São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Seguro, calmo, tranqüilo, sensato, muito elegante

Na abertura do "Fantástico", com Pedro Bial:
_ Boa noite. O ministro Palocci chama os jornalistas e, com veemência, refuta acusações.
Nas manchetes da Globo News, sem medo de adjetivar:
_ Seguro e muito calmo, nega denúncias com veemência.
Na barra de informações do canal, "firme e tranqüilo". Um título da Folha Online, na mesma linha, "Com tranqüilidade, Antônio Palocci nega acusações".
Foi assim por quase todo lado, na cobertura eletrônica.

 

"Os mercados" também foram na mesma direção. A Globo, para começar, foi ouvir o empresário Antônio Ermírio de Moraes:
_ Para mim, passou calma, aquele jeito dele, tranqüilo. Claro que um país como o Brasil tem problemas e terá sempre, mas afinal de contas o governo até agora soube resolver com tranqüilidade as coisas que estão sendo apresentadas. Achei um depoimento sensato, tranqüilizador.
Daí para o economista-chefe da federação dos bancos, para quem "o ponto mais importante [foi mostrar] que a política é do governo, não do Palocci".
Para ele, "a fala deu otimismo aos mercados", o que ecoou em outros economistas, na CBN, e no presidente da confederação da indústria, no Globo Online:
_ O ministro foi sereno, convincente e também muito elegante. Palocci foi palocciano.
 

Ele só não foi muito "palocciano" ao questionar o Ministério Público de São Paulo:
_ Acho que existiu indiscrição de autoridades. Autoridades que saem no meio e contam parte de depoimento estão sendo indiscretas, legalmente indiscretas.
Na tradução da Globo News, "o ministro disse que procuradores não respeitaram a lei".
Curiosamente, além de petistas como Tarso Genro e Ricardo Berzoini, tucanos como Arthur Virgílio e pefelistas como Jorge Bornhausen fizeram reparos.
O primeiro, segundo o Globo Online, "também afirmou ter achado ‘muito estranho’ o fato de um procurador ter dado entrevista sobre as acusações". E o segundo, no "Fantástico":
_ A investigação tem que continuar sem abuso de poder.
A Globo deu no fim do programa a defesa do procurador-geral paulista, para quem "a regra é que a investigação deve ser feita com acompanhamento da imprensa". Ele não encerrou bem:
_ Existe vasta prova documental em relação aos partícipes. Em relação ao ministro, não existe nenhuma prova documental.
Para a pá de cal, Pedro Bial deu então a opinião do procuradorgeral da República:
_ Antônio Fernando Souza esclareceu que o Ministério Público deve tratar suas investigações com discrição e responsabilidade, tendo como base as garantias constitucionais dos cidadãos.
 

Mas o ministro fez mais, nesse tema. Ainda o "Fantástico":
_ Ele disse que vai escrever uma carta ao governador Geraldo Alckmin pedindo que observe com serenidade os atos do Ministério Público do Estado.
Alckmin se lançou a presidente na semana, ao mesmo tempo em que a polícia e os procuradores de São Paulo tomavam a cena _com doleiro, prisão de Buratti, a volta a Santo André.
Antes da entrevista, Alckmin chamou as denúncias de "graves" mas sem relação com "política". Segundo a Jovem Pan, o governador se mostrou "visivelmente incomodado com perguntas sobre a crise e sua candidatura".
 

De José Carlos Aleluia na Folha Online a Eduardo Azeredo no Globo Online, a oposição se derreteu em elogios, cobrando, se tanto, o mesmo de Lula.
Com exceções. O Blog do Cesar Maia, para quem Palocci só fez mostrar que está envolvido, saiu anunciando que ele "mentiu".
O blog tucano E-Agora, próximo de FHC, foi atrás do pefelista e aproveitou para instruir:
_ Esse papo de "oposição responsável" joga todo mundo no mesmo saco de farinha.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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