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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Acusados dizem que negociaram um mês
Depoimentos de Vedoin e do ex-petista Valdebran mostram que operação para compra do dossiê incluiu ao menos cinco encontros
Segundo envolvidos no escândalo, Oswaldo Bargas, ex-membro da campanha de Lula, sabia do pagamento pelo material contra o PSDB
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA EM CUIABÁ
Depoimentos de integrantes
da máfia dos sanguessugas e de
petistas envolvidos com a compra do dossiê contra políticos
tucanos detalham como a operação montada pelo PT para
atingir o PSDB levou um mês,
em pelo menos cinco encontros, até ser interrompida com
a prisão de Gedimar Passos e
Valdebran Padilha, em 15 de setembro, no hotel Ibis, em São
Paulo, com R$ 1,75 milhão.
O ex-diretor do Banco do
Brasil Expedito Veloso e Gedimar ficaram encarregados de
negociar diretamente com a
quadrilha, incluindo os valores
que seriam pagos pelo dossiê,
de acordo com os depoimentos.
Oswaldo Bargas, que integrava a campanha do presidente
Lula e está diretamente ligado
ao escândalo, também tomou
conhecimento do pagamento
pelos documentos.
No dia 11 deste mês, num dos
muitos depoimentos que prestou à Justiça Federal, Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia
dos sanguessugas e autor do
dossiê, contou como começou a
transação para o fornecimento
do material que o PT pretendia
usar contra José Serra, governador eleito de São Paulo.
Vedoin disse que tinha um
crédito a receber de seu amigo
Valdebran, um empresário então filiado ao PT de Cuiabá, no
valor atualizado de R$ 800 mil.
Logo depois de ter deixado da
prisão, no dia 11 de julho deste
ano, Vedoin disse que passou a
cobrar a dívida de Valdebran,
pois estava sem dinheiro até
mesmo para pagar seus advogados.
Segundo Vedoin, por volta do
dia 15 de agosto, Valdebran o
procurou querendo saber se ele
ainda possuía fotografias e uma
fita de vídeo em que Serra, na
época ministro da Saúde, participava de um evento de entrega
de ambulâncias em Cuiabá fornecidas pela quadrilha.
Valdebran lhe teria dito que,
com o material, levantaria R$ 1
milhão, dinheiro suficiente para quitar a dívida com a família
Vedoin. De acordo com o chefe
da máfia dos sanguessugas, foi a
partir daí que as negociações
para a venda do dossiê aos petistas começaram.
A versão de Valdebran para o
caso, prestada à PF no dia 3
deste mês, difere da de Vedoin
em alguns aspectos, mas em relação à cronologia dos fatos, é
basicamente a mesma.
De acordo com Valdebran,
foi Vedoin quem o procurou,
em meados de agosto, pedindo-lhe que acompanhasse um encontro com pessoas ligadas ao
PT "no qual seria feita uma negociação para ajuda financeira
e jurídica", em troca de um material que seria repassado com
exclusividade para o PT -o
dossiê.
Na verdade, foram quatro encontros dos quais Valdebran
disse ter participado com os petistas. O primeiro ocorreu no
decorrer dos dias 23 e 24 de
agosto, em Cuiabá. Do lado petista, estavam Expedito e Gedimar. Do outro, Luiz Antonio e
seu pai, Darci. Após terem assistido à filmagem de Serra entregando as ambulâncias, os
quatro trataram da negociação
em si, disse Valdebran, colocando-se apenas como um espectador do episódio.
"Que nesse momento começaram a ser tratados os valores
em troca do material, reunião
esta a qual o declarante não interveio nem sabe qual foi a proposta inicial; que sabe somente
que o valor pedido pelos Vedoin era alto e que a negociação
não foi finalizada naquele dia,
ficando combinado uma outra
reunião para tratar do mesmo
assunto."
O segundo encontro, no dia 5
de setembro, foi no hotel Metropolitan, em Brasília. O terceiro, no dia 7, se deu em Cuiabá. No dia 12, Expedito chegou
a Cuiabá acompanhado de uma
pessoa até então desconhecida
de Valdebran. Era Oswaldo
Bargas, apresentado a Valdebran por Expedito como "seu
chefe". Num supermercado na
avenida Miguel Sutil, Darci Vedoin teria ratificado o negócio,
incluindo o valor de R$ 2 milhões, com Expedito e Bargas.
Três dias depois, na madrugada do dia 15, Gedimar e Valdebran foram presos pela PF
com R$ 1,75 milhão que seria
usado na compra do dossiê.
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