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BAHIAGATE
"Quem nega que ACM usou informações colhidas de forma criminosa?", diz relatório
Caso do grampo leva relator a propor cassação de ACM
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num relatório dividido entre citações filosóficas sobre a questão
da ética e acusações contundentes
contra o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA), o senador
Geraldo Mesquita Júnior (PSB-AC) propôs ontem ao Conselho
de Ética do Senado abertura de
processo por quebra de decoro
contra ACM e aplicação da pena
de cassação do mandato.
Mesmo sem provas de que
ACM foi mandante dos grampos
telefônicos ilegais realizados por
funcionários da Secretaria de Segurança Pública na Bahia, Mesquita considerou "gravíssimo" o
fato -comprovado, segundo
ele- de o senador ter utilizado
informações obtidas com a escuta
clandestina contra adversários
políticos e desafetos pessoais.
"Quem, em sã consciência, pode negar que o senador Antonio
Carlos Magalhães se utilizou de
informações que foram colhidas
de forma criminosa para divulgá-las com propósitos escusos? Pois a
este conselho, por enquanto, cabe
decidir se divulgar informações
produto de crime capitulado nas
leis penais constitui ou não procedimento incompatível com o decoro parlamentar. Em caso afirmativo, a única pena aplicável é a
perda de mandato", disse ele.
No final de um relatório de 27
páginas -quase metade delas dedicada a citações sobre conduta
ética e a casos de parlamentares
cassados-, Mesquita disse estar
"convencido da gravidade do ato
praticado por sua excelência, divulgando informações colhidas
mediante prática de crime".
Mesquita não restringiu seu relatório ao caso dos grampos ilegais da Bahia e citou a violação do
painel eletrônico.
Ao final da leitura do relatório,
Demóstenes Torres (PFL-GO),
Sérgio Guerra (PSDB-PE) e outros senadores pediram vista
(tempo para examinar o texto)
para adiar a votação. O presidente
do conselho, Juvêncio da Fonseca
(PMDB-MS), marcou a próxima
reunião para a terça que vem,
quando o relatório será votado.
O líder do PFL, José Agripino
(PFL-RN), considerou o relatório
"duríssimo" e afirmou que o seu
partido e o PSDB irão apresentar
um voto em separado (um relatório alternativo ao de Mesquita)
para ser submetido ao plenário do
conselho. Nesse voto em separado, uma pena mais branda poderá ser sugerida, como a suspensão
temporária do mandato.
Outra estratégia não descartada
pelos aliados de ACM é que a Mesa Diretora considere improcedente o relatório de Mesquita
-se ele for aprovado- e aplique
uma punição menor. Dos sete titulares da Mesa, ACM poderia
contar com os votos de cinco, especialmente o do presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Quando começou a reunião do
conselho, o senador César Borges
(PFL-BA) discursava em plenário
em memória dos cinco anos da
morte do filho de ACM, deputado
Luis Eduardo Magalhães (PFL-BA), que foi presidente da Câmara e líder do governo FHC.
Houve vários apartes para homenagear Luis Eduardo, inclusive
do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). ACM chorou.
Antes, em conversa com aliados,
mostrava bom-humor.
O relatório de Mesquita surpreendeu pela contundência das
acusações. Ele fez mistério até a
leitura da conclusão. Após a sessão, afirmou: ""Não nos cabia outra saída. Os fatos são extremamente graves e não há a menor
possibilidade de o Senado compactuar com atos dessa natureza e
fazer de conta de que eles não
existem".
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