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ELIO GASPARI
Depois da farsa petista,
a farsa tucana
Quem acreditou no monopólio da ética pela nação petista fez papel de bobo e,
com razão, zangou-se. Só falta
agora que essas mesmas pessoas
resolvam acreditar no monopólio da ética pelo tucanato. Em
matéria de parolagem, vem aí
uma sucessão presidencial onde
se encontrarão Geraldo Alckmin e seu "banho de ética" e Lula com sua megalomania: "Está
para nascer alguém que venha
discutir ética comigo".
Tome-se um exemplo destes
dias, quando se discute a palavra do caseiro Francenildo Costa, aquele que chama Antonio
Palocci de mentiroso. Que opinião uma pessoa formará desse
cidadão depois de ler o seguinte
diálogo:
- No sábado, eu tô ai. (...)
- Taí, se esse dinheiro sair, você pega uma boa bolada. (...)
- Quanto o senhor tem? Seis, é?
- (...) Tenho não. Dá uns dois.
Pode formar a opinião que
quiser, porque Francenildo não
tem nada a ver com essa conversa. Ela reproduz um trecho da
gravação de uma cabala do deputado federal Domiciano Cabral, do PSDB-PB, com o empresário Julião Medeiros, seu sogro.
(A Paraíba é governada pelo tucano Cássio Cunha Lima.)
O diálogo, gravado pela Polícia Federal com autorização judicial e divulgado no sábado pelo repórter Felipe Patury, não
mereceu um só comentário da
casa de banhos do PSDB. Na
tarde de ontem, passados quatro dias da revelação, a página
que o partido mantém na internet tinha 32 notícias. Vinte e seis
referiam-se às roubalheiras-companheiras. Nenhuma mencionava Domiciano Cabral.
Nem para que ele se defendesse.
É a lógica do barão de Araruna (Osmar Prado na novela das
seis), não se discute maracutaia
da casa-grande na frente dos
criados.
O PSDB repete a empulhação
petista. Proclama-se monopolista da ética e manda ver. Quer
colocar seu candidato no Planalto julgando-se beneficiado
por um habeas caixa concedido
pelo Padre Eterno. Fez isso no
ano passado, quando impôs à
choldra a permanência do senador Eduardo Azeredo na presidência do partido. Ele fora o cabeça de uma coligação partidária que recebeu R$ 9 milhões das
arcas valérias. Pode-se admitir
o argumento segundo o qual esse ervanário referia-se à campanha de 1998. Pode-se até admitir
que, com a candidatura de
Alckmin, a conta deveria começar no zero. Pois bem: o doutor
Domiciano Cabral está na jurisdição básica de Alckmin.
O PSDB quer derrubar Palocci
(a quem dedicou interessada
idolatria, ao tempo em que até o
caseiro Nildo sabia de seus feitos
valorosos). É uma idéia. Querem encurralar o governo, confrontando-o com a prepotência
que cultiva. É uma ótima idéia.
Desde que não toquem trombetas no proscênio para fazer
acordos nas coxias. Noves fora,
a proteção dada a Palocci pelos
grão-tucanos, o deputado João
Paulo Cunha foi presenteado no
Conselho de Ética com uma indulgência do deputado Bosco
Costa (PSDB-SE). Nenhum tucano mostrou-se surpreso nem o
partido noticiou o feito.
Uma coisa é lutar contra a
corrupção, bem outra é manipular essa luta. Essa foi a principal bandalheira petista. O surto
moralista dos tucanos é falso como os depoimentos dos comissários petistas nas CPIs. Suas denúncias devem ser estimuladas,
pois é preferível um PSDB denunciando Palocci a seus senadores defendendo-o. O que não
se deve é acreditar na animação
desse baile de solteironas. Muito
menos em "banho de ética". A
um banho desses, é preferível
lamber sabão.
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