São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CONCLUSÕES

Relatório preliminar aponta quatro "padrões" distintos para pagamentos do "mensalão"

CPI relaciona repasses a votações; PT pede cautela

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relatório preliminar da CPI dos Correios, divulgado ontem pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relacionou os pagamentos do "mensalão" ao ingresso de deputados federais de diversos partidos no PTB e no PP e a votações de interesse do governo federal no Congresso Nacional. Apontou ainda que, no caso de alguns pagamentos ao PL, a periodicidade chegou a ser semanal -em tom irônico, os repasses foram classificados ontem como "semanadão".
Segundo o relatório, foram registrados repasses das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza a deputados aliados do governo concentrados "em datas próximas às votações". Esse comportamento é registrado, de acordo com a CPI, a partir de setembro de 2003. Poucos dias antes, 27 de agosto, ocorrera a votação da polêmica reforma da Previdência Social.
No gráfico usado para supostamente comprovar a concentração de pagamentos, porém, os repasses aparecem diluídos em diversas datas, não necessariamente coincidentes com votações. A planilha apresentada pela CPI dos Correios registra saques para empresas e pessoas que não são parlamentares.
Também houve repasses antes de setembro, quando não havia votações importantes. Nesse caso, pela lógica da CPI, eles serviriam para justificar a "engorda" dos partidos aliados. Os petistas pediram cautela na análise dos dados.

Equilíbrio
"Evidentemente que existem algumas coincidências que surpreendem, em função de saques, de migrações partidárias, mas vamos ter as próximas semanas para apurar e ter claramente um quadro de como esses saques poderiam interferir nessas ações do Congresso", afirmou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que prometeu um relatório final "equilibrado".
"Acho que houve pagamentos a personagens políticos, isso não há como negar. Mas "mensalão", na lógica que se tenta afirmar, para patrocinar votações, trocas de partidos, isso não temos como comprovar", disse a senadora Ideli Salvati (PT-SC).
O dinheiro supostamente destinado a engordar filiações no PTB se concentrou em maio de 2003. Os pagamentos destinados ao PP pelo esquema montado pelo PT e por Marcos Valério, intermediados pela corretora Bônus-Banval, obedeceram a intervalos de 48 e 72 horas e ocorreram principalmente entre janeiro e fevereiro de 2004. PTB, PP e PL engordaram suas bancadas de deputados nos primeiros meses da gestão Lula. Os três partidos negam que tenham cooptado parlamentares ou vendido apoio ao governo em troca de recursos.

O que é "mensalão"
O relatório conceituou o termo "mensalão", usado pela primeira vez em junho, em entrevista à Folha, pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), que denunciou o esquema: "Fundo de recursos utilizado, especialmente, para atendimento a interesses político-partidários".
O documento apontou quatro "padrões" para o "mensalão". Um registra que os pagamentos feitos ao Partido Liberal por meio da empresa Guaranhuns ocorreram com uma freqüência semanal. Foram registradas transferências bancárias de diferentes valores num mesmo dia que, somadas, oscilaram de R$ 200 mil a R$ 500 mil nos dias 11, 19 e 26 de fevereiro, 6, 12, 17, 24 e 31 de março, e 4, 11, 18 e 25 de junho de 2003. "É o semanadão", brincou o deputado Serraglio. (MS, RV e SN)


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