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JANIO DE FREITAS
Procura-se o procurador
Encoberto pelo que sempre fora,
antes dos prodígios da atual Presidência, a comum nomeação de um
diretor de polícia, está armado e
despercebido um problema semelhante àquele, na causa, porém
muito mais grave, pela dimensão
de suas implicações institucionais.
No mesmo ritmo que lhe exigiu
três meses para a providência de
nomear um diretor da Polícia Federal, Fernando Henrique Cardoso deixou esgotar-se o prazo hábil
para a nomeação do procurador-geral da República: o mandato de
Geraldo Brindeiro expira na segunda-feira, 28.
O preenchimento desse cargo
não depende apenas da nomeação, ato este, aliás, já suficiente
para provocar pane na Presidência. O escolhido precisa passar,
primeiro, pela chamada sabatina
na Comissão de Constituição e
Justiça do Senado. Se aceito aí, como é da praxe que reduz as sabatinas a formalidades farsantes, o
nome é submetido à aprovação do
plenário.
Para que as duas sessões acontecessem em tempo de uma nova
posse na Procuradoria Geral dia
28, o nome indicado pela Presidência já deveria estar no Senado
há umas duas semanas. Não foi
mandado e, mesmo o sendo ontem, às pressas, de hoje a quinta-feira, quando os parlamentares
deixam Brasília, só por milagre de
boa vontade parlamentar se cumpririam as etapas indispensáveis,
com o PMDB e a oposição colaborando para entregar a Procuradoria Geral a um nome do agrado só
do PFL e do PSDB.
Na Polícia Federal, a inércia deixou um interino por três meses -
depois ainda fez um desastre e não
uma nomeação. Expirado o prazo
de Geraldo Brindeiro sem nomeação para o novo mandato, a tendência é que outra vez seja necessária a designação de um interino.
Mas o alcance das decisões de um
procurador-geral tem implicações,
muitas vezes, inadequadas para a
interinidade. Sem falarmos nesse
cúmulo de inação e irresponsabilidade governamental, que é deixar
ao relento os prazos e as providências para o funcionamento normal
da Procuradoria Geral da República.
A escolha do ocupante do novo
mandato é uma preocupação que
os procuradores, em geral, trazem
de longe, mas acentuada desde
que Fernando Henrique, com o coro dos parlamentares governistas,
passou a criticar as investigações
orientadas ou acompanhadas pela
Procuradoria. Tais ações tornam
insuficiente o bloqueio parlamentar que protegeu a Presidência e o
governo de investigações embaraçosas.
Entre procuradores estavam
identificados três ou quatro que se
manifestaram contra aquelas investigações, pondo-se, assim, como
nomes da possível conveniência do
governo para o cargo de procurador-geral. Geraldo Brindeiro, porém, já era indicado do seu primo
Marco Maciel, o que o credenciou
para a recondução. E, além disso,
teve dois anos de desempenho plenamente satisfatório do ponto de
vista do governo.
As preocupações e hipóteses desenvolvidas entre procuradores
mostram o quanto é impróprio o
sistema vigente de escolha do procurador-geral da República, passível de influência política ou de
conveniências ainda piores. Já é
mais do que tempo de ser adotado,
no mínimo, o sistema de indicação
tríplice pelo conjunto de procuradores, para a escolha final pela
Presidência. Não evita surpresas,
mas, apesar de uma ou outra, nas
procuradorias estaduais o resultado geral é positivo para a independência do Ministério Público e seu
papel, fundamental na defesa da
cidadania e no combate a improbidade administrativa.
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