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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES PERIGOSAS
Amigo de Lula, Paulo Okamotto preside uma instituição e é conselheiro do Instituto Cidadania, que fez o programa de governo do PT
ONG ligada ao PT recebe apoio do Sebrae
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Sebrae (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas), presidido por Paulo Okamotto, amigo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva desde os tempos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo,
firmou, no início deste ano, uma
parceria com o Instituto Cidadania, ONG ligada ao Partido dos
Trabalhadores e fundada pelo
próprio Lula em 1990, na qual
Paulo Okamotto segue figurando
como membro do Conselho Fiscal. O Cidadania liderou a elaboração do programa de governo de
Lula para as eleições de 2002.
Segundo o coordenador executivo do Instituto Cidadania, Paulo
Vannuchi, a parceria envolve orçamento de R$ 2,4 milhões (50% a
cargo do Sebrae e 50% do Instituto Cidadania). A verba serviria
para materializar o Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local.
No material de divulgação, lê-se: "O Projeto pretende sistematizar uma avaliação abrangente das
(...) iniciativas de desenvolvimento local (...) buscando melhorar as
condições de vida e produtividade com dinâmicas próprias, a partir de município, bairro ou região,
sem esperar soluções que venham
de cima."
Projeto adiantado
O folder promocional e o site do
projeto são assinados conjuntamente pelo Sebrae e pelo Instituto
Cidadania. No site, avisa-se que
hoje, em Brasília, será realizada a
7ª Plenária da Coordenação, inclusive com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário,
Miguel Rossetto.
As atividades do projeto iniciaram-se em fevereiro de 2005 e
previa-se a entrega dos resultados
do trabalho ao presidente Lula em
dezembro deste ano. "Mas vai ser
difícil, com o clima político do
país", admite Vannuchi.
Cronograma
No primeiro trimestre de 2006,
segundo o cronograma do projeto, deveriam ser realizadas viagens e organizados eventos para
apresentação dos resultados do
trabalho a governadores, prefeitos, parlamentares dos vários níveis, associações empresariais e
centrais sindicais, ONGs, universidades e centros de pesquisa,
meios de comunicação.
Um participante paulista das
plenárias do projeto que já foram
realizadas disse à Folha que suas
viagens a Brasília foram custeadas
pela coordenação.
Perguntado se não considera
haver conflito de interesses no estabelecimento de parceria entre o
Sebrae, presidido por Okamotto,
e o Cidadania, ligado informalmente ao PT e com Okamotto no
Conselho Fiscal, o coordenador
executivo Vannuchi disse que
não. "O Comunidade Solidária da
ex-primeira dama Ruth Cardoso
também fechou parcerias com o
Sebrae", afirmou.
Diferentemente do Instituto Cidadania, uma instituição privada,
o Comunidade Solidária era um
programa de governo, responsável pela coordenação e articulação
de programas sociais do Governo
Federal, e dele faziam parte 11 ministros de Estado.
Desaparecido
Com uma longa folha corrida de
serviços prestados a Lula desde os
anos 70, ex-tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, do PT e da
campanha eleitoral de Lula à Presidência, em 1989, Okamotto estava longe de escândalos desde
1997, quando submergiu depois
de ser acusado pelo ex-secretário
das Finanças de São José dos
Campos, Paulo de Tarso Venceslau, de ter montado um esquema
para arrecadação de fundos para
o PT em parceria com o compadre de Lula, Roberto Teixeira.
Okamotto ressurgiu no último
dia 10, em meio a mais uma operação de socorro ao amigo Lula.
Na ocasião, a CPI dos Correios investigava as condições em que se
deram quatro pagamentos feitos
por Lula entre dezembro de 2003
e fevereiro de 2004 para quitar
uma dívida pessoal com o PT, no
valor de R$ 29.436,26.
A CPI quis saber se a dívida teria
sido paga com recursos provenientes de caixa dois, operado pelo publicitário Marcos Valério.
Okamotto reapareceu para assumir a responsabilidade pelos pagamentos. Disse que retirou o dinheiro de sua conta e o entregou
ao PT, que fez os depósitos.
"Brasileiros"
O PT informou que Okamotto,
na qualidade de "procurador legal" de Lula, primeiro se recusou
a reconhecer a dívida. Depois,
parcelou-a em quatro vezes, quitando-a. Mas o fez, segundo a sua
própria versão, em dinheiro vivo,
o que impede a sua comprovação.
O lema do Sebrae é "Parceiro
dos Brasileiros" e seus recursos
(só este ano são R$ 800 milhões)
provêm da arrecadação de 0,3%
da folha de pagamentos das empresas em atividade no país. O
INSS é a entidade responsável pelo recolhimento desse montante,
depois repassados aos cofres do
Sebrae. É o Tribunal de Contas da
União quem aprova ou rejeita as
contas do Sebrae.
Na qualidade de presidente do
Sebrae, o amigo de Lula recebe salário mensal de R$ 24.263,80. O
cargo veio-lhe por indicação do
presidente da República, como é
praxe no órgão, já que só o governo federal detém cinco das treze
cadeiras no Conselho Deliberativo Nacional, o órgão máximo de
deliberação do Sebrae.
Na sede do Instituto Cidadania,
um prédio de três pavimentos no
bairro paulistano do Ipiranga, a
maior sala é conhecida como sala-fantasma. É a que foi ocupada por
Lula entre os dias 7 de setembro
de 1990 e o dia 4 de setembro de
1992, período em que permaneceu na presidência da ONG.
Hoje, a sala, que foi QG do movimento pela ética na política,
abriga uma estante com suvenires
reunidos por Lula durante viagens pelo país na condição de
candidato. Muitas são estatuazinhas do próprio Lula.
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