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Eventual impeachment já é debatido
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
"Impeachment". A palavra que
há duas semanas ninguém ousava
pronunciar já faz parte abertamente das conversas nos gabinetes, restaurantes, cafezinhos e corredores do Congresso Nacional,
onde parlamentares de quase todos os partidos vêem uma rapidez
estonteante na crise política, cada
vez mais próxima do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Derrotada a discussão em torno
de uma saída para Lula, que abriria mão da reeleição para desanuviar o ambiente político, proliferam idéias para se contrapor à
possibilidade -temida pela
maioria, mas considerada real por
muitos- de os escândalos e as
provas não deixarem alternativa
que não seja a abertura de um
processo contra o presidente.
Até mesmo o presidente do
PFL, senador Jorge Bornhausen,
que se opunha à tese do fim da
reeleição, articulando para garantir o mandato de Lula até o fim e
sua candidatura em 2006, já se
mostra impressionado com a celeridade da crise.
Na terça-feira, ele se reuniu durante três horas com o pivô das
denúncias, deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e anteontem foi
ao Rio com o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN),
para um almoço com a cúpula da
Rede Globo. Em foco, as conseqüências da crise. Há quem compare os movimentos com aqueles
da época do impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Como voz discordante, o senador e vice-presidente do PFL, José
Jorge (PE), apresenta dois sólidos
argumentos. "Como falar em impeachment, se a popularidade de
Lula se mantém estável e a estratégia do governo é acabar com o fio
que resta da credibilidade do
Congresso?", indaga. "Quem vai
ter moral para cassar o mandato
do Lula? Este Congresso aqui?"
Daí o aparecimento de idéias alternativas. Roberto Jefferson, que
divulgou o nome e as contas milionárias do publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza numa entrevista para a Folha, passou a defender a convocação de
uma constituinte paralela ao atual
Congresso, com candidatos avulsos (sem partido), para refazer o
processo eleitoral, a composição e
o funcionamento da Casa.
À esquerda, o deputado Fernando Gabeira (ex-PT, atual PV-RJ) se diz convencido de que Lula
não tem condições de concluir o
mandato e contou que vem discutindo com PPS e PDT a viabilidade constitucional de convocação
de eleições diretas em todos os níveis, em janeiro do próximo ano.
"Seria como começar do zero."
A fila dos que consideram que
Lula poderá ser arrastado pelo
vendaval de denúncias cresce.
Para o líder tucano no Senado,
Arthur Virgílio (AM), "o impeachment não é conveniente,
mas pode ser inevitável". Para o
deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), integrante da CPI dos Correios, "[a oposição] não queria isso, mas fica cada dia mais difícil
alguém acreditar que Lula não tinha nada a ver com tudo isso".
Muitos consideram que quem
mais tenta preservar Lula são justamente PSDB e PFL, e o temor
tem rosto e nome: José Alencar, o
vice-presidente.
Ao mesmo tempo em que poderia impulsivamente baixar os juros com uma canetada, pondo em
risco a estabilidade econômica,
eles vêem um outro fantasma: e se
Alencar flexibilizar a economia e
consolidar apoios empresariais e
militares que tem naturalmente?
Ele seria, nesse caso, um forte candidato à Presidência em 2006.
Nessa linha de raciocínio, Lula
fraco e tendo de se explicar dia e
noite numa campanha seria um
adversário muito melhor para um
tucano do que José Alencar cheio
de gás político.
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