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Governo libera vida partidária de ministros
Comissão de Ética Pública da Presidência permite que Bernardo e Marta atuem em suas siglas, mas veta Lupi, do PDT
Para o presidente interino da
comissão, ministro fere o
"código de conduta da alta
administração federal"; Lupi
sugere haver perseguição
AFONSO BENITES
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Comissão de Ética Pública
da Presidência liberou ao menos dez políticos -dentre os
quais os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Marta
Suplicy (Turismo), Reinhold
Stephanes (Agricultura) e Márcio Fortes (Cidades)- a participarem de diretórios partidários
e, ao mesmo tempo, exercerem
cargos no governo. Eles são filiados e desempenham funções
de direção partidária no PT, no
PMDB, no PP e no PDT.
Tratamento diverso recebeu
o ministro do Trabalho, Carlos
Lupi (RJ), presidente nacional
do PDT. Anteontem, os representantes da comissão informaram que vão reforçar após o
Natal o pedido de afastamento
de Lupi, feito no mês passado,
de uma das duas funções.
"A comissão avaliou que a
postura do ministro infringe o
código de conduta da alta administração federal e compromete a clareza das posições exigidas das autoridades públicas.
Um ministro não pode defender um bem comum, sendo
uma alta autoridade republicana, e os interesses de seu partido ao mesmo tempo", disse o
presidente interino da comissão, Marcílio Marques Moreira, em entrevista à Folha.
Apesar de abrandar possíveis
punições para os outros políticos, Moreira nega que haja perseguição ao pedetista e diz que
orientou 1.100 funcionários do
alto escalão do governo federal
a optarem ou pelo cargo público ou por funções executivas
em seus partidos. Porém, disse
que não encontrou nenhuma
outra pessoa nas mesmas condições de Lupi. Segundo a comissão, encaixam-se na função
executiva o presidente, o primeiro vice-presidente, o secretário-geral e o tesoureiro. "A
regra vale apenas para os que
têm alguma responsabilidade
no partido", afirmou Moreira.
Segundo ele, os diretórios não
se enquadram nessa definição.
No entanto, os regimentos
internos dos partidos prevêem
amplos poderes para os membros de diretórios. As regras do
PT, por exemplo, permitem ao
Diretório Nacional aplicar sanções disciplinares a filiados e
intervir e destituir diretórios
estaduais e municipais.
A reportagem apurou que
pelo menos seis petistas exercem funções simultâneas. São
eles: os ministros Paulo Bernardo, Marta Suplicy e Luiz
Dulci (MG), da Secretaria Geral da Presidência, o assessor
especial da Presidência Marco
Aurélio Garcia (SP), o presidente da estatal BR Distribuidora, José Eduardo Dutra (SE),
e o conselheiro administrativo
da Itaipu Binacional, João Vaccari Neto (SP). Todos são
membros do Diretório Nacional petista desde 2005.
Dutra disse à reportagem
que pediu afastamento do diretório assim que assumiu o cargo, no início do ano. No entanto, seu nome consta na relação
dos membros do diretório.
O ministro das Cidades,
Márcio Fortes, é também o oitavo vice-presidente do PP.
No PMDB, o assunto é encarado de outra forma. Ao assumir, o peemedebista tem de
deixar a função partidária. No
entanto, Reinhold Stephanes
(Agricultura) ainda é membro
do diretório do PMDB-PR.
Perseguição
Lupi sugeriu que Marcílio
Marques Moreira o estivesse
perseguindo. A comissão orientou o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva a demitir Lupi do
governo caso ele não se ausente
de suas funções partidárias.
Interlocutores do ministro
disseram que o posicionamento da comissão só foi tomado
porque Lupi quer romper um
contrato com a empresa que
confecciona carteiras de trabalho para o ministério, a American BankNote, da qual Moreira
é conselheiro. O objetivo do ministro é substituí-las por cartões magnéticos. Oficialmente,
Lupi diz que não é ético tratar
do assunto nessa perspectiva.
Moreira nega que seja perseguição, já que o contrato com o
governo representa menos de
1% da arrecadação da empresa.
"A (American) BankNote tem
negócios de R$ 700 milhões. O
contrato com o governo é de
R$ 5 milhões e foi vencido por
meio de pregão eletrônico. Não
tem pra que perseguir."
Durante a semana, o ministro do Trabalho disse que não
pretende deixar nenhum dos
dois cargos.
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