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Petista nega saber origem da verba do dossiê e ataca Serra
Apontado como articulador da negociação, Lorenzetti disse que não tratou de dinheiro
Afirmou também que tinha informação de que Vedoin pagou dívidas de campanha de Serra; líder tucano chama Lorenzetti de delinqüente
RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado pela Polícia Federal como o "articulador" da
compra do dossiê contra políticos tucanos, o ex-coordenador
de inteligência da campanha de
Luiz Inácio Lula da Silva, Jorge
Lorenzetti, disse ontem à CPI
dos Sanguessugas "não ter a
menor idéia" de onde veio o R$
1,7 milhão que seria usado na
compra dos documentos.
Afastado da campanha de
Lula assim que estourou o escândalo, Lorenzetti se recusou
a responder a algumas perguntas e partiu para o ataque contra o governador eleito de São
Paulo, José Serra (PSDB), dizendo que o PT foi atrás do dossiê porque tinha informações
"consistentes" de que a família
Vedoin arcou com pagamento
de dívidas da campanha presidencial do tucano, em 2002.
Serra não quis comentar. Um
de seus principais articuladores, o líder do PSDB na Câmara,
Jutahy Magalhães (BA), reagiu:
"É uma fala de um delinqüente.
Quem tem que se explicar é o
[Aloizio] Mercadante, que é
vinculado a toda essa gente".
Nas quase três horas em que
prestou depoimento, ele disse
que encontrou com seus subordinados acusados de participação no caso, mas que, em nenhum momento, os questionou
sobre a origem do dinheiro.
"Não falei com eles sobre isso, é um trauma para mim", disse, acrescentando não ter "cometido nenhum crime" e ter sido "condenado de forma brutal
pela imprensa" no episódio.
Em relatório parcial das investigações, a PF sustenta que
Lorenzetti comandou uma rede de petistas com o objetivo de
comprar, por R$ 1,7 milhão, um
dossiê que supostamente vincularia Serra ao esquema dos
sanguessugas. Os papéis estariam em poder da família Vedoin, que liderava a máfia.
Lorenzetti reconhece ter
tentado obter a documentação,
mas negou ter aprovado o pagamento em dinheiro e disse ter
ficado "chocado" com a prisão,
no dia 15 de setembro, de um de
seus subordinados, Gedimar
Passos, e do também ex-petista
Valdebran Padilha. Os dois portavam R$ 1,7 milhão.
"Não tenho a menor idéia de
onde veio esse dinheiro. Se encontrarem qualquer vínculo
comigo, também vão descobrir
que fui eu quem pisou na Lua
pela primeira vez", disse.
Ele isentou de participação
no caso o então coordenador da
campanha de Lula, Ricardo
Berzoini, e o ex-assessor da
Presidência Freud Godoy. Mas
disse que cabe a Gedimar e a
Hamilton Lacerda, apontado
pela PF como quem entregou o
R$ 1,7 milhão a Gedimar, explicar a origem do dinheiro. Lacerda fazia parte da campanha
de Aloizio Mercadante (PT),
adversário de Serra na eleição.
"Já que todos negam, a responsabilidade agora de dizer a
origem do dinheiro ficou com
Gedimar, que foi preso com
ele", afirmou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da comissão para o caso
do dossiê. Gedimar faltou ontem ao depoimento sob o argumento de que estava doente.
Ao negar ter autorizado seus
subordinados a pagar pelo dossiê, Lorenzetti reconheceu, entretanto, como havia dito anteriormente à PF, que se comprometera a se "empenhar" para
conseguir "apoio jurídico" aos
Vedoin. "Extrapolei as minhas
funções ao oferecer apoio jurídico", disse. "Isso é compra de
informação, do mesmo jeito,
com uma roupagem mais nobre", disse o deputado tucano
Júlio Redecker (RS).
O embate entre Lorenzetti e
os tucanos cresceu quando dois
petistas o estimularam a dizer
por que ele tinha interesse em
obter a documentação dos Vedoin. "Quem viu esses dados
disse a mim que eram informações consistentes. Foi relatado
que teria havido uma reunião
entre o Serra e os Vedoin. Os relatos eram que os cheques eram
pagamentos de restos a pagar
da campanha a Presidência da
República do candidato José
Serra", afirmou, em resposta ao
questionamento de Ideli Salvatti (PT-SC). "O relato que tive é que não eram informações
falsas, que pareciam totalmente autênticas", acrescentou.
Ele se referia a 15 cheques, no
total de R$ 600 mil, que teriam
sido repassados pelos Vedoin a
Abel Pereira, empresário de Piracicaba supostamente ligado
aos tucanos. A PF investiga se
Abel interferiu na liberação de
verbas do ministério da Saúde
para o esquema, durante a gestão do tucano Barjas Negri, que
sucedeu Serra no posto.
"Foi tudo combinado [entre
os petistas e Lorenzetti]. Ele
[Lorenzetti] tem uma mente
altamente seletiva, capaz de
criar teses para prejudicar o
PSDB, ao mesmo tempo que
diz não saber de nada que seus
subordinados fizeram", disse o
deputado tucano Carlos Sampaio, sub-relator da CPI.
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