas, de acordo com relato do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional). Também contrariou Lula a proposta apresentada pelo ministro Amir Lando (Previdência) de aumentar a contribuição previdenciária para pagar dívida de R$ 12,3 bilhões com aposentados. A péssima repercussão não foi avaliada corretamente pelo próprio governo, crê Lula, e evidencia erro gerencial. Ainda anteontem o governo informou que Lula já definiu que não haverá aumento da parcela da contribuição. No entanto, o desentendimento entre Rodrigues e Mantega é o reflexo recente mais claro dessa paralisia. Na última sexta-feira, a Folha revelou que Rodrigues se queixara dois dias antes a Dirceu da morosidade para resolver "três questões centrais, graves e pendentes" de sua pasta. Duas delas dependiam de decisão da pasta de Mantega. Uma delas, da Fazenda. Rodrigues disse a Dirceu que estava "difícil" tocar e, no mesmo dia, fez desabafo em reunião com parlamentares. Anteontem, o jornal "O Globo" relatou que Rodrigues xingou Mantega, usando palavrões. Em nota, o ministro da Agricultura confirmou o "desabafo", mas negou os palavrões. Para terminar a rusga entre Rodrigues e Mantega, Lula acionou anteontem o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), que conversou com ambos e articulou a nota de Rodrigues sobre o episódio, por exemplo. Texto Anterior: Comissão decide hoje se finalizará relatório Próximo Texto: Esquerda do PT prega mudanças e afirma que vai pressionar mais Índice |
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