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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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JANIO DE FREITAS

Inocentes e criminosos

O nome diz tudo: "Operação Choque e Pavor". Não lhe falta exprimir nem a dose de sadismo que extravasa dos discursos e entrevistas dos principais líderes americanos da guerra, exceto Collin Powell. O choque é das explosões assassinas, mas o pavor é da população inocente, desarmada e indefesa.
Bagdá está sendo destruída, para glória e gozo dos que se sentiram vítimas do crime bárbaro de destruição das duas torres de NovaYork.
Só os membros da Al Qaeda são considerados criminosos.

Outra luta
O repentino e forte ataque do petista João Paulo, presidente da Câmara, ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva diz muito mais do que está nas suas palavras. Por isso mesmo, é duvidoso que seu propósito principal fosse apontar o que considera falhas, algumas de ação administrativa, outras de condução política.
Parte das críticas de João Paulo têm fundamento evidente. "O governo não está indo bem em várias coisas (...), "precisa definir definir melhor sua pauta" e "não pode ficar permanentemente desorientado e desorientando sua bancada no Congresso", sem dúvida. Melhor: "o governo precisa de uma definição mais precisa do que quer". E foi aí.
É despropositada, porém, a cobrança que João Paulo faz do envio, ao Congresso, dos projetos de reforma do governo. Sua ótica é apenas burocrática, do ponto de vista administrativo, e, do ângulo político, oportunista no mau sentido. Previdência e tributos impostos são problemas de enorme gravidade para 170 milhões de pessoas. Seria ou será leviandade tratá-los em razão só da oportunidade de aprovar com mais facilidade o projeto que o governo envie ao Congresso.
O sentido geral da carga crítica, porém, está voltado para dentro do governo e do PT. Suas apreciações sobre o governo, não tivesse o palestrante um objetivo especial, não seriam tema apropriado para uma palestra do presidente da Câmara a donos e dirigentes de supermercados. João Paulo usou a ocasião. E falou, explicitamente, pela bancada da qual foi líder até fevereiro.
Está claro, pela atitude de João Paulo, que as insatisfações petistas com o governo Lula não se concentram mais nos pejorativamente chamados de radicais. Disseminam-se. A maioria dos parlamentares petistas é moderada, e o próprio João Paulo mostrou-se dócil a ponto de conduzir a aprovação da imoralidade do "foro privilegiado", à qual se opusera até o indigno acordo feito entre o governo que entraria e o que se ia. Mas a moderação e a docilidade já não se contêm, e transbordam por um canal que, na presidência da Câmara, está protegido da censura e das represálias que a direção petista acena aos críticos.
A outra dedução oferecida por João Paulo é a de que a luta de poder dentro do governo torna-se mais aguda. E, sem dúvida, a palestra aos supermercadistas foi, na luta, um lance sem proveito direto para o autor, logo, a serviço de uma das facções. Tudo indica que a facção contrária a José Dirceu, que tem sido a vítima preferida das intrigas em circuito fechado e das que compõem notas e artigos nos jornais.
Sobre a mesma questão - o nível de responsabilidade de José Dirceu na desorientação do governo e da bancada -, João Paulo, segundo o "Globo", disse que "a culpa não é dele, não sei exatamente a quem cabe, nem tenho disposição de procurar saber". Segundo a Folha, disse apenas: "Não sei" - o que daria conotação e direção claras à resposta.
A luta de poder no governo não é, a rigor, restrita aos que o integram. Conta a contribuição experiente do PMDB fisiológico, insatisfeito, como muitos petistas e o próprio João Paulo, com o esforço de José Dirceu para montar a base de apoio com o tempo necessário para ter o menor custo ético e administrativo possível. Mas não é só este o motivo da luta que se agrava no governo e, já petistas moderados e dóceis o dizem, o mantém desorientado e desorientando.


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