São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Dantas pagou R$ 255 mil a amigo de governador do PT

Ligado a Jaques Wagner, Guilherme Martins, o Guiga, é investigado pela PF como lobista

Valor aparece em auditoria feita na BrT; de acordo com documento, publicitário teria afirmado ser "muito próximo" do presidente Lula


FERNANDO BARROS DE MELLO
RUBENS VALENTE
ANA FLOR

DA REPORTAGEM LOCAL

Investigado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, como suposto responsável pelos "contatos políticos" do banqueiro Daniel Dantas, o publicitário Guilherme Henrique Sodré Martins, o Guiga, recebeu R$ 255 mil em 2005 da Brasil Telecom, à época controlada pelo Opportunity.
O pagamento aparece em auditoria feita em 2005 pelos novos controladores da BrT. Conforme o documento, o serviço prestado por Martins "pode ser entendido como lobby".
Após ter seu nome citado no escândalo que envolveu a empreiteira Gautama, no ano passado, Martins foi descrito pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), como seu "melhor amigo". No último dia 11, porém, Wagner disse se sentir "desconfortável" com a proximidade de Martins.
Segundo a auditoria, o publicitário disse, em entrevista aos auditores, que "mantém contatos com diversos parlamentares, além de ser muito próximo do presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva], em função da relação de anos com o PT". Ele também citou o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
Nos relatórios da Operação Satiagraha, Martins aparece telefonando ao ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para que ele obtivesse informações com o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, sobre uma nova investigação federal contra o banqueiro.
Martins também recebeu telefonemas de Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom, preso sob acusação de tentar subornar, com US$ 1 milhão, delegados da PF. Braz pedia informações sobre a eventual investigação.
De acordo com a auditoria, também foi Braz que, na BrT, "contatou" Martins em 2004. O publicitário teria dito aos auditores que isso ocorreu "devido aos serviços prestados em assessoria parlamentar para a Telemar desde 2001".
O delegado que conduzia a Satiagraha, Protógenes Queiroz, chegou a pedir a prisão temporária de Martins, mas o pedido foi negado pelo juiz da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Fausto De Sanctis.
Martins é fundador e sócio-diretor da GLT Comunicações, cadastrada no governo federal e na BrT como empresa de publicidade. A auditoria, contudo, apontou: "O objeto [do contrato] são serviços de consultoria em telecomunicações no âmbito do poder legislativo (pode ser entendido como lobby)".
A auditoria constatou que os valores pagos à GLT evoluíram mês a mês em 2005. Começou com R$ 29 mil, pulou para R$ 45 mil e acabou em R$ 72 mil mensais. Na entrevista concedida aos auditores, Martins teria dito que a GLT foi fundada em 1993 e que atuava na área de "assessoria legislativa".

Documentos
O valor do contratos consta de documentos inéditos obtidos pela Folha, que integram a auditoria realizada pela CTIS Global, contratada pela BrT. O trabalho analisou a gestão de Dantas na telefônica.
Em 2004, quando Sodré fez seu primeiro contrato com a BrT, Jaques Wagner era ministro do Desenvolvimento Econômico e Social. Em julho de 2005, assumiu a pasta de Relações Institucionais. Martins foi casado com Fátima Mendonça, mulher do governador baiano.
A Folha apurou que foi Martins quem indicou a Lula o acupunturista Gu Han Chu, que tratou da sua bursite em 2004. Martins, antes de ser publicitário, exercia a ortopedia.
Ainda em 2004, a GLT Comunicações assumiu a assessoria da empreiteira Gautama, de Zuleido Veras, pivô da Operação Navalha, deflagrada pela PF em 2007. Em maio daquele ano, quando estourou o escândalo, Wagner disse que Martins era seu melhor amigo. Foi ele quem, segundo Wagner, pediu emprestado a Veras a lancha em que o petista e a ministra Dilma Rousseff passearam em Salvador em 2006.


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