São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRIMEIRO EMPREGO

Visita foi a Maré Ministros estiveram em favela sem polícia

DA SUCURSAL DO RIO

A visita dos ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Cultura, Gilberto Gil, ao complexo da Maré (zona norte do Rio de Janeiro), anteontem, não contou com um policial sequer. A segurança de ambos foi feita por moradores de favelas da região, repetindo o que já havia acontecido em outras visitas de autoridades a lugares des onde é forte a presença do tráfico de drogas.
Segundo Marília Pastuk, superintendente da Ação Comunitária do Brasil, ONG (organização não-governamental) que recebeu os ministros, o cerimonial do Ministério do Trabalho entrou em contato para saber se seria necessário algum aparato policial.
"Dissemos que não havia necessidade. Estamos há 33 anos na Maré, temos acesso a todos os moradores e nenhuma relação com o tráfico. Conversamos com as associações de moradores e com a região administrativa [representação da prefeitura] e ficou claro que a segurança seria total", afirmou Pastuk.
Sobre uma possível autorização do tráfico à sua visita, Berzoini afirmou que isso não era necessário porque "a comunidade sabe o significado do projeto [Primeiro Emprego] para o complexo". "Não há nenhum tipo de acordo, mas há obviamente um respeito de toda a comunidade", disse.

Poder paralelo
Para o cientista social Jailson Souza e Silva, estudioso da situação das favelas, em especial a da Maré, o Estado reconhece em casos como esse que o seu poder é o paralelo, não o do tráfico.
"É uma conseqüência da falta de ação do poder público nessas áreas da cidade. A lógica do Estado é intervencionista: quer ver a favela como território ocupado, no qual todos são suspeitos. É natural, então, que seja mais seguro para uma autoridade ir à favela sem a polícia", disse Souza e Silva.
Marília Pastuk diz que freqüenta a Maré inclusive à noite e que é impossível não ouvir tiros disparados por traficantes, mas que nunca sua ONG sofreu ameaça ou constrangimento.
"A Vila do João [área onde fica a ONG] não é só violência. Mas o outro lado não é mostrado. E o lado mostrado é pintado em tintas fortes", afirmou ela, cuja ONG não procura tirar diretamente jovens do tráfico. "Oferecemos oportunidades de trabalho e expectativa de vida", disse.
Juntos para lançar na Maré um Ponto de Cultura e a segunda fase do Consórcio Social da Juventude -que executa no Rio o programa Primeiro Emprego-, Gil e Berzoini passaram cerca de duas horas na Vila do João.
Associação do governo federal com empresários e ONGs, o Consórcio Nacional da Juventude dará cursos em 2005 para 2.400 jovens (entre 16 e 24 anos), três vezes mais do que em 2003. Ofícios de cabeleireira, mecânico e costureira são alguns dos ensinados.

Texto Anterior: ELIO GASPARI: Uma cartinha de Lula Noel
Próximo Texto: Investigação: Processo contra Nascimento vai para o STF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.