São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 2010

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Obra de construtora no Pará é investigada

Três dos seis hospitais a cargo do consórcio da Camargo Corrêa no Estado ainda não funcionam -um deles está nas fundações

Governo do Pará afirmou já ter pago R$ 247 milhões pelas obras; Ministério Público apura pagamento de propina ao PT e ao PMDB


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Três dos seis hospitais construídos pelo consórcio liderado pela Camargo Corrêa no Pará ainda não estão funcionando. As obras são alvo de uma investigação do Ministério Público Federal em São Paulo.
O governo de Ana Júlia Carepa (PT) espera ainda neste ano colocar em funcionamento os das cidades de Breves, na Ilha do Marajó, e de Tailândia, no nordeste do Estado (este não chegou a ser citado na denúncia da Procuradoria, mas também foi feito pela construtora).
As instalações dos dois hospitais estão 95% prontas, mas faltam médicos e equipamentos para que possam funcionar.
Há um terceiro hospital, que deveria cuidar de crianças com câncer em Belém, que mal saiu do papel. Pensado para ser uma espécie de anexo do Hospital Ophir Loyola, principal centro oncológico da capital paraense, dele só foi feita a fundação.
Mesmo um dos que foram terminados, o de Santarém, na região do Baixo Amazonas, não funciona como deveria, segundo o Sindicato dos Médicos do Pará: "Há seríssimos problemas", disse Wilson Machado, um dos diretores do sindicato.
Ele afirmou que o hospital deveria oferecer serviços como hemodinâmica e cirurgia infantil, mas não o faz. Criado para ser um centro de ponta, ele acaba tendo de tratar de casos mais simples também, devido à falta de atendimento básico nos municípios da área: "A concepção foi desvirtuada".
Os hospitais entraram no foco da Operação Castelo de Areia, que investiga supostos crimes financeiros da Camargo Corrêa, depois que, segundo o Ministério Público, foram descobertos documentos comprovando o pagamento de propina ao PT e ao PMDB do Pará -aliados no governo do Estado.
A Procuradoria da República argumenta que, por meio de uma conta bancária na China, em nome de Tiger Information, foram depositados para o PT R$ 261.285,52 em abril de 2008. Já os peemedebistas, diz a denúncia, receberam R$ 130 mil em uma conta brasileira.
Também foram encontrados registros da empresa com as anotações "PT 5%" e "PMDB 3%". Além disso, havia menção a "Carlos Botelho", mesmo nome do consultor do governo do Pará, e a "JB, eleição e partido".
Todos os citados negam envolvimento em qualquer ilegalidade. Os petistas afirmam que as obras foram licitadas em 2005, quando o Pará era comandado por Simão Jatene (PSDB), e que portanto não haveria sentido na propina .
Mas empreiteiros ouvidos pela Folha disseram que, se a hipótese de propina for verdadeira, é possível que ela tenha sido negociada para que os pagamentos fossem liberados.
O Estado disse já ter pago R$ 247 milhões das obras, cujo custo total foi dividido entre empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que entrou com R$ 215,3 milhões, e contrapartidas estaduais -de R$ 79,6 milhões.
Os hospitais faziam parte de um plano do governador Simão Jatene (PSDB) para descentralizar o atendimento de alta e média complexidade no Pará.


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