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BB repassou R$ 23 mi à DNA sem recibo
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal ponto do relatório
parcial divulgado ontem é uma
auditoria do Banco do Brasil que
indica a falta de notas fiscais ou
qualquer tipo de recibo que comprovem gastos de R$ 23,2 milhões, parte dos recursos transferidos pelo Banco do Brasil à agência de Marcos Valério para campanhas publicitárias dos cartões
de bandeira Visa.
Segundo membros da CPI, a informação reforça os sinais colhidos de desvio de dinheiro público
para o caixa dois do PT.
O valor sem comprovante está
entre os R$ 73,8 milhões repassados entre maio de 2003 e junho de
2004 pelo BB à DNA Propaganda,
de Marcos Valério.
O balanço da comissão apontou
ainda o repasse de R$ 20,3 milhões de empresas do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel
Dantas, e da Usiminas, à margem
dos contratos mantidos pelas
agências do publicitário mineiro.
A CPI investiga fontes públicas e
privadas de recursos nas contas
das empresas de Marcos Valério,
que movimentaram R$ 2,6 bilhões entre 1997 e 2005.
Apesar de o empresário também ter operado caixa dois do
PSDB, o relatório de mais de 400
páginas divulgado ontem pela
CPI dedica uma única linha à observação de que o valerioduto
existia antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto.
"Precedente assemelhado ocorreu em Minas Gerais, em 1998",
afirma o balanço da CPI, em referência ao esquema de caixa dois
supostamente alimentado por
empréstimos durante a campanha à reeleição do então governador tucano Eduardo Azeredo.
Auditoria interna do Banco do
Brasil constatou que também no
governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) houve irregularidades na gestão do dinheiro
destinado à publicidade dos cartões de bandeira Visa pelo Banco
do Brasil. O relatório afirma que
não foram localizados notas fiscais, faturas ou recibos de fornecedores ou prestadores de serviços que justificassem gastos de R$
48,3 milhões pagos a duas agências de publicidade -DNA Propaganda e Lowe Lintas- em 2001
e 2002. As agências teriam sido
notificadas pelo banco, mas nem
assim providenciaram comprovantes dos gastos.
"A ausência ou incompleteza de
documentos que se destinariam a
demonstrar a realização dos serviços e a comprovar os pagamentos efetuados limitam a evidenciação de que os recursos foram aplicados", diz a auditoria do BB.
O relator Osmar Serraglio aproveitou a exposição de ontem para
defender o Banco do Brasil. Segundo o deputado, o maior problema identificado na gestão pelo
banco dos recursos do Fundo de
Incentivo Visanet decorre da
atuação do ex-diretor de marketing Henrique Pizzolato. Ele foi
um dos responsáveis pela mudança de regras que garantiu o repasse antecipado à DNA, independentemente da definição de
campanhas publicitárias. Pizzolato, atualmente aposentado, se beneficiou de saque em dinheiro do
valerioduto. Apenas com a aplicação financeira do dinheiro repassado antecipadamente, a DNA
Propaganda teria tido ganho de
mais de R$ 5 milhões.
Provas
Ao longo de 411 páginas de balanço de mais de seis meses de atividade da CPI dos Correios, o relator tomou uma coincidência de
datas entre repasses de dinheiro
do Fundo Visanet pelo Banco do
Brasil e dois dos empréstimos tomados por Marcos Valério no
Banco Rural e no BMG para afirmar que foram desviados R$ 19,7
milhões para o valerioduto.
Numa das operações, já divulgada anteriormente, o Banco do
Brasil repassou, em março de
2004, R$ 35 milhões da Visanet
para a DNA. Quarenta dias depois
do pagamento da parcela, a agência aplicou R$ 10 milhões no
BMG. Essa aplicação serviu de garantia a empréstimo liberado
quatro dias depois para alimentar
o caixa dois do PT.
O relatório de ontem fala de
uma outra coincidência, com data
anterior. A Visanet pagou R$ 23,3
milhões à DNA em maio de 2003.
Em seguida, a agência fez uma
aplicação em fundo do BB e tomou um empréstimo no banco.
Com intervalo de poucos dias, outra agência de Valério, a SMPB,
tomou empréstimo no Banco Rural destinado ao caixa dois do PT,
e a DNA quitou o financiamento
de R$ 9,7 milhões com o Banco do
Brasil. "Comprovamos a utilização de recursos da Visanet pelo
valerioduto com começo, meio e
fim", avaliou Serraglio.
O principal objetivo dos trabalhos até aqui tem sido derrubar a
versão apresentada por Marcos
Valério e o ex-tesoureiro petista
Delúbio Soares, segundo a qual o
caixa dois do PT foi alimentado
por empréstimos bancários. Os
empréstimos teriam proporcionado às empresas do publicitário
mineiro R$ 51,8 milhões, contra
R$ 55,8 milhões que Marcos Valério afirma ter repassado a petistas
e aliados do governo. Ou seja, há
um rombo de R$ 4 milhões na
versão oficial do valerioduto.
Os supostos empréstimos não
foram pagos até hoje. Para a CPI,
serviam apenas para simular a entrada de dinheiro na contabilidade das empresas de Valério.
O relatório da CPI menciona investigações que só devem ser concluídas em fevereiro. Por ora, entre as empresas privadas que registram depósitos de valores elevados nas contas das empresas do
publicitário, a comissão detectou
o pagamento de R$ 8,7 milhões
pela Telemig e a Amazônia Celular além dos preços previstos em
contratos. A Brasil Telecom, controlada à época pelo mesmo grupo Opportunity, pagou R$ 4,7 milhões às agências do publicitário,
embora não mantivesse contratos
com a DNA nem com a SMPB.
Tampouco sem contrato com as
agências, a Usiminas teria pago
R$ 6,9 milhões às empresas.
O relatório de ontem também
menciona irregularidades encontradas em contratos dos Correios.
Somente com a operação da rede
postal noturna, o balanço registra
um superfaturamento de R$ 64
milhões no contrato com a
Skymaster.
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