São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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DIPLOMACIA

Presidente defende na ONU reformulação do Conselho de Segurança

Lula afirma que colonialismo adotou nova lógica no mundo

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente Lula discursa durante a abertura da 59ª Assembléia Geral da ONU, em Nova York


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem em discurso nas Nações Unidas que os países ricos exercem uma nova forma de colonialismo sobre os mais pobres. Para ele, existe hoje uma "lógica que drena o mundo da escassez para irrigar o do privilégio".
"Os antigos súditos converteram-se em devedores perpétuos do sistema econômico internacional", disse o presidente.
"Poderosa e onipresente, uma engrenagem invisível comanda o novo sistema. Não raro, ela revoga decisões democráticas, desidrata a soberania dos Estados, sobrepõe-se a governos eleitos. Exige a renúncia a legítimos projetos de desenvolvimento nacional."
Na mesma linha, Lula condenou a "globalização assimétrica e excludente" e pediu uma nova atitude dos organismos financeiros internacionais. "Criados para encontrar soluções, às vezes, por excessiva rigidez, [eles] tornam-se parte do problema."
Após a abertura da 59ª Assembléia Geral da ONU pelo seu secretário-geral, Kofi Annan, Lula fez o primeiro discurso da sessão e foi seguido pelo presidente norte-americano, George W. Bush.
Os dois líderes trocaram cumprimentos e conversaram duas vezes entre os discursos. Ao discursar, Bush não fez menção às propostas lideradas pelo Brasil para redução da miséria e da fome discutidas no dia anterior.
Em seu pronunciamento, de 18 minutos, três a mais do que o tempo estabelecido, Lula condenou indiretamente o unilateralismo dos EUA, pediu uma "nova lógica para o desenvolvimento" e criticou o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"O FMI deve credenciar-se para fornecer o aval e a liquidez necessários a investimentos produtivos, especialmente em infra-estrutura, saneamento e habitação, que permitirão, inclusive, recuperar a capacidade de pagamento das nações", disse Lula.
Na semana que vem, em Washington, o Brasil voltará a negociar com o FMI a retirada dos investimentos em infra-estrutura da conta de cálculo do superávit primário (a economia que o país faz para pagar juros).
Lula misturou vários outros temas em seu discurso, procurando amarrá-los à orientação geral para um "novo modelo econômico e de desenvolvimento". O presidente discorreu sobre o combate à fome, à Aids, o terrorismo, a luta pela paz, o Haiti, o meio ambiente, o Mercosul e a necessidade de reformulação do Conselho de Segurança da ONU -onde o Brasil aspira a uma vaga permanente.
"Uma ordem internacional fundada no multilateralismo é a única capaz de promover a paz e o desenvolvimento sustentável", disse. "Só o Conselho de Segurança pode conferir legitimidade às ações no campo da paz e da segurança internacionais."
Após o discurso da manhã, o presidente Lula participou de um almoço com dezenas de chefes de Estado na ONU. Antes, teve um encontro formal com o presidente boliviano, Carlos Mesa, e com representantes do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola das Nações Unidas.
Na parte da tarde, Lula encontrou-se ainda com os líderes de Japão, Alemanha e Índia, países que, como o Brasil, almejam uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Lula embarcou de volta ao Brasil no início da noite.


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