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PRIMEIRO EMPREGO
Visita foi a Maré Ministros estiveram em favela sem polícia
DA SUCURSAL DO RIO
A visita dos ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Cultura, Gilberto Gil, ao complexo da
Maré (zona norte do Rio de Janeiro), anteontem, não contou com
um policial sequer. A segurança
de ambos foi feita por moradores
de favelas da região, repetindo o
que já havia acontecido em outras
visitas de autoridades a lugares
des onde é forte a presença do tráfico de drogas.
Segundo Marília Pastuk, superintendente da Ação Comunitária
do Brasil, ONG (organização não-governamental) que recebeu os
ministros, o cerimonial do Ministério do Trabalho entrou em contato para saber se seria necessário
algum aparato policial.
"Dissemos que não havia necessidade. Estamos há 33 anos na
Maré, temos acesso a todos os
moradores e nenhuma relação
com o tráfico. Conversamos com
as associações de moradores e
com a região administrativa [representação da prefeitura] e ficou
claro que a segurança seria total",
afirmou Pastuk.
Sobre uma possível autorização
do tráfico à sua visita, Berzoini
afirmou que isso não era necessário porque "a comunidade sabe o
significado do projeto [Primeiro
Emprego] para o complexo".
"Não há nenhum tipo de acordo,
mas há obviamente um respeito
de toda a comunidade", disse.
Poder paralelo
Para o cientista social Jailson
Souza e Silva, estudioso da situação das favelas, em especial a da
Maré, o Estado reconhece em casos como esse que o seu poder é o
paralelo, não o do tráfico.
"É uma conseqüência da falta
de ação do poder público nessas
áreas da cidade. A lógica do Estado é intervencionista: quer ver a
favela como território ocupado,
no qual todos são suspeitos. É natural, então, que seja mais seguro
para uma autoridade ir à favela
sem a polícia", disse Souza e Silva.
Marília Pastuk diz que freqüenta a Maré inclusive à noite e que é
impossível não ouvir tiros disparados por traficantes, mas que
nunca sua ONG sofreu ameaça ou
constrangimento.
"A Vila do João [área onde fica a
ONG] não é só violência. Mas o
outro lado não é mostrado. E o lado mostrado é pintado em tintas
fortes", afirmou ela, cuja ONG
não procura tirar diretamente jovens do tráfico. "Oferecemos
oportunidades de trabalho e expectativa de vida", disse.
Juntos para lançar na Maré um
Ponto de Cultura e a segunda fase
do Consórcio Social da Juventude
-que executa no Rio o programa
Primeiro Emprego-, Gil e Berzoini passaram cerca de duas horas na Vila do João.
Associação do governo federal
com empresários e ONGs, o Consórcio Nacional da Juventude dará cursos em 2005 para 2.400 jovens (entre 16 e 24 anos), três vezes mais do que em 2003. Ofícios
de cabeleireira, mecânico e costureira são alguns dos ensinados.
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