São Paulo, Terça-feira, 22 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO
Órgão será chefiado por superintendente ligado ao ex-diretor Chelotti
Planalto escolhe diretor da PF com aval de Calheiros

da Sucursal de Brasília

O Palácio do Planalto anunciou ontem que o novo diretor-geral da Polícia Federal será Agílio Monteiro Filho, que ocupa a superintendência do órgão em Minas Gerais há cinco anos e meio. A posse será quinta-feira, às 11h, no Ministério da Justiça.
O nome de Monteiro Filho não constava da lista de opções entregue a FHC pelo ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso.
A área de inteligência do governo passou um "pente fino" na biografia do novo diretor para evitar um novo constrangimento como foi a nomeação do delegado João Batista Campelo, acusado de prática de tortura em 1970.
O nome foi anunciado pelo porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, às 21h10, enquanto o ministro da Justiça, Renan Calheiros, estava reunido com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ministro, que havia chegado ao Palácio alguns minutos antes, foi embora menos de meia hora depois do anúncio.
"Foi a melhor solução. Foi uma boa escolha. Gostei do nome. É um nome acima de grupos e atende aos critérios que eu sempre defendi", disse Calheiros.
Ele não quis dizer se Agílio Monteiro Filho era seu indicado, mas a Folha apurou que o nome era uma das opções que ele vinha estudando desde a saída de Vicente Chelotti da PF, em março passado.
Segundo o Palácio do Planalto, a escolha foi feita em conjunto pelo presidente e pelo ministro, a quem Monteiro Filho é subordinado.
Monteiro Filho construiu carreira em Belo Horizonte, onde nasceu. Tem 52 anos, é negro e pai de três filhos. Virou agente da PF em 1973 e delegado, cinco anos depois. A PF informou que, como delegado, ele foi diretor do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em Minas, mas não disse em que data.
O grupo Tortura Nunca Mais, do Rio, informou que vai vasculhar seus arquivos hoje para emitir uma opinião sobre o novo diretor.
Depois, chefiou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes no Estado e foi vice-superintendente da PF mineira. No governo Itamar Franco, foi nomeado superintendente regional pelo então chefe da PF, Wilson Romão.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Jorge Venerando, disse, após saber da escolha, que o nome é uma "continuidade da administração Chelotti". Segundo ele, o nome de Agílio era um dos preferidos de Chelotti para sua sucessão.
Monteiro Filho foi um dos dois superintendentes regionais da PF mantidos pelo ex-diretor-geral quando ele assumiu o cargo.
A escolha do novo diretor da PF ocorre depois de uma crise no governo gerada pela escolha de Campelo. Ele pediu demissão na sexta-feira depois de apenas três dias no cargo -ontem, o governador Neudo Campos (PPB-RR) anunciou que ele voltará a ser secretário da Segurança do Estado.
Campelo não resistiu às pressões políticas de aliados do governo e dos grupos de defesa dos direitos humanos depois que o ex-padre José Antônio Monteiro o acusou de ter comandado sessão de tortura contra ele em 1970.
As denúncias sobre a participação do diretor da PF em sessões de tortura inviabilizaram sua permanência no cargo. A demissão foi precipitada pela pressão de aliados do governo. O PSDB chegou a pedir a FHC que o demitisse.
A crise em torno de Campelo havia começado antes da denúncia de tortura. O ministro Renan Calheiros foi preterido quando Campelo foi escolhido a despeito de sua preferência pelo delegado Wantuir Jacini. A decisão provocou um conflito entre o governo e o PMDB, partido de Calheiros, que se considerou discriminado.
Na sua curta passagem pela PF, Campelo não chegou a despachar com Calheiros, que lhe deu uma posse protocolar no último dia 15. Com a saída de Campelo, Calheiros passou a defender uma solução técnica para a vaga.
Outros nomes cotados para o comando da PF foram preteridos. Entre eles, o atual superintendente no Distrito Federal, Paulo Gustavo de Magalhães Pinto, o delegado Zulmar Pimentel e Ney Cunha e Silva, chefe da Divisão de Crime Organizado e Inquéritos Especiais. Pimentel era o preferido do chefe da Casa Militar, Alberto Cardoso.


Texto Anterior: Pimenta faz críticas à "paralisia" do Congresso
Próximo Texto: Janio de Freitas: Procura-se o procurador
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.