São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO

Fernanda Somaggio prestou novo depoimento à PF na noite de ontem; segundo advogado, ela contará na CPI dos Correios o que disse

Ex-secretária de Valério diz que foi ameaçada

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza na SMPB Comunicação, disse que a entrevista que deu à revista "IstoÉ Dinheiro" não foi distorcida. Quando indagada se isso ocorreu, já que recuara depois em depoimento na Polícia Federal, respondeu: "Não, não".
Em novo depoimento prestado ontem à noite à PF, Somaggio falou por cerca de uma hora e meia, disse seu novo advogado [desde a última segunda], Rui Caldas Pimenta. Segundo ele, a ex-secretária foi "convocada por meio de um telefonema" para comparecer à PF. Ele, porém, não explicou os motivos, já que, pelo horário do depoimento, que começou por volta das 19h30, a entrevista que ela concedera à tarde na TV Globo de Belo Horizonte ainda não tinha ido ao ar.
De acordo com Pimenta, Somaggio confirmou à polícia o que dissera à "IstoÉ Dinheiro", sobre as supostas "malas de dinheiro" e as relações do seu ex-patrão com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral da sigla, Sílvio Pereira. Somaggio está sendo processada por Valério por tentativa de extorsão.
O advogado também disse que foi solicitada proteção policial para sua cliente, já que ela sofreu ameaças e, por isso, teria negado as informações no depoimento que prestou à PF na semana passada. Ele disse que a PF vai dar a segurança. Ninguém na PF foi encontrado ontem à noite para comentar o novo depoimento.
Pimenta disse que tudo que Somaggio falou à PF será dito à CPI dos Correios e ao Conselho de Ética da Câmara. Indagado se a ex-secretária de Valério tinha documentos, ele afirmou: "A prova é ela, porque ela é a testemunha".
Como parte da sua estratégia na defesa no processo que Valério move contra Somaggio por suposta "extorsão", segundo o advogado, está a entrevista que ela concedeu ontem ao "Jornal Nacional" da TV Globo.
Na entrevista de ontem, a ex-secretária reafirmou as informações que estavam na revista "IstoÉ Dinheiro". Além disso, acrescentou novas revelações ao caso.
Disse que, em outubro ou novembro de 2003, acompanhou um depósito de R$ 50 mil da empresa de Valério na conta do ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, tendo providenciado o contato com a pessoa que lidava com Pimenta.
Ao "Jornal Nacional", o ex-ministro disse que a quantia se referia a honorários advocatícios, de quando começou a trabalhar para a SMPB em 2003, um ano após ter deixado o governo FHC.
Somaggio ainda disse que presenciou o despacho de dinheiro para um homem que foi à agência identificando-se como irmão de Anderson Adauto, ex-ministro dos Transportes. Ela afirma que não sabe precisar a quantia, mas que era "em torno de R$ 100 mil, R$ 150 mil". Ao "Jornal Nacional", Adauto disse que seu envolvimento com a agência era devido ao planejamento de sua campanha a prefeito de Uberaba, que a SMPB havia feito.
Questionada sobre qual caso mais a intrigou dentro da empresa, Somaggio disse que foi em relação à licitação dos Correios, vencida pela SMPB. "Chamou atenção porque antes de sair o resultado [da licitação] a festa para a empresa já estava pronta. Já havia festa marcada. Festa regada a Moet Chandon."
Em nota, a SMPB negou todas as acusações feitas pela ex-secretária. A assessoria de Marcos Valério disse que ele só se pronunciará na Justiça.

Depoimento
A Folha solicitou ao advogado uma entrevista com a secretária. Ele disse que ontem não seria possível porque não sabia onde ela estava, mas que ela poderá falar hoje. O telefone da casa dela não foi atendido durante toda a tarde e noite de ontem. O advogado disse que a Procuradoria em Minas também já entrou em contato para tomar seu depoimento.
Sobre a ameaça que ela disse ter recebido, o advogado afirmou: "Ela me disse que foi intimidada. Um motoqueiro avisou que, se ela confirmasse a entrevista, a filha dela ia ser seqüestrada." À Globo, Somaggio confirmou o episódio.
Com a Folha, pela manhã, ela disse que não retirou nenhum documento da agência. Disse que a agenda onde anotava os compromissos de Valério, que entregou à PF, era um objeto de propriedade sua. Devido a um documento publicado pela revista, sobre o suposto pagamento de honorários a Pimenta da Veiga, Valério entrou na Justiça com acusação de fraude qualificada. Quer que isso entre no processo que ela responde.


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