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Renan agora aposta em impasse para esfriar caso
Aliados de senador querem tirar proveito de limitações do conselho para investigar
Nova estratégia é envolver a Procuradoria Geral da República para tentar
diminuir o desgaste político de apuração feita no Senado
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sem conseguir arquivar de
forma sumária o processo contra si na Casa, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), aposta agora nas
limitações legais que a Polícia
Federal e o Conselho de Ética
têm para investigá-lo. Ontem, o
conselho não conseguiu nomear um relator para o caso.
Aliados do senador pretendem criar um impasse que resulte no envio do caso para a
Procuradoria Geral da República. Essa é uma tentativa de diminuir o desgaste político de
uma apuração conduzida pelo
próprio Senado.
Renan tem foro privilegiado
e apenas o procurador-geral da
República poderia pedir ao Supremo Tribunal Federal, se for
o caso, investigação criminal
contra o presidente do Senado.
Por meio de sua assessoria, o
procurador-geral da República,
Antonio Fernando Souza, disse
que "está acompanhando o caso e tomará a medida que for
necessária no momento que
considerar oportuno". A PF informou, também por meio de
sua assessoria, estar pronta a
proceder a quaisquer medidas
requeridas pelo Senado, pelo
procurador-geral da República
ou pelo Supremo.
Renan e aliados pretendem
conduzir as investigações em
"banho-maria" e tentar melhorar o ambiente na Casa. "Se é
para analisar documentos tem
que ser com calma", disse o líder do PMDB, senador Valdir
Raupp (RO). "Não tem angústia", disse o líder do governo,
senador Romero Jucá (RR).
Um sinal do esfriamento do
processo é que já se admitia ontem que Renan prestasse esclarecimentos ao conselho por escrito, e não mais pessoalmente.
Assim, ele não correria o risco de complicar sua situação ao
responder perguntas sem conhecimento prévio. "Há possibilidade de as perguntas serem
enviadas por escrito", declarou
o presidente do conselho, senador Sibá Machado (PT-AC).
Sem relator
Há ainda outro empecilho
nos trabalhos do órgão: ausência de um relator e a dificuldade
de encontrar alguém disposto a
assumir a função. O senador
Wellington Salgado (PMDB-MG) abandonou a relatoria anteontem depois de o conselho
se recusar a votar o arquivamento do processo. Antes, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) havia se licenciado alegando problemas de saúde.
Uma das saídas consideradas
por Sibá ontem era nomear
uma comissão de três senadores para conduzir as investigações. A avaliação é que a comissão diluiria o desgaste e facilitaria a tarefa de encontrar senadores para a função.
A próxima tarefa do conselho
é definir os limites para a Polícia Federal continuar a perícia
nos documentos apresentados
pela defesa. A análise da autenticidade dos papéis não foi concluída. Em relatório preliminar, a PF afirma que Renan não
conseguiu provar a venda de
1.060 cabeças de gado.
Senadores afirmam, porém,
que a PF só pode checar se os
documentos são verdadeiros.
Para avançar nas investigações
seria preciso autorização do
Supremo. "Hoje [ontem] tive
uma reunião com peritos [da
PF] para saber o que precisam
para investigar [o senador Renan]. Eles me declararam: nós
não estamos investigando o senador porque isso não é possível. Só com abertura de inquérito e com ordem do Supremo",
disse o corregedor do Senado,
Romeu Tuma (DEM-SP).
Tuma deu exemplos do que
significa essa limitação. "Eles
não podem ir ao açougue de
Alagoas, por exemplo, para
quem Renan alega ter vendido
parte de seu gado. Não tem um
inquérito", afirmou ele.
Outro ponto a favor de Renan é que o conselho não tem
poder para quebrar sigilos.
Também não pode convocar
testemunhas, só convidá-las.
"O conselho vai fazer o quê?
Analisar contas de quem comprou gado?", questionou Jucá.
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