São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" /BLINDAGEM

Acuado, presidente envia emissários para discutir eventuais saídas para a crise com representantes do PFL, do PSDB e do PDT

Lula tenta abrir diálogo com a oposição

DA REPORTAGEM LOCAL

Num momento em que a crise ronda o Palácio do Planalto, emissários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão tentando abrir canais com a oposição. Em nome de Lula, seus interlocutores já procuraram pré-candidatos à Presidência tucanos e pefelistas e articulam acordos no Congresso Nacional, numa tentativa de evitar a paralisia do governo.
Anteontem, o coordenador político do governo, Jacques Wagner, recorreu ao líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), para pedir ajuda na aprovação de créditos suplementares ao Orçamento. Segundo o pefelista, o ministro disse que está "à disposição" para o que o partido precisar.
A investida de Wagner vem se somar à ação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que no mês passado conversou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Na semana passada, outro amigo de Lula com assento no governo convidou um cacique tucano para uma conversa com o presidente.
O prefeito do Rio, César Maia (PFL), também foi procurado por um emissário de Lula há duas semanas. O pefelista recebeu um convite para visitar o Palácio do Planalto, mas recusou.
Um parlamentar petista também fez a ponte entre Wagner e o senador oposicionista Jefferson Peres (PDT-AM) para que possam discutir a proposta de um pacto que tiraria Lula e sua reeleição da agenda de discussões das CPIs que investigam o governo.
O eventual acordo pela preservação de Lula é uma idéia de Peres, que teme uma crise institucional caso a oposição insista em responsabilizar o presidente. Segundo o senador, como Lula tem apoio popular, tentar incriminá-lo só com os atuais elementos poderia provocar uma crise social e econômica.
A proposta de acordo prevê uma "investigação cabal", mas com tempo limitado, além da aprovação de uma reforma política mais ampla do que a que tramita no Congresso e o descarte da idéia de déficit nominal zero do deputado Delfim Neto (PP-SP) -corte ainda maior de gastos do governo para evitar o crescimento da dívida.

Inviabilidade
Para pefelistas e tucanos, a proposta do pacto feita por Peres é inviável, já que, dizem, o próprio presidente acabou se complicando ao antecipar, em Paris, o discurso do ex-tesoureiro Delúbio Soares segundo o qual o PT apenas repete uma prática já disseminada no país, a de caixa 2.
"Num pacto de entendimento nacional, o presidente teria de ceder, o que levaria o PT a falar em golpe", afirmou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).
Para César Maia, será "inevitável" o julgamento do presidente. "Os que pensavam que o Delúbio está protegendo o PT ao assumir todas as responsabilidades agora sabem que, na verdade, ele está protegendo o presidente, seu amigo do peito e que com ele autorizava as operações, para garantir a sua base e fortalecer seus candidatos", afirmou o prefeito.
"O presidente deixou a impressão digital numa farsa montada para encobrir a corrupção no governo", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), referindo-se às semelhanças de discurso de Lula, Delúbio e Valério sobre suposto caixa 2 do PT.
"O momento agora é de apuração. Não há por que se preocupar em atingir ou não o presidente", afirmou Arnaldo Madeira, secretário da Casa Civil do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência. "Não vejo crise institucional no horizonte", disse ele.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), diz que o momento exige responsabilidade para que a economia do país não seja contaminada pela crise. Mas duvida das chances de um acordo que poupe Lula das investigações. "Neste momento são os fatos que vão ditar a política", disse o petista, para quem Lula "está preservado". "Antes de curar a ferida, precisamos extrair o tumor. Estamos estabelecendo pontes com a oposição", afirmou o senador petista, ressaltando que um acordo com a oposição só é possível depois de delimitado o tamanho da crise. (CATIA SEABRA E CONRADO CORSALETTE)

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