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Físico descarta acordo como solução de crise energética
Segundo Luiz Pinguelli Rosa, "não seria uma coisa para menos de cinco anos"
Para ele, Argentina não teria como se beneficiar hoje do urânio enriquecido a 3% pois usa urânio natural ou enriquecido a menos de 1%
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um acordo binacional para
enriquecimento de urânio está
fora de cogitação como solução
para a crise energética que se
abate sobre a Argentina hoje e
ameaça o Brasil nos próximos
anos. A opinião é do físico Luiz
Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação
em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e
ex-presidente da Eletrobrás.
Segundo o cientista, a Argentina não teria como se beneficiar de imediato de urânio enriquecido a 3% (o usado em Angra) porque suas duas usinas
nucleares usam apenas urânio
natural ou de baixo enriquecimento, a menos de 1%.
"Não seria uma coisa para
menos de cinco anos, de modo
algum, e o gargalo brasileiro se
dá aí nesse período", disse ele.
Para Pinguelli, a vantagem de
um acordo binacional depois
desse período seria o de fazer
com que investimentos na
planta de enriquecimento de
urânio de Resende (RJ) se tornem financeiramente mais
compensadores para o Brasil.
Conforme Pinguelli, a atual
escala de consumo de Angra 1 e
2 não compensaria o custo.
"Com Angra 3, o custo já entraria em escala [vantajosa], mas,
se a Argentina tiver interesse
também no urânio enriquecido, teria ainda mais escala."
Segundo Pinguelli, porém,
ainda não está claro que a opção nuclear seja compensadora
para o Brasil. Um problema
imediato é que o custo da eletricidade previsto em Angra 3 ainda é muito alto, da ordem do
dobro do que se discute para
novas usinas hidrelétricas.
Armas nucleares
"Uma vez que se resolva investir na opção nuclear, porém,
o projeto binacional é interessante, até do ponto de vista de
controle contra armas nucleares", diz Pinguelli. Isso poderia
ser feito por uma entidade binacional que já existe, a Abacc
(Agência Brasileiro-Argentina
de Contabilidade e Controle de
Materiais Nucleares). Tal entidade seria inerentemente mais
transparente do que um governo se auto-regulamentando.
Para o físico da UnB (Universidade de Brasília) Oyanarte
Portilho, o anúncio de um acordo nuclear binacional tem apenas efeito político. Ele entende
que por conta dos investimentos que o Brasil fez na área, a
cooperação seria mais benéfica
para a Argentina, que pouco investiu. "Para nós não teria muita vantagem, talvez mais para
eles", afirma.
Um engenheiro nuclear ouvido pela Folha acredita que os
programas nucleares dos dois
países estão estagnados devido
à paralisação do projeto de
construção de Angra 3. No plano internacional, avalia como
bom acordo pois a AIEA (Agência Internacional de Energia
Atômica) defende que entidades multilaterais controlem a
proliferação de armas.
Colaborou AFONSO BENITES,da Reportagem Local
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