São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Ética bêbeda

O uso do jingle televisivo de uma cerveja para propaganda de um candidato à Presidência da República, substituído apenas o refrão "Bavária, Bavária, Bavária" por "trabalho, trabalho, trabalho", é um desrespeito abusivo às instituições e insultuoso com o eleitorado.
É improvável que José Serra tenha autorizado o recurso da cópia incluída em sua propaganda no horário eleitoral de TV, e, se não o fez, não é responsável, é também vítima do abuso e do desrespeito. Mas Nizan Guanaes precisa ser informado de que, se a sua presunção não tem limites, sua atividade os tem. Senão por si mesma, por todas as outras dos que se esforçaram pela democracia e se esforçam pela decência na vida pública.
(Aqui registrado ontem, na apreciação dos primeiros programas eleitorais, o uso da publicidade comercial, a identificação exata do jingle foi de Flávio Freire, de "O Globo").

Também
Pelo visto, a ética marqueteira padece de colapsos que não se sabe se curáveis.
Os organizadores do site da campanha de Ciro Gomes utilizaram um artigo meu na internet, anteontem, sem autorização da Folha ou minha. Estarem trabalhando para um candidato à Presidência deveria ser razão a mais para respeitarem a legislação e a ética.

Amarelados
A proposta de que amanhã sejam usadas camisas amarelas é de um grupo de corretores de aplicação financeira que pretendem, com isso, atribuir um grande apoio popular à atual política econômica. O pessoal do mercado financeiro tem todas os motivos, ou todos os lucros, para querer a continuidade do período em que ganhou mais do que nunca e, em comparação com o restante do mundo, ganhos muito maiores do que em qualquer outra parte.
Dizem os corretores que a manifestação com amarelo apenas expressará apoio a propostas já aceitas por todos os candidatos. Primeiro, não é verdade, ao que está exposto na internet pelos próprios proponentes da manifestação: o que será dado como objeto do apoio é exatamente o que, em conjunto, os candidatos de oposição repelem -e com isso lideram as pesquisas. Segundo, se houvesse a alegada unanimidade, não seria necessária a manifestação de fins duvidosos, senão suspeitos.

Recordista
Estão de parabéns, pela coerência, o Banco Central e o Copom, entidade supostamente definidora da política monetária. Decidiram manter inalterados os juros estrangulantes, no dia mesmo em que foi noticiada a volta do Brasil à posição que ocupava em 2000 -a de detentor dos juros mais altos do mundo.
Não por acaso, saiu também a notícia de aumento do desemprego -mas isso não dá manifestação.



Texto Anterior: Embaixadora admite que EUA não respeitam o Brasil
Próximo Texto: Congresso: FHC discute votação do PIS/Pasep
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.