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GOVERNO
Franceses continuarão minoritários, afirma nota
Embraer diz que
controle não muda
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha Vale
O diretor-presidente da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), Maurício Novis Botelho, afirmou que os sócios franceses não têm nenhuma perspectiva
de integrar o controle do capital
social da empresa.
Em comunicado oficial sobre a
venda de ações ordinárias às empresas Aérospatiale Matra, Dassault Aviation, Thompson-CSF e
Snecma, divulgado ontem, Botelho afirma: "O acordo envolve tão
somente uma posição minoritária
de 20% das ações ordinárias em
circulação (ou 10% do capital social), fora do acordo de controle
da Embraer e sem qualquer perspectiva de integrá-lo".
Em seguida, ele afirma: "O controle acionário e o comando efetivo da Embraer continuam com
seus atuais controladores: Bozano, Simonsen, Previ e Sistel".
No comunicado, Botelho diz
que "não há qualquer outro documento firmado, ou acerto feito,
diverso daquele constante dos
documentos já divulgados e dos
demais entregues à Aeronáutica."
Segundo ele, "a lei, o estatuto da
Embraer e o interesse nacional foram, e serão sempre, preservados
pela Embraer e por seus acionistas controladores. Qualquer exigência legítima da autoridade
brasileira para salvaguardar os interesses do Sistema de Defesa Nacional será, como sempre foi,
prontamente atendida."
Botelho afirma ainda que as autoridades tinham conhecimento
da decisão dos controladores e da
direção da Embraer de buscar
uma parceria estratégica com empresas estrangeiras.
No comunicado, o diretor-presidente da Embraer afirma que as
negociações com os franceses estão descritas em documentos firmados em 23 de julho e em adendos feitos até 22 de outubro -para atender a ponderações da Aeronáutica-, e que "todos esses
documentos foram devidamente
entregues às autoridades".
Botelho lembra no texto que a
União detém uma ação ordinária
de classe especial, chamada de
"golden share", mas frisa que esse
poder de veto não se aplica a operações de venda de ações não vinculadas ao controle da Embraer.
As ações "golden share" permitem que a União exerça poder de
veto sobre sete casos listados individualmente no estatuto social da
Embraer, abrangendo basicamente os negócios militares em
geral, a modificação de certos artigos desse estatuto e a transferência do controle acionário.
Visita
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) mostrou documentos internos com mudanças na estrutura do conselho administrativo
que reduzem o poder da União
nas decisões da Embraer.
De acordo com os papéis, apresentados por Suplicy após visita à
Embraer, em São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo), o conselho passará a contar
com dois representantes das empresas franceses que adquiriram
20% das ações ordinárias.
Com a nova estrutura, que será
submetida à aprovação da assembléia geral no próximo dia 10, o
conselho administrativo da Embraer terá 13 integrantes. Hoje,
são 11 membros.
Essa composição reduz a participação da União, que passa a
contar com duas das 13 cadeiras
no conselho administrativo da
empresa. ""A União e os trabalhadores, que continuam com somente um conselheiro, perderam
parte do poder de interferir nas
decisões", disse Suplicy.
A União, no entanto, fica resguardada pelas ações ""golden
share". Segundo o senador, ""o
poder de veto se mantém, mas em
situações restritas".
Apesar das quase quatro horas
de conversas com a direção da
Embraer, Suplicy afirmou não ter
ficado satisfeito com as explicações a respeito da transferência de
ações ao consórcio francês.
""É preciso analisar o edital e os
documentos que recebi hoje. Há
muitas mudanças no contrato social que precisam ser melhor avaliadas", afirmou Suplicy.
O senador pretende convocar
Maurício Botelho, o comando da
Aeronáutica e o ministro da Defesa, Elcio Alvares, para que expliquem as negociações com os franceses na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Suplicy disse também ter ouvido do diretor-presidente da Embraer que o consórcio francês
chegou a exigir pelo menos 25%
das ações com direito a voto.
Na conversa, confirmada pela
deputada federal Angela Guadagnin (PT-SP), Botelho teria afirmado que os militares foram radicalmente contra a manutenção de
um quarto das ações com direito
a voto com as empresas francesas.
O senador apresentou ainda um
conjunto de anotações com os
números que envolveram a negociação sobre a venda das ações.
A razão da exigência seria impedir que outros grupos interessados na Embraer pudessem, dentro da composição acionária, superar o número de ações em poder dos franceses.
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