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OPERAÇÃO ANACONDA
Conversa grampeada com o agente da PF César Herman Rodriguez mostra negociação para um falso empréstimo
Rocha Mattos é acusado de falsificar IR
FREDERICO VASCONCELOS
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, da 4ª Vara Criminal
de São Paulo, foi acusado de falsificar a declaração de Imposto de
Renda entregue neste ano para
ocultar aquisição de bens (acréscimo patrimonial) sem comprovação de renda em 2002.
Relatório da equipe de inteligência da Polícia Federal conclui
que se trata de caso de "lavagem
de dinheiro".
Numa conversa telefônica
grampeada pela Operação Anaconda, em 11 de abril, Rocha Mattos combinou com o agente da PF
César Herman Rodriguez a simulação de um "empréstimo" de R$
48 mil, com efeito retroativo a dezembro, quatro meses antes do
telefonema. Rocha Mattos e Rodriguez estão presos.
"Você tem condições de me emprestar, no papel, né, pro dia 23,
24 de dezembro do ano passado,
50 mil reais?", perguntou o juiz.
Para evitar suspeitas, Rocha
Mattos sugere ao policial, no telefonema: "Olha, é melhor, em vez
de 50, [que] é um número muito
redondo, 48 mil, tá?"
Rodriguez concorda com o
"empréstimo", promete passar
seus dados cadastrais por fax. Na
declaração de Imposto de Renda
de Rodriguez, relativa ao exercício 2003 (ano-calendário 2002), o
policial discriminou no quadro da
declaração de bens e direitos:
"Empréstimo de R$ 48.000,00
realizado em 23.12.2002 para João
Carlos da Rocha Mattos".
Rocha Mattos registrou em sua
declaração, no quadro de dívidas
e ônus reais: "Empréstimo contraído em dezembro/2002, com
Cesar Herman Rodriguez, CPF
470.342.706-00: R$ 48.000,00".
No dia do "grampo", o juiz comenta o afastamento do desembargador Roberto Haddad, do
Tribunal Regional Federal, na
véspera, dia 10 de abril último.
A denúncia por formação de
quadrilha feita pelo Ministério
Público Federal afirma que, "dada
a intimidade existente entre César
Herman e João Carlos, vale-se o
magistrado da colaboração do
servidor da Polícia Federal para
burlar o fisco".
A denúncia traz parte da conversa em que o juiz diz que a operação não despertaria suspeitas:
"Para todos os efeitos, fica tranquilo. E outra coisa, eu, ainda na
condição de juiz, é claro que qualquer pessoa emprestaria dinheiro, para agradar, né? Fica bem legal ainda, entendeu?"
Rodriguez lembra a amizade
dos dois, mas pede ao juiz Rocha
Mattos que formalize o empréstimo, sugerindo que ele faça uma
promissória, com correção.
"Faz para mim, eu assino isso
aí", respondeu Rocha Mattos.
Ao definir como seria feito o
acerto de contas, o juiz revela que
já previa afastar-se da Justiça.
"E depois, se eu não puder te pagar, a gente faz... Eu pago em serviços jurídicos, é uma merda, daqui há algum tempo você também
não está, não é? Tudo bem."
O Ministério Público Federal
juntou à denúncia a transcrição
de outra gravação, uma conversa
entre Norma Cunha, ex-mulher
de Rocha Mattos, e o agente Rodriguez.
Segundo a denúncia, "o falso
empréstimo é de conhecimento
tanto da ex-companheira de João
Carlos, Norma, bem como da
atual (Aline)". Norma alega que
Rodriguez "esquentou" dinheiro
para encobrir a compra de um
imóvel para Aline por Rocha Mattos. E afirma temer que Aline viesse a ser "responsável por mandar
todos para a cadeia".
No segundo diálogo, a ex-mulher do juiz provoca Rodriguez:
"Você está se saindo muito mal
como planejador tributário".
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