São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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Petista nega saber origem da verba do dossiê e ataca Serra

Apontado como articulador da negociação, Lorenzetti disse que não tratou de dinheiro

Afirmou também que tinha informação de que Vedoin pagou dívidas de campanha de Serra; líder tucano chama Lorenzetti de delinqüente


RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontado pela Polícia Federal como o "articulador" da compra do dossiê contra políticos tucanos, o ex-coordenador de inteligência da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, Jorge Lorenzetti, disse ontem à CPI dos Sanguessugas "não ter a menor idéia" de onde veio o R$ 1,7 milhão que seria usado na compra dos documentos.
Afastado da campanha de Lula assim que estourou o escândalo, Lorenzetti se recusou a responder a algumas perguntas e partiu para o ataque contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), dizendo que o PT foi atrás do dossiê porque tinha informações "consistentes" de que a família Vedoin arcou com pagamento de dívidas da campanha presidencial do tucano, em 2002.
Serra não quis comentar. Um de seus principais articuladores, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), reagiu: "É uma fala de um delinqüente. Quem tem que se explicar é o [Aloizio] Mercadante, que é vinculado a toda essa gente".
Nas quase três horas em que prestou depoimento, ele disse que encontrou com seus subordinados acusados de participação no caso, mas que, em nenhum momento, os questionou sobre a origem do dinheiro.
"Não falei com eles sobre isso, é um trauma para mim", disse, acrescentando não ter "cometido nenhum crime" e ter sido "condenado de forma brutal pela imprensa" no episódio.
Em relatório parcial das investigações, a PF sustenta que Lorenzetti comandou uma rede de petistas com o objetivo de comprar, por R$ 1,7 milhão, um dossiê que supostamente vincularia Serra ao esquema dos sanguessugas. Os papéis estariam em poder da família Vedoin, que liderava a máfia.
Lorenzetti reconhece ter tentado obter a documentação, mas negou ter aprovado o pagamento em dinheiro e disse ter ficado "chocado" com a prisão, no dia 15 de setembro, de um de seus subordinados, Gedimar Passos, e do também ex-petista Valdebran Padilha. Os dois portavam R$ 1,7 milhão.
"Não tenho a menor idéia de onde veio esse dinheiro. Se encontrarem qualquer vínculo comigo, também vão descobrir que fui eu quem pisou na Lua pela primeira vez", disse.
Ele isentou de participação no caso o então coordenador da campanha de Lula, Ricardo Berzoini, e o ex-assessor da Presidência Freud Godoy. Mas disse que cabe a Gedimar e a Hamilton Lacerda, apontado pela PF como quem entregou o R$ 1,7 milhão a Gedimar, explicar a origem do dinheiro. Lacerda fazia parte da campanha de Aloizio Mercadante (PT), adversário de Serra na eleição.
"Já que todos negam, a responsabilidade agora de dizer a origem do dinheiro ficou com Gedimar, que foi preso com ele", afirmou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da comissão para o caso do dossiê. Gedimar faltou ontem ao depoimento sob o argumento de que estava doente.
Ao negar ter autorizado seus subordinados a pagar pelo dossiê, Lorenzetti reconheceu, entretanto, como havia dito anteriormente à PF, que se comprometera a se "empenhar" para conseguir "apoio jurídico" aos Vedoin. "Extrapolei as minhas funções ao oferecer apoio jurídico", disse. "Isso é compra de informação, do mesmo jeito, com uma roupagem mais nobre", disse o deputado tucano Júlio Redecker (RS).
O embate entre Lorenzetti e os tucanos cresceu quando dois petistas o estimularam a dizer por que ele tinha interesse em obter a documentação dos Vedoin. "Quem viu esses dados disse a mim que eram informações consistentes. Foi relatado que teria havido uma reunião entre o Serra e os Vedoin. Os relatos eram que os cheques eram pagamentos de restos a pagar da campanha a Presidência da República do candidato José Serra", afirmou, em resposta ao questionamento de Ideli Salvatti (PT-SC). "O relato que tive é que não eram informações falsas, que pareciam totalmente autênticas", acrescentou.
Ele se referia a 15 cheques, no total de R$ 600 mil, que teriam sido repassados pelos Vedoin a Abel Pereira, empresário de Piracicaba supostamente ligado aos tucanos. A PF investiga se Abel interferiu na liberação de verbas do ministério da Saúde para o esquema, durante a gestão do tucano Barjas Negri, que sucedeu Serra no posto.
"Foi tudo combinado [entre os petistas e Lorenzetti]. Ele [Lorenzetti] tem uma mente altamente seletiva, capaz de criar teses para prejudicar o PSDB, ao mesmo tempo que diz não saber de nada que seus subordinados fizeram", disse o deputado tucano Carlos Sampaio, sub-relator da CPI.


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