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ELIO GASPARI
Lula: "Fiz 37.892'; Alckmin: "Farei 14,63%'
Os candidatos recitam números porque não querem falar de temas que dividem o eleitorado. Preferem iludi-lo
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EREMILDO É UM idiota e adora debates eleitorais. Depois de assistir ao dueto Lula-Alckmin de
quinta-feira, era outra pessoa. Instruído, foi à geladeira em busca de 8,3 cervejas a uma temperatura 7,5 inferior
às da rodada anterior. Estimou que
dentro de 125 minutos reteria apenas
1.345 ml, ou 46% da bebida ingerida.
Graças a Lula e Alckmin, as cervejas do
idiota nunca mais serão as mesmas.
Geraldo Alckmin é um dedicado
mastigador de números. Pode cometer
uma frase sem verbo, mas sempre que
pode enfia uma estatística.
Lula brinca de cabra-cega com o singular e o plural, mas evitava o pernosticismo numérico. Afinal, é capaz de confundir 170 com 170 mil e dívida externa
com dívida líquida.
Estimulado por um papelório constrangedor, "nosso guia" combateu
Alckmin no campo da mastigação de
estatísticas. Referiu-se a um "41 milhões de biodiesel" sem que se possa saber se falava de reais, toneladas ou dossiês. Ao recitatório de Alckmin contrapôs autoexaltação. Se tivessem feito
um torneio para mostrar quem decorou mais números de telefones, daria
na mesma. (Eremildo lembra de 12.)
À primeira vista, a mistificação numérica do debate é produto de um hábito de Alckmin e de uma tática de Lula. Na segunda vista é bem mais. Os dois
caíram na numerologia porque não
querem falar de coisa séria. Alckmin
não perguntou nem Lula respondeu de
onde veio o dinheiro do dossiê Vedoin.
Alckmin não deu a menor pista de onde
foram parar os R$ 200 bilhões da privataria tucana. Resolveram encenar o papel de candidatos de alto nível. Para
evitar temas políticos capazes de dividir o eleitorado, recitaram números
desconexos, apolíticos. Não se pode dizer qual foi o melhor, mas pode-se garantir que os dois pensam que são espertos. Como Eremildo sabe que é um
idiota, não se incomoda.
A SEGURANÇA DO PAN ESTÁ DORMINDO
Há uma trapalhada no ar. A
montagem do dispositivo de
segurança dos Jogos Pan-americanos do Rio vai devagar, quase parando. A tocha
será acesa em julho e até agora não foi definido o conceito
das licitações para a compra
dos serviços e equipamentos
necessários para garantir a
paz dos jogos. Nas Olimpíadas
de Atlanta, Sidney e Atenas,
bem como na Copa da Alemanha, um ano antes do início da
festa, todos os serviços de segurança já estavam contratados.
A verba para cobrir essas
despesas é de R$ 380 milhões.
Ela será usada na compra de
um sistema de rádio digital,
equipamentos de vigilância
(cerca de 1.500 câmeras), 20
helicópteros e na montagem
de uma central integrada de
comando e controle.
Até agora, só foi aberta a licitação para a compra dos helicópteros e do sistema de rádio. Não se definiu se o serviço
será montado a partir de um
só contrato ou se as encomendas serão fatiadas. Os precedentes internacionais unificaram o serviço. Nesse caso,
haverá uma disputa entre
consórcios que giram em torno de meia dúzia de empresas
internacionais. Caso se escolha o método fatiado, poderão
ser necessárias dez licitações.
A Secretaria Nacional de
Segurança sugere, há quase
um ano, que a decisão será tomada no mês que vem. Seja
qual for, está atrasada. Tão
atrasada que o Ministério da
Defesa começa a pensar num
plano B, repetindo a bem-sucedida intervenção militar da
Eco-92.
Todas as cidades que hospedaram grandes jogos herdaram investimentos na segurança. Uma decisão que venha a tratar o Pan como uma
emergência policial resultará
no desperdício de boa parte
do dinheiro gasto. A operação
soldado/cachorro da Eco-92
foi um sucesso, mas quando
os recrutas voltaram para os
quartéis, e os cães aos canis, o
Rio continuou lindo e igual.
MUITA TINTA
A caneta com mais tinta no
palácio do Planalto é a de Dilma
Rousseff, chefe da Casa Civil.
Se alguém quiser conferir, ela
dirá que só escreve a lápis. Faz
parte da coreografia de quem
tem caneta com muita tinta.
REPÚBLICA VELHA
O tucanato contraiu dois vírus. Ambos pretendem desconsiderar o resultado da eleição
de domingo. Um é o vírus do
terceiro turno, interessado na
derrubada ou na paralisia do
governo caso "nosso guia" vença a eleição. O outro é o vírus da
anulação da essência do mandato do presidente eleito.
Arma um conchavo com os
grão tucanos Aécio Neves e José Serra para esterilizar a essência da escolha do eleitorado.
Dois pratos desse menu:
- Reforma da Previdência.
Leia-se uma tunga na idade mínima exigida para a aposentadoria do trabalhador.
- Reforma política. Cria o financiamento público das campanhas, ou caixa três. Se deixarem, tungam o direito dos eleitores escolherem diretamente
todos os deputados. É o tal voto
de lista, que entrega às direções
partidárias a indicação de um
pedaço das bancadas.
Relança-se a política do café-com-leite da República Velha,
época em que não havia Previdência Social, leis trabalhistas
nem voto com cédula.
FFHH X LULA
Ou Lula descarrega a obsessão que encostou na sua alma
contra FFHH ou acabará prisioneiro do ex-presidente.
O monarca percebeu a carga
nervosa das reações de "nosso
guia" e, como o gato Tom,
diverte-se assustando o ratinho
Jerry.
O que ele fez?
Neste final de campanha eleitoral, a sorte faltou ao empresário Carlos Jereissati. Além de todos os aborrecimentos que a época atrai, um capanga do seu Shopping Center Iguatemi de Campinas deu um tiro no rosto de um
jovem de 26 anos, cuja moto derrubara alguns cones de sinalização na saída do estacionamento.
Antes de tomar o tiro, Rafael Silva de Paula Moreira, perguntou:
"O que eu fiz?"
Privata abatido
Recordar é viver: em janeiro de
1999, o doutor Paulo Leme, diretor da casa bancária Goldman
Sachs, esteve a um passo de ser
convidado para uma diretoria do
Banco Central. Foi abatido em
vôo porque defendeu a privatização da Petrobras, da Caixa e do
Banco do Brasil. O tiro foi de
FFHH. A pontaria, de José Serra.
Foi "nosso guia"
Roberto Busato, presidente da
OAB, esclarece a origem da proposta de convocação de uma
Constituinte exclusiva, ocorrida
em agosto: "Foi o presidente Lula
quem sugeriu a um grupo de juristas que o visitou no palácio do
Planalto a convocação de uma
mini-assembléia Constituinte".
No encontro, estavam três ex-presidentes da Ordem. Busato
lembra que, dias depois, o Conselho da Ordem rechaçou a idéia,
por golpista.
Vingança
Demorou quase 500 anos, mas
o bispo Sardinha vingou-se dos
caetés que o comeram em Alagoas. No Leblon, uma senhora arrancou a dentada o dedo de uma
petista. Inicialmente ela foi classificada como tucana, mas declarou-se eleitora de "nosso guia". O
presidente do PT, Marco Aurélio
Garcia, poderia convidá-la para
treinar os pitbulls do partido.
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