São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ZEBRA POLÍTICA

Ciro vê a derrota do Brasil com camisa 23


Resultado negativo frustra uso eleitoral do amistoso da seleção no Ceará pelo candidato do PPS


FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A seleção brasileira de futebol -que perdeu ontem para o Paraguai, por 1 a 0, em amistoso- participou do ato de maior conotação político-eleitoral desde a conquista do pentacampeonato na Copa da Coréia e do Japão: em uma cerimônia organizada na capital do Ceará, o jogador Kaká ofereceu a camisa de número 23 assinada por toda a delegação para o candidato do PPS a presidente da República, Ciro Gomes.
Em rápida entrevista no hotel da seleção, Ciro aproveitou para comentar os ataques que sofreu de José Serra (PSDB) no primeiro dia de propaganda eleitoral na TV. "Quando o candidato [Serra] que tem toda a oligarquia, toda a máquina do governo ao seu lado parte para o ataque dessa forma, só pode estar demonstrando desespero", disse.
O PPS decidiu não responder aos ataques do PSDB no programa de Ciro. A Frente Trabalhista pediu direito de resposta ao TSE.
O ato político da seleção brasileira a favor de Ciro também beneficiou o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), que concorre a uma vaga ao Senado. Anteontem, Tasso formalizou seu afastamento da campanha de Serra por meio de uma carta enviada à direção tucana. Sentiu-se livre para aparecer em público, pela primeira vez nesta disputa eleitoral, ao lado de Ciro, a quem classifica de seu "natural aliado".
Ontem, Tasso disse ter conversado com Pimenta da Veiga, coordenador da campanha de Serra, a respeito de sua carta. "Ele me disse que não tem problema nenhum", declarou.
Tasso e Ciro estavam juntos no palanque montado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no hotel Marina, onde estavam hospedados os jogadores do Brasil. A cerimônia foi rápida. Começou às 11h58 e terminou às 12h02 -apesar de os dois políticos terem permanecido mais tempo com os jogadores em outro recinto reservado.
A equipe de TV da campanha de Ciro Gomes teve amplo acesso ao evento, inclusive aos contatos reservados que o candidato teve com integrantes da seleção.
Além de Tasso e Ciro, estavam no palanque o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o técnico Luiz Felipe Scolari, o candidato do PSDB ao governo do Ceará, Lúcio Alcântara, e a candidata do PPS ao Senado, Patrícia Gomes -ex-mulher de Ciro. Todos os políticos ganharam camisas autografadas. Quando Patrícia Pillar, atual mulher do candidato do PPS, subiu no palanque montado dentro de um salão do hotel Marina, Patrícia Gomes desceu.
Kaká entregou a camisa da seleção brasileira a Ciro, mas também estavam no evento o capitão da equipe, Cafu, e o ala Roberto Carlos. A camisa de número 23 foi escolhida por uma razão simples: é o número eleitoral de Ciro Gomes e também o usado por Kaká na Copa do Mundo. A idéia foi de Ricardo Teixeira, depois de conversar com assessores da CBF e do candidato do PPS.
Nenhum outro candidato a presidente foi convidado para a partida amistosa, ontem, em Fortaleza. Segundo Ricardo Teixeira, "se o jogo fosse em São Paulo, o candidato de lá seria convidado".
A decisão de o jogo ser em Fortaleza, segundo a CBF, estava tomada desde antes da Copa. "O último jogo antes de embarcarmos foi aqui. Nada mais natural que o primeiro jogo do retorno fosse no mesmo local", disse Teixeira.
"Quando recebemos a seleção em Fortaleza, em março, havia dúvida sobre o possível sucesso da equipe. Mas nós os recebemos com todo o carinho", afirmou Tasso. Ele também disse ter sido o principal responsável pela decisão da CBF de desembarcar primeiro em Brasília na chegada da seleção ao Brasil.
Sobre o uso político-eleitoral da seleção, Teixeira disse que foi um ato "espontâneo" dos jogadores. Para o dirigente da CBF, o ato de Fortaleza não foi diferente dos que a seleção proporcionou a outros políticos na sua chegada ao Brasil: "Fomos ao Palácio do Planalto; no Rio, a governadora Benedita da Silva (PT) recebeu os jogadores. E o Lula [candidato do PT a presidente] até beijou a taça outro dia. Na semana que vem, vou entregar pessoalmente a taça para o governador Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul".
"Se o Felipão, o Cafu e o Roberto Carlos convidam você para dar uma camisa, você não iria? Não estou fazendo campanha. Agora, vou sair daqui correndo para levar a camisa para meu filho que está na escola", disse Tasso, que também ganhou uma camisa.



Texto Anterior: Celso Pinto: Dúvidas e fantasias sobre o Brasil
Próximo Texto: Horário Eleitoral: Estréia da propaganda abre corrida de recursos aos TSE
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.