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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

Palmas

O governo Lula e, nele, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, conquistaram um êxito importante, por certo o maior dos alcançados nos quase cinco meses desde a sua posse. Apesar do que mostram os dados mais recentes do IBGE -continuada redução dos postos de trabalho, forte diminuição do montante de salários na indústria, produção industrial desacelerada, queda do poder aquisitivo, retração acentuada nas vendas do comércio-, o governo teve a coerência necessária para desprezar tudo isso e preservar os juros que empobrecem o país e o povo, mas mantêm a lucratividade dos bancos como recordista mundial, longe das demais.
Espantosa é a desatenção aos empresários, incluído o próprio vice-presidente José Alencar, que reivindicaram o início da queda dos juros. Luiz Inácio Lula da Silva não lhes disse, com a sinceridade nunca posta em dúvida, que eram só "bravatas de oposição" todas as suas críticas aos juros sufocantes, ao desemprego, à queda da produção e à falta de crescimento econômico? Ora, mas que gente. É incrível que continuem a não entender uma mensagem tão simples como "esqueçam tudo o que eu disse".
Com sua incoerente persistência em ser um homem de palavra, ou seja, uma espécie de lulista fora de moda, o vice José Alencar vai ao exagero de se preocupar com o dinheiro que é desviado, pelo governo, de necessidades públicas para remuneração dos juros: "Cada 1% de juros representa a perda de R$ 700 milhões de dinheiro público. Não podemos aceitar isso". O vice é uma pessoa superada, ainda não passou do 31 de dezembro para 1º de janeiro em que toda a dramaticidade da situação brasileira foi submetida aos conceitos do presidente do Banco Central.
É isso mesmo, só dele, entre os que são do governo. A reunião, ontem, do Comitê de Política Monetária, o tal Copom, para decidir sobre os juros foi, apenas, uma farsa. Já na véspera, ao encerrar a reunião ministerial, um pequeno trecho de uma frase de Lula indicava que a decisão sobre os juros estava fixada: "(...) não dá para baixar essas taxas, e não se pode fazer isso com bravata".
Claro que não. Bravatas só durante 20 anos, sobretudo em campanha eleitoral, para chegar ao governo. Mas, pelo menos do vice José Alencar, ainda se pode comprar um carro usado.
PS - Não esqueci o mérito, no grande êxito da coerência governamental, do ministro Antonio Palocci. Nos últimos dias ele foi tão elogiado pelo FMI, por sua política contrária ao crescimento econômico, que os confetes daqui nada lhe significariam.


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