São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NO ESCURO

Presidente diz a interlocutores que gostaria de ver ministro polarizando com PT até eleição

FHC quer Malan filiado para atrair a mídia até a eleição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, que ele cometerá um erro se não se filiar a um partido porque é a expectativa de uma candidatura ao Palácio do Planalto que alimenta o interesse da mídia por suas intervenções econômicas.
"Ele [Malan" me disse que não vai se filiar. É um erro porque a mídia deixará de prestar atenção nele a partir de janeiro, quando esquentar o debate eleitoral", disse FHC, ontem, a um interlocutor.
Para o presidente, a imprensa só dedica grande espaço às guerras verbais entre Malan e o PT porque há a possibilidade, ainda que remota, de ele ser candidato ao Palácio do Planalto. Sem a filiação, Malan será "menos notícia" e terá menos poder de fogo para defender o governo e sua gestão na Fazenda, crê FHC.
Com uma pequena esperança de que Malan reconsidere, FHC discorda dos dois principais motivos do auxiliar para não ingressar na política. O ministro argumenta que perderá credibilidade para conduzir a economia em momento delicado, pois suas afirmações passariam a ser vistas como lances de candidato. Malan teme ainda abrir uma guerra com presidenciáveis do PSDB. Leia-se o ministro da Saúde, José Serra.
Na avaliação do presidente, porém, vale a pena Malan correr esses riscos porque a filiação ao PSDB não significa candidatura. FHC julga que é importante usar a expectativa de disputar o Planalto como chamariz para a mídia prestar atenção nos torpedos de Malan contra a oposição.
FHC tem reclamado aos ministros e presidenciáveis tucanos uma atitude mais firme em defesa do governo. Com medo de desgaste eleitoral e por discordar de pontos-chaves da política econômica, Serra tem se mantido calado quando o assunto é economia.
Malan cumpre um papel de defesa do governo importante para o presidente. FHC disse ao ministro que as especulações têm data para morrer, porque no começo de abril terminará o prazo de desincompatibilização de ocupantes de cargo executivo interessados em concorrer ano que vem.
Malan ainda ajudaria FHC a embaralhar as cartas da sucessão. Interlocutores do presidente dizem que, hoje, ele tem um pendor pela candidatura Serra. Mas uma eventual disparada de Malan nas pesquisas mudaria o quadro e poderia criar um fato consumado. Os presidenciáveis governistas estão abaixo dos 10%, taxa de intenção de voto ultrapassada pelos nomes da oposição.
A "ameaça Malan" ajudaria FHC a ter mais cacife, levando Serra e outros presidenciáveis, como o governador do Ceará, Tasso Jereissati, a precisar mais do presidente para garantir a postulação nas articulações com o PSDB, o PFL e o PMDB governista.


Texto Anterior: Senador sob pressão: Gros contesta principal defesa de Jader
Próximo Texto: Ciro e Brizola discutem fusão do PDT com o PPS para sobreviverem a 2002
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.