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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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PROGRAMA EM XEQUE

Partidos trocam acusações e "dividem" a cidade

PT trava com PL disputa por projeto-piloto em Guaribas

DO ENVIADO A GUARIBAS (PI)

Unidos para catapultar Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, PT e PL dividem Guaribas em dois "lados" e ameaçam dificultar a tarefa do presidente de transformar a cidade em uma vitrine de seu principal programa social, o Fome Zero.
Guaribas é dividida geograficamente por um açude de água não potável que fica no centro da cidade. A divisão política, segundo os moradores, começou nas eleições municipais de 2000, quando um dos lados teria apoiado majoritariamente o prefeito eleito Reginaldo Correia (PL), enquanto o outro apoiava o candidato Edemir Alves da Rocha (PDT).
A divisão se reflete no comitê gestor local do Fome Zero. José da Silva Bastos, 52, o Zuza, afirma pretender fundar o PT na cidade em companhia de Carlos Ferreira, também do comitê.
Do outro lado da cidade fica a prefeitura e integrantes do comitê ligados ao prefeito, filiado ao PL, como a atual secretária de Educação do município, Lucilé de Santana Ribeiro. Correia foi cassado em abril de 2000, mas continua no cargo por recursos judiciais que até hoje não foram julgados e ele conseguiu se reeleger. É acusado de desvio de verbas.

Dificuldades no trabalho
Segundo o enfermeiro Lauro César de Morais, também do comitê, "a divisão atrapalha o andamento do programa". "Você não tem acesso livre. Eu sou a única pessoa que entra em todas as casas de Guaribas. Acontece briga dentro do comitê. A gente tenta contornar", afirma.
A divisão influencia o seu trabalho de atendimento médico, ele diz: "[A cidade] é totalmente dividida. Queriam que eu consultasse o pessoal de cá [lado da prefeitura] aqui, e o pessoal de lá, lá do outro lado. Resolvi consultar lá e entregar medicamentos aqui, para forçar as pessoas a irem de um lado para o outro".
Segundo Carlos Ferreira, haveria "irregularidades" no cadastro de beneficiados do programa, entre eles o fato de constar o nome de sua própria mulher, Sineide Correia Maia, entre os beneficiados. Por ele participar do comitê, Sineide Maia não poderia receber o benefício.
Ele diz que o dinheiro dela não foi sacado e acusa os integrantes ligados ao prefeito de terem inserido o nome dela no cadastro. "Para me complicar ou complicar o programa", afirmou.
A secretária de Educação culpa possíveis erros no cadastramento à "pressa" com que ele foi feito -uma semana, ela diz.
E, embora integrante do comitê, critica o Fome Zero: "O problema maior da cidade é [falta de] água e estrada. Aqui não existe fome, existe carência nutricional".
"A política aqui não acaba nunca", diz o comerciante Carlos Rocha, amigo de Zuza e morador do lado "petista", que também faz críticas aos integrantes do comitê ligados ao prefeito.
A filial da Caixa Econômica, onde os beneficiários de programas do governo atual e do anterior retiram seu dinheiro, foi instalada na mercearia de Vagno Alves, por indicação da prefeitura.
Segundo Rocha, Alves seria favorecido nas vendas que faz. "Ali mesmo as pessoas tiram o dinheiro e ali elas gastam", afirma. Alves afirma que foi indicado pela prefeitura, mas que fez "convênio com a Caixa" e que não há nenhuma irregularidade na sua indicação. O movimento na sua loja, ele diz, "aumentou em 20%" após o Fome Zero. (RC)


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