São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Físico descarta acordo como solução de crise energética

Segundo Luiz Pinguelli Rosa, "não seria uma coisa para menos de cinco anos"

Para ele, Argentina não teria como se beneficiar hoje do urânio enriquecido a 3% pois usa urânio natural ou enriquecido a menos de 1%

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um acordo binacional para enriquecimento de urânio está fora de cogitação como solução para a crise energética que se abate sobre a Argentina hoje e ameaça o Brasil nos próximos anos. A opinião é do físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente da Eletrobrás.
Segundo o cientista, a Argentina não teria como se beneficiar de imediato de urânio enriquecido a 3% (o usado em Angra) porque suas duas usinas nucleares usam apenas urânio natural ou de baixo enriquecimento, a menos de 1%. "Não seria uma coisa para menos de cinco anos, de modo algum, e o gargalo brasileiro se dá aí nesse período", disse ele.
Para Pinguelli, a vantagem de um acordo binacional depois desse período seria o de fazer com que investimentos na planta de enriquecimento de urânio de Resende (RJ) se tornem financeiramente mais compensadores para o Brasil. Conforme Pinguelli, a atual escala de consumo de Angra 1 e 2 não compensaria o custo.
"Com Angra 3, o custo já entraria em escala [vantajosa], mas, se a Argentina tiver interesse também no urânio enriquecido, teria ainda mais escala." Segundo Pinguelli, porém, ainda não está claro que a opção nuclear seja compensadora para o Brasil. Um problema imediato é que o custo da eletricidade previsto em Angra 3 ainda é muito alto, da ordem do dobro do que se discute para novas usinas hidrelétricas.

Armas nucleares
"Uma vez que se resolva investir na opção nuclear, porém, o projeto binacional é interessante, até do ponto de vista de controle contra armas nucleares", diz Pinguelli. Isso poderia ser feito por uma entidade binacional que já existe, a Abacc (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares). Tal entidade seria inerentemente mais transparente do que um governo se auto-regulamentando. Para o físico da UnB (Universidade de Brasília) Oyanarte Portilho, o anúncio de um acordo nuclear binacional tem apenas efeito político. Ele entende que por conta dos investimentos que o Brasil fez na área, a cooperação seria mais benéfica para a Argentina, que pouco investiu. "Para nós não teria muita vantagem, talvez mais para eles", afirma.
Um engenheiro nuclear ouvido pela Folha acredita que os programas nucleares dos dois países estão estagnados devido à paralisação do projeto de construção de Angra 3. No plano internacional, avalia como bom acordo pois a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) defende que entidades multilaterais controlem a proliferação de armas.


Colaborou AFONSO BENITES,da Reportagem Local


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