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Renata Lo Prete
O pêndulo de Lula
O ROTEIRO se repete
toda vez que petistas são apanhados
em flagrante delito. Somos entupidos de relatos
palacianos segundo os
quais Lula estaria "muito
irritado", "furioso" até,
com o acontecido. No caso
da montagem e compra de
informações contra os tucanos, quer ver a Polícia
Federal "colocar algemas"
nos responsáveis.
Motivo para irritação de
fato existe. Se mais não
fosse, o presidente perdeu
seu churrasqueiro oficial e
ainda teve de enfrentar
uma bateria de perguntas
embaraçosas ontem no
"Bom Dia Brasil".
A questão, no entanto, é
saber se Lula ficaria aborrecido caso a operação
-em suas palavras "abominável" e "imoral"- tivesse transcorrido em sigilo e ao final dado certo.
Claro que não.
Ainda que integrantes
da campanha de Aloizio
Mercadante estejam
enrolados até o pescoço
no episódio, não pára em
pé o raciocínio de que
"apenas o PT de São Paulo" teria a lucrar com a
eventual desmoralização
de José Serra.
Não que Lula perca o sono com a perspectiva de
vitória tucana no Estado.
Pretende mesmo se beneficiar da rivalidade entre
Serra e Aécio Neves no jogo de 2010. Mas infinitamente melhor seria uma
oposição de espinha quebrada. Foi o que os compradores do dossiê e da
entrevista de Luiz Antonio Vedoin à "IstoÉ" tentaram providenciar.
A crônica oficiosa do humor presidencial ajuda
Lula porque lhe dá a oportunidade de ser e não ser
PT ao sabor de sua conveniência. No auge da crise
do mensalão, ele não era.
Passado o pior da tormenta, foi voltando a ser. Mais
recentemente, com a campanha em céu de brigadeiro, já se permitia afagar
em público os caídos.
Agora, retoma as queixas e procura se mostrar
apartado "desses meninos" -como se referiu, no
"Bom Dia", aos operadores do dossiê, alguns dos
quais lhe são fiéis desde
sempre e acima de tudo.
Trata-se, óbvio, de uma
mistificação. Fale Lula
quantos palavrões bem
entender, em seu DNA está escrito PT-SP. Não há
dissociação possível.
A outra mistificação
consiste em qualificar os
homens do dossiê como
"trapalhões" -o problema, fica implícito, é que
"fizeram tudo errado"- e
não como os golpistas que
na verdade são.
O tratamento condescendente cumprirá a função de facilitar a recondução "desses meninos" a
suas funções, tanto subterrâneas como na churrasqueira, quando a poeira
baixar e o pêndulo de Lula
se mover novamente.
Num ambiente em que
o jornalista responsável
pela entrevista de Vedoin
declara sem corar que "da
minha assinatura para
trás, não sei o que aconteceu", não faltarão ingênuos para comprar essa
farsa, nem espertos interessados em vendê-la.
RENATA LO PRETE é editora do Painel
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