São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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JANIO DE FREITAS

A saída

Nem Lula se livrou de Serra nem Serra se livrou da prefeitura. Mas a primeira parte da frase tem futuro mais incerto do que a segunda, ao que demonstra o teor de conversações recentes, entre nobres do PSDB e do PFL, sobre encaminhamentos possíveis da disputa eleitoral.
José Serra tem motivos fortes para continuar na prefeitura, a começar por seu compromisso formal de fazê-lo, mas também tem diante de si, atraindo-o para a renúncia, uma tentação ainda maior que o governo de São Paulo. E, nesse caso, se não convém dizer que os chefões do PSDB cobram ou estimulam sua renúncia à prefeitura, no mínimo se pode dizer que a consideram com muita simpatia tendo em vista -é isso mesmo- a eleição presidencial.
A solução da disputa de Geraldo Alckmin e Serra foi forçada pelas circunstâncias ditadas, em parte, pela incapacidade de Serra de fazer o seu caminho e, em parte, pela impossibilidade de uma recusa legítima à pretensão de Alckmin. Mas não foi satisfatória no PSDB, e politicamente não poderia ser mesmo, a escolha do pretendente com tamanha evidência de menores probabilidades de êxito.
O PSDB e o PFL constatam circunstâncias extraordinariamente propícias à oposição na disputa eleitoral. Não sabem, porém, se a candidatura de Alckmin estaria à altura dessa oportunidade. Não sabem agora, bem entendido. Ainda antes da convenção prevista para junho, porém, Alckmin terá demonstrado se tem ou não potencial para sobrepujar Lula.
O PSDB aguarda, em atitude muito indicativa. O silêncio com que os peessedebistas receberam a subida de Alckmin, na primeira pesquisa posterior à sua indicação para candidato, foi bastante sugestivo da expectativa cautelosa, se não alheia. Como se ninguém quisesse envolver-se em estímulos e exibições de confiança.
Se, nesse quadro de incertezas, o desempenho de Alckmin se mostrar insuficiente, o PSDB só teria uma alternativa: José Serra. Desde que Serra esteja disponível, por renúncia à prefeitura a título de disputar o governo de São Paulo. Nenhum problema em passar de uma a outra candidatura.
Passiva, a expectativa do PSDB não é. Hoje mesmo deverá ir uma comissão de deputados estaduais a Serra, na mais óbvia articulação de um "movimento espontâneo" por sua renúncia para candidatar-se. Nas conversações entre PSDB, PFL e uma parcela do PMDB, a passividade é ainda menor. E muito sugestiva.
O artigo que aqui comentou, no dia 15, a escolha de Alckmin na véspera, acabou assim: "Não há motivo para Alckmin acreditar na unidade ativa do PSDB em torno da sua candidatura. A propósito, candidatura mesmo, só a partir da convenção partidária. Até lá, Alckmin é só indicado. O que pode não significar nada, e pode significar muito".
Para meio entendedor, estava aí e estará ainda.


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