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Ambientalista vê governo rachado
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos principais críticos do
governo federal entre os ambientalistas, o economista carioca Jean
Marc von der Weid, 57, diretor da
AS-PTA (Assessoria e Serviços a
Projetos em Agricultura Alternativa) e membro da Campanha por
um Brasil Livre de Transgênicos,
coalizão de 82 ONGs, disse que há
um racha na bancada do PT no
Congresso e no ministério de Lula
sobre a questão ambiental.
Um dos fundadores do PT no
Rio, nos anos 80, Von der Weid é
signatário da carta-manifesto endereçada anteontem ao presidente Lula com críticas ao governo.
A seguir, trechos da entrevista
concedida ontem à Folha.
Folha - O governo Lula vive uma
crise ambiental?
Jean Marc von der Weid - Não há
a menor dúvida. A crise é de tal tamanho que ele está com a bancada rachada, pelo menos ao meio, e
com o governo rachado. No debate dos transgênicos, há posições
opostas entre Luiz Furlan [Desenvolvimento] e Roberto Rodrigues
[Agricultura] de um lado e Marina Silva [Meio Ambiente] e Miguel Rossetto [Desenvolvimento
Agrário] de outro. O resto dos ministros dá um suporte discreto a
Marina, mas não compra a briga.
O governo não está unido.
Folha - O governo é desinformado sobre meio ambiente ou há de
fato uma política deliberada?
Von der Weid - Acho que é uma
mistura das duas coisas. Há um
lado de formação política que eu
chamo de produtivismo vulgar,
que marca um pouco essa espécie
de desprezo pela questão ambiental, e muita desinformação.
Folha - Onde o governo erra?
Von der Weid - Ele tem uma visão
de muito curto prazo. Estão sendo tomadas decisões que são muito conjunturais e que não levam
em conta efeitos de médio e longo
prazos, do ponto de vista ambiental e de sustentabilidade. Ao abrir
a Amazônia para a soja, transgênica ou não, num ecossistema
bastante frágil, você vai ter dois,
três, quatro anos de produção
crescente, mas depois deixará
uma situação calamitosa.
Folha - A ministra Marina Silva
continua prestigiada entre os ambientalistas?
Van der Weid - Até o momento,
Marina está sendo considerada
uma "heroína da resistência ambiental" dentro do governo. Mas,
do jeito que ela está sendo encostada sistematicamente, acho que
sua situação vai ficar insustentável. Vai acabar virando "a coitadinha". Uma pessoa que tem muita
boa vontade, boas idéias, uma
história impecável, mas que o governo empurra para escanteio a
todo momento. Acho que ela tem
de tomar cuidado, porque de uma
hora para outra não vai ser nem
mais consultada.
Folha - O deputado estadual Carlos Minc [PT-RJ] disse que o ministro José Dirceu [Casa Civil] se comprometeu a atender algumas reivindicações.
Von der Weid - A credibilidade
do José Dirceu em relação às promessas é baixa. Na primeira furada, que foi a MP 113 [sobre transgênicos], eles também declararam que iria ser cumprida, que
não haveria outra safra, mas houve. Das conferências estaduais de
meio ambiente, saíram muitas
moções com críticas ao governo.
Folha - E a credibilidade do governo e do presidente Lula?
Von der Weid - No meio ambientalista, é muito baixa. Há gente
que diz que temos que "partir pro
pau", que não deve ser feita nenhuma concessão. E outros que
dizem que a questão ambiental
está muito ruim, mas há aspectos
positivos. Sobre o presidente Lula, pegando o exemplo dos transgênicos, a sensação é que está sendo extremamente mal informado.
Já fez duas ou três afirmações falsas. Como não pode ser especialista em tudo, repete o que algum
assessor disse.
Folha - Vocês já falaram pessoalmente com Lula sobre a questão
transgênicos?
Von der Weid - O único momento em que conseguimos conversar
foi após uma reunião do Consea
[Conselho de Segurança Alimentar], parados em pé na porta da
sala. Eu levantei a proposta da sociedade civil de segregar a soja
transgênica da não-transgênica
no Rio Grande do Sul e exportar
parte para onde ainda fosse possível. O presidente respondeu que
era impossível, que a safra estava
toda contaminada. Eu disse a ele:
"O senhor está mal informado".
Folha - E a resposta?
Von der Weid - Ele foi embora.
Mas, de repente, virou-se para
trás e disse que iria "mandar o Zé
lhe chamar". Entendemos que
fosse o ministro José Dirceu. Isso
foi tudo o que conseguimos. O
"Zé" nunca nos chamou.
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