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SUCESSÃO NO ESCURO
Presidente diz a interlocutores que gostaria de ver ministro polarizando com PT até eleição
FHC quer Malan filiado para atrair a mídia até a eleição
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ao ministro da
Fazenda, Pedro Malan, que ele cometerá um erro se não se filiar a
um partido porque é a expectativa
de uma candidatura ao Palácio do
Planalto que alimenta o interesse
da mídia por suas intervenções
econômicas.
"Ele [Malan" me disse que não
vai se filiar. É um erro porque a
mídia deixará de prestar atenção
nele a partir de janeiro, quando
esquentar o debate eleitoral", disse FHC, ontem, a um interlocutor.
Para o presidente, a imprensa só
dedica grande espaço às guerras
verbais entre Malan e o PT porque
há a possibilidade, ainda que remota, de ele ser candidato ao Palácio do Planalto. Sem a filiação,
Malan será "menos notícia" e terá
menos poder de fogo para defender o governo e sua gestão na Fazenda, crê FHC.
Com uma pequena esperança
de que Malan reconsidere, FHC
discorda dos dois principais motivos do auxiliar para não ingressar na política. O ministro argumenta que perderá credibilidade
para conduzir a economia em
momento delicado, pois suas afirmações passariam a ser vistas como lances de candidato. Malan teme ainda abrir uma guerra com
presidenciáveis do PSDB. Leia-se
o ministro da Saúde, José Serra.
Na avaliação do presidente, porém, vale a pena Malan correr esses riscos porque a filiação ao
PSDB não significa candidatura.
FHC julga que é importante usar a
expectativa de disputar o Planalto
como chamariz para a mídia
prestar atenção nos torpedos de
Malan contra a oposição.
FHC tem reclamado aos ministros e presidenciáveis tucanos
uma atitude mais firme em defesa
do governo. Com medo de desgaste eleitoral e por discordar de
pontos-chaves da política econômica, Serra tem se mantido calado quando o assunto é economia.
Malan cumpre um papel de defesa do governo importante para
o presidente. FHC disse ao ministro que as especulações têm data
para morrer, porque no começo
de abril terminará o prazo de desincompatibilização de ocupantes
de cargo executivo interessados
em concorrer ano que vem.
Malan ainda ajudaria FHC a
embaralhar as cartas da sucessão.
Interlocutores do presidente dizem que, hoje, ele tem um pendor
pela candidatura Serra. Mas uma
eventual disparada de Malan nas
pesquisas mudaria o quadro e poderia criar um fato consumado.
Os presidenciáveis governistas estão abaixo dos 10%, taxa de intenção de voto ultrapassada pelos
nomes da oposição.
A "ameaça Malan" ajudaria
FHC a ter mais cacife, levando
Serra e outros presidenciáveis, como o governador do Ceará, Tasso
Jereissati, a precisar mais do presidente para garantir a postulação
nas articulações com o PSDB, o
PFL e o PMDB governista.
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