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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" /BLINDAGEM
Acuado, presidente envia emissários para discutir eventuais saídas para a crise com representantes do PFL, do PSDB e do PDT
Lula tenta abrir diálogo com a oposição
DA REPORTAGEM LOCAL
Num momento em que a crise
ronda o Palácio do Planalto, emissários do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva estão tentando abrir
canais com a oposição. Em nome
de Lula, seus interlocutores já
procuraram pré-candidatos à
Presidência tucanos e pefelistas e
articulam acordos no Congresso
Nacional, numa tentativa de evitar a paralisia do governo.
Anteontem, o coordenador político do governo, Jacques Wagner, recorreu ao líder do PFL na
Câmara, Rodrigo Maia (RJ), para
pedir ajuda na aprovação de créditos suplementares ao Orçamento. Segundo o pefelista, o ministro
disse que está "à disposição" para
o que o partido precisar.
A investida de Wagner vem se
somar à ação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que
no mês passado conversou com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o prefeito de
São Paulo, José Serra (PSDB). Na
semana passada, outro amigo de
Lula com assento no governo
convidou um cacique tucano para
uma conversa com o presidente.
O prefeito do Rio, César Maia
(PFL), também foi procurado por
um emissário de Lula há duas semanas. O pefelista recebeu um
convite para visitar o Palácio do
Planalto, mas recusou.
Um parlamentar petista também fez a ponte entre Wagner e o
senador oposicionista Jefferson
Peres (PDT-AM) para que possam discutir a proposta de um
pacto que tiraria Lula e sua reeleição da agenda de discussões das
CPIs que investigam o governo.
O eventual acordo pela preservação de Lula é uma idéia de Peres, que teme uma crise institucional caso a oposição insista em responsabilizar o presidente. Segundo o senador, como Lula tem
apoio popular, tentar incriminá-lo só com os atuais elementos poderia provocar uma crise social e
econômica.
A proposta de acordo prevê
uma "investigação cabal", mas
com tempo limitado, além da
aprovação de uma reforma política mais ampla do que a que tramita no Congresso e o descarte da
idéia de déficit nominal zero do
deputado Delfim Neto (PP-SP)
-corte ainda maior de gastos do
governo para evitar o crescimento
da dívida.
Inviabilidade
Para pefelistas e tucanos, a proposta do pacto feita por Peres é inviável, já que, dizem, o próprio
presidente acabou se complicando ao antecipar, em Paris, o discurso do ex-tesoureiro Delúbio
Soares segundo o qual o PT apenas repete uma prática já disseminada no país, a de caixa 2.
"Num pacto de entendimento
nacional, o presidente teria de ceder, o que levaria o PT a falar em
golpe", afirmou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).
Para César Maia, será "inevitável" o julgamento do presidente.
"Os que pensavam que o Delúbio
está protegendo o PT ao assumir
todas as responsabilidades agora
sabem que, na verdade, ele está
protegendo o presidente, seu
amigo do peito e que com ele autorizava as operações, para garantir a sua base e fortalecer seus candidatos", afirmou o prefeito.
"O presidente deixou a impressão digital numa farsa montada
para encobrir a corrupção no governo", disse o deputado Antonio
Carlos Magalhães Neto (PFL-BA),
referindo-se às semelhanças de
discurso de Lula, Delúbio e Valério sobre suposto caixa 2 do PT.
"O momento agora é de apuração. Não há por que se preocupar
em atingir ou não o presidente",
afirmou Arnaldo Madeira, secretário da Casa Civil do governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), pré-candidato à Presidência. "Não vejo crise institucional no horizonte", disse ele.
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), diz
que o momento exige responsabilidade para que a economia do
país não seja contaminada pela
crise. Mas duvida das chances de
um acordo que poupe Lula das investigações. "Neste momento são
os fatos que vão ditar a política",
disse o petista, para quem Lula
"está preservado". "Antes de curar a ferida, precisamos extrair o
tumor. Estamos estabelecendo
pontes com a oposição", afirmou
o senador petista, ressaltando que
um acordo com a oposição só é
possível depois de delimitado o
tamanho da crise.
(CATIA SEABRA E CONRADO CORSALETTE)
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