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SENADOR SOB PRESSÃO
Ex-titular do BC diz que parecer não encerrava caso Banpará; para Jader, fala reafirma falta de provas
Gros contesta principal defesa de Jader
ANDRÉA MICHAEL
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do BNDES, Francisco Gros, e o procurador-geral
do Banco Central, José Coêlho
Ferreira, negaram ontem que o
parecer jurídico assinado por ambos em 1992 tenha inocentado o
presidente licenciado do Senado,
senador Jader Barbalho (PMDB-PA), no caso do desvio de recursos do Banpará. O parecer tem sido usado por Jader como principal peça de sua defesa.
Os dois prestaram depoimento
na comissão do Conselho de Ética
que investiga denúncias contra o
presidente licenciado do Senado e
divulgaram notas escritas.
""As prerrogativas da lei não ofereciam ao Banco Central competência para dar atestado de honestidade a quem quer que seja, e não
foi dado", diz a nota de Gros, que
presidiu o Banco Central de maio
de 91 a novembro de 92.
""O Banco Central do Brasil nem
absolveu nem condenou criminalmente qualquer pessoa envolvida no caso em questão, até porque não tinha e não tem poderes
para tanto", afirmou Coêlho na
nota. Ele deixou o Congresso sem
dar entrevistas.
Ambos reafirmaram que o BC
cumpriu sua missão, que seria tomar as providências administrativas sobre os desvios do Banpará e
encaminhar o caso ao Ministério
Público para aprofundar a investigação e propor os procedimentos criminais, se fosse o caso.
""Não há nenhum fato novo, nenhuma investigação nova, nenhuma prova nova. A única coisa
que mudou de 92 para cá foi que o
Ministério Público decidiu em 92
não dar prosseguimento às recomendações de investigação e agora isso foi feito", afirmou Gros.
""Existem indícios [contra Jader". Indícios não são provas",
disse Gros após o depoimento.
Comentário de Jader
Ao tomar conhecimento do depoimento de Gros, Jader disse à
Folha: ""Estou satisfeito por ele
reafirmar em bom português o
que escreveu em 1992, que não
havia chegado a nenhum indício,
a nenhuma prova convincente ou
robusta que pudesse me envolver
no episódio".
A principal dúvida dos senadores é por que a quebra de sigilo de
Jader não foi pedida à época. Por
ora, está claro que o processo foi
encaminhado ao Ministério Público estadual e não ao federal por
haver suspeitas de peculato cometido por autoridade estadual
-Jader, então governador.
""Não se pode afastar a responsabilidade criminosa e omissa [do
Ministério Público". E, depois de
tantos anos, dizerem que perderam o processo", disse o senador
Romeu Tuma (PFL-SP), que
coordena a investigação.
Segundo Tuma e Heloísa Helena (PT-AL), Gros e Coêlho não se
lembravam de peças dos relatórios que embasaram o parecer.
""Gros disse que não cabia a ele
analisar as mais de mil páginas do
processo", disse Heloísa Helena.
Gros e Coelho, no entanto, endossaram o parecer encaminhado
ao Ministério Público.
Coêlho afirmou ao depor que
assinou o parecer final seguindo a
orientação do subprocurador-chefe do BC, Nilton Dias -que
deverá ser chamado a depor.
No processo encaminhado ao
Ministério Público pelo BC, que
teve alguns trechos reproduzidos
na nota de Coêlho, pede-se pressa
e ressalta-se que ""a complementação de informação deverá ser
procedida e concluída dentro da
brevidade possível, a fim de evitar-se que eventuais delitos sejam
atingidos com o instituto da prescrição penal".
Coêlho também afirmou que as
diligências do procurador-geral
da República, Geraldo Brindeiro,
para investigar o caso -a principal delas, o pedido de quebra de
sigilo de Jader- já haviam sido
propostas pelo próprio BC.
Hoje Coêlho será sabatinado
pela Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, que terá de votar a indicação do presidente Fernando Henrique Cardoso para
que ele ocupe uma vaga de ministro do Superior Tribunal Militar.
À tarde, o inspetor do BC Abrahão Patruni, autor do relatório
que aponta indícios contra Jader,
irá depor aos senadores do Conselho de Ética.
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