São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Geddel ataca ministro; Maguito lista acusações de corrupção e pede rompimento

PMDB amplia conflito com governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de o líder peemedebista na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), ter se envolvido num bate-boca com dois ministros, o PMDB ampliou ontem os focos de conflito com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sem aviso prévio, o presidente interino da sigla, senador Maguito Vilela (GO), subiu à tribuna do Senado para pregar o rompimento do PMDB com FHC e responder a afirmações do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), segundo as quais haveria uma "banda podre" na legenda.
"No momento em que essa tese [ruptura do PMDB com o governo] torna-se majoritária no partido, renovo esse desejo de que os ministros peemedebistas entreguem seus cargos já", disse.
O senador, que substitui Jader Barbalho (PA) na presidência do partido, é defensor da candidatura de Itamar Franco à Presidência da República em 2002. Maguito integra o grupo político do senador Iris Resende (GO), que sustenta um ministro no governo FHC: Ovídio de Ângelis, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Ovídio não dá indicações de que pretenda abandonar o cargo.
Ao contrário de Maguito, Geddel é integrante da cúpula do PMDB, solidária a FHC e que trabalha para inviabilizar a candidatura de Itamar pela sigla. Mas está incomodado com a falta de reciprocidade do governo, que continua prestigiando seus adversários pefelistas na Bahia. Essa foi a origem do bate-boca que Geddel teve anteontem com os ministros Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral) e José Serra (Saúde).
Ontem, o peemedebista voltou a atacar Aloysio porque o ministro não desencadeou a mudança de cargos federais na Bahia, após a derrocada do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"O Aloysio tem um estilo de administrar no gerúndio, o que prejudica o governo. É um estilo "eu tô fazendo, tá saindo, vai em frente, volte para trás" (sic). Não concordo. Expõe e desgasta as pessoas", afirmou Geddel.
Para o peemedebista baiano, o coordenador político do governo não dá respostas definitivas a reivindicações dos aliados, o que desgasta os líderes nas bancadas. Essas reivindicações são vistas como importantes para os governistas terem cacife a fim de enfrentar os itamaristas no partido.
Ao saber das críticas de Geddel, Aloysio reagiu: "É extremamente espinhoso coordenar uma coalizão ampla com conflitos regionais que se exacerbam devido às eleições de 2002. Os contendores procuram o governo para esmagar um adversário regional que é aliado no plano federal".
Revelando um certo cansaço com as futricas regionais, o ministro disse, com ironia: "Se fosse capaz de unir os três partidos [PSDB, PFL e PMDB" e pacificar todos os conflitos regionais, seria forte candidato a presidente, não o ministro que está batendo boca com Geddel Vieira Lima".

Correntes do PMDB
Já o discurso de Maguito foi criticado pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que, aliás, é um dos interlocutores de Itamar na cúpula peemedebista: ""Maguito fala o que ele pensa e não necessariamente o que o partido pensa. Para expressar a média do pensamento do partido, deveria ouvir as várias correntes".
Durante sua intervenção no Senado, Maguito manteve um diálogo áspero com o líder do governo, Romero Jucá (PSDB-RR), que o acusou de estar "embotado por questões de disputa local no seu Estado". Maguito é adversário do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.
Incomodou particularmente o PSDB Maguito relacionar uma série de acusações de corrupção contra o governo tucano, do Proer (o programa de socorro aos bancos) à obra do Fórum Trabalhista de São Paulo. ""Se existem acusações levianas e sem provas contra o PMDB, esse clima não deve levar também a qualquer tipo de acusação contra o governo", rebateu Jucá. O tumulto peemedebista incomoda o governo, que já admite não contar com a legenda em 2002.



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