São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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Planalto quer atrair PMDB oposicionista

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As dificuldades do governo com partidos aliados, sobretudo com o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), empurraram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o PMDB, e o governo agora se esforça para atrair até líderes oposicionistas do partido.
"Quero uma relação mais sólida com o PMDB", disse Lula ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e a José Sarney (PMDB-AP). Na reunião, ele estava visivelmente irritado. Sarney justificou depois à Folha: "O Severino esticou demais a corda".
Lula nomeou ontem mesmo o senador Romero Jucá (PMDB-RR) para a Previdência. Também autorizou José Dirceu (Casa Civil) a promover reuniões com líderes oposicionistas. Também serão procurados por Dirceu, havendo possibilidade de reunião com o próprio Lula, os governadores Germano Rigotto (RS), Luiz Henrique da Silveira (SC), Roberto Requião (PR) e Jarbas Vasconcelos (PE), além do presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia.
Conforme a Folha apurou, Lula abriu a reunião de ontem avisando que a reforma estava suspensa: "Assim, o PP não vai participar do governo". Referia-se ao ultimato de Severino: se Lula não nomeasse seu afilhado Ciro Nogueira (PP-PI) para as Comunicações, o PP se aliaria ao PFL, de oposição.
Na mesma segunda, Severino tentou recuar, dizendo a Lula que "não foi bem assim". Na conversa de ontem, o presidente disse que declarações como as de Severino tumultuam o governo e a economia e se disse preocupado com o efeito paralisante sobre o governo e sobre o Congresso.
De volta ao Senado, Renan declarou: "É óbvio que o presidente deixou absolutamente claro que não quer pressão, e nós o apoiamos. Achamos a decisão [de suspender a reforma] correta e equilibrada. O PMDB em nenhum momento criou problemas".
Sarney também defendeu a decisão de Lula: "Em águas revoltas, não há condições de fazer muita coisa", disse. Sua filha, Roseana (PFL-MA), vinha sendo cotada para um ministério. Nem pai nem filha, porém, reclamaram do recuo. "Não tenho expectativa. Depois de tanto tempo na vida pública, eu tenho de ter tranqüilidade. O presidente não pode ser pressionado", disse Roseana.
Momento tenso da reunião foi quando o demissionário da Previdência, Amir Lando (PMDB-RO), reclamou que não teve condições de fazer nada na sua gestão e ameaçou sair da reunião. A pedido de Lula, ficou. Estavam presentes ainda Dirceu, Eunício Oliveira (Comunicações), os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Ney Suassuna (PMDB-PB) e o deputado José Borba (PMDB-PR).


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