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NOVELA MINISTERIAL
"Oposição? Tá doido? Gosto é de governo", afirma deputado
"Se parei a reforma, tenho muita força", diz Severino
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Carregando na ironia, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tentou minimizar
ontem sua participação no cancelamento da reforma ministerial,
ao mesmo tempo em que recuou
na ameaça de passar para a oposição caso o governo não contemplasse seu partido no ministério.
"Oposição? Tá doido? Eu gosto é
de governo", disse.
A ironia foi uma constante nas
muitas entrevistas que Severino
deu durante o dia para explicar
sua polêmica declaração dada anteontem em Curitiba, quando deu
um ultimato ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Utilizou-a, por exemplo, quando questionado a respeito do que
pensava do fracasso da reforma:
"Mas não houve reforma? Dois
[ministros nomeados] não é reforma?". Fez piada ainda com seu
envolvimento no episódio. "Se fui
responsável [pelo cancelamento],
sou um homem feliz, porque tenho muita força."
Segundo assessores e auxiliares,
Severino foi pego de surpresa
com o anúncio do presidente Lula
de que não mais faria uma ampla
reforma, o que resultou no cancelamento da ida de seu afilhado
político Ciro Nogueira (PP-PI)
para as Comunicações.
Após reconhecer que exagerou
na dose ao dar um ultimato ao
presidente, Severino acreditava
ter se explicado na conversa que
os dois tiveram anteontem no
Planalto. Foi dormir acreditando
que tivesse apagado o incêndio.
A notícia do cancelamento chegou ao deputado pouco após o
meio-dia, no encerramento da
reunião que comandou com governadores e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para tratar de
reforma tributária. Ao sair do
evento, limitou-se a dizer que "a
caneta é do presidente".
O discurso em Curitiba teria sido motivado, de acordo com um
assessor, pelo fato de Severino estar sendo submetido a pressões
que considera injustas nos últimos dias. Teria sido um desabafo,
em que ele não teria percebido a
gravidade do que dizia.
Parentes e gastos
Severino teria ficado especialmente contrariado com duas acusações: de que emprega parentes
em seu gabinete e de que seria o
responsável por deixar aprovar
projetos que aumentam os gastos
públicos. Ele confidenciou a deputados próximos que se sente
usado pelo governo como bode
expiatório da falta de articulação
política dos aliados.
Raros foram os momentos em
que o presidente da Câmara se
mostrou irritado com a controvérsia. Um deles foi quando um
repórter perguntou, entre uma
audiência com opositores do
aborto e outra com defensores do
desarmamento, no meio da tarde,
se ele estava arrependido do que
havia dito. "Não estou e diria tudo
o que eu disse de novo. Aqui não
tem interferência de ninguém,
não sou tutelado", afirmou Severino Cavalcanti.
Ao contrário de Nogueira, que
desapareceu da Câmara ontem
para não dar declarações, Severino fez questão de falar. Ao ser
contido por uma assessora exasperada com o atraso na agenda
causado por uma entrevista, o
presidente reagiu. "Deixa eu falar,
eu quero falar."
Apesar do descontentamento
evidente com o fato de Nogueira
não ter sido contemplado, o presidente esforçou-se em passar uma
imagem de responsabilidade.
Afirmou a todo instante que não
muda nada na relação de seu partido com o governo. "Continuamos na base."
Líder
O novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP),
afirmou que vai pedir a Severino
que ouça mais os líderes. "O presidente tem decidido a pauta muito reservadamente", afirmou Chinaglia, que recebeu de Lula o pedido para traçar uma estratégia de
trabalho para tentar reconstruir a
base aliada.
Colaborou RANIER BRAGON,
da Sucursal de Brasília
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