São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Acusados dizem que negociaram um mês

Depoimentos de Vedoin e do ex-petista Valdebran mostram que operação para compra do dossiê incluiu ao menos cinco encontros

Segundo envolvidos no escândalo, Oswaldo Bargas, ex-membro da campanha de Lula, sabia do pagamento pelo material contra o PSDB

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA EM CUIABÁ

Depoimentos de integrantes da máfia dos sanguessugas e de petistas envolvidos com a compra do dossiê contra políticos tucanos detalham como a operação montada pelo PT para atingir o PSDB levou um mês, em pelo menos cinco encontros, até ser interrompida com a prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, em 15 de setembro, no hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão.
O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e Gedimar ficaram encarregados de negociar diretamente com a quadrilha, incluindo os valores que seriam pagos pelo dossiê, de acordo com os depoimentos.
Oswaldo Bargas, que integrava a campanha do presidente Lula e está diretamente ligado ao escândalo, também tomou conhecimento do pagamento pelos documentos.
No dia 11 deste mês, num dos muitos depoimentos que prestou à Justiça Federal, Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e autor do dossiê, contou como começou a transação para o fornecimento do material que o PT pretendia usar contra José Serra, governador eleito de São Paulo.
Vedoin disse que tinha um crédito a receber de seu amigo Valdebran, um empresário então filiado ao PT de Cuiabá, no valor atualizado de R$ 800 mil. Logo depois de ter deixado da prisão, no dia 11 de julho deste ano, Vedoin disse que passou a cobrar a dívida de Valdebran, pois estava sem dinheiro até mesmo para pagar seus advogados.
Segundo Vedoin, por volta do dia 15 de agosto, Valdebran o procurou querendo saber se ele ainda possuía fotografias e uma fita de vídeo em que Serra, na época ministro da Saúde, participava de um evento de entrega de ambulâncias em Cuiabá fornecidas pela quadrilha.
Valdebran lhe teria dito que, com o material, levantaria R$ 1 milhão, dinheiro suficiente para quitar a dívida com a família Vedoin. De acordo com o chefe da máfia dos sanguessugas, foi a partir daí que as negociações para a venda do dossiê aos petistas começaram.
A versão de Valdebran para o caso, prestada à PF no dia 3 deste mês, difere da de Vedoin em alguns aspectos, mas em relação à cronologia dos fatos, é basicamente a mesma.
De acordo com Valdebran, foi Vedoin quem o procurou, em meados de agosto, pedindo-lhe que acompanhasse um encontro com pessoas ligadas ao PT "no qual seria feita uma negociação para ajuda financeira e jurídica", em troca de um material que seria repassado com exclusividade para o PT -o dossiê.
Na verdade, foram quatro encontros dos quais Valdebran disse ter participado com os petistas. O primeiro ocorreu no decorrer dos dias 23 e 24 de agosto, em Cuiabá. Do lado petista, estavam Expedito e Gedimar. Do outro, Luiz Antonio e seu pai, Darci. Após terem assistido à filmagem de Serra entregando as ambulâncias, os quatro trataram da negociação em si, disse Valdebran, colocando-se apenas como um espectador do episódio.
"Que nesse momento começaram a ser tratados os valores em troca do material, reunião esta a qual o declarante não interveio nem sabe qual foi a proposta inicial; que sabe somente que o valor pedido pelos Vedoin era alto e que a negociação não foi finalizada naquele dia, ficando combinado uma outra reunião para tratar do mesmo assunto."
O segundo encontro, no dia 5 de setembro, foi no hotel Metropolitan, em Brasília. O terceiro, no dia 7, se deu em Cuiabá. No dia 12, Expedito chegou a Cuiabá acompanhado de uma pessoa até então desconhecida de Valdebran. Era Oswaldo Bargas, apresentado a Valdebran por Expedito como "seu chefe". Num supermercado na avenida Miguel Sutil, Darci Vedoin teria ratificado o negócio, incluindo o valor de R$ 2 milhões, com Expedito e Bargas.
Três dias depois, na madrugada do dia 15, Gedimar e Valdebran foram presos pela PF com R$ 1,75 milhão que seria usado na compra do dossiê.


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