São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2008

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Erenice pode ser "sacrificada" se PF concluir que Casa Civil fez dossiê

VALDO CRUZ
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apreensivo com o desfecho das investigações da Polícia Federal sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo cogita em última hipótese atribuir ao braço direito da ministra Dilma Rousseff, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, a responsabilidade pelo viés político na coleta e organização dos dados.
Essa possibilidade não conta com a simpatia da ministra, mas é avaliada por assessores do governo como inevitável caso a PF aponte, ao final do inquérito, que o dossiê foi elaborado naquele formato dentro da Casa Civil, diferentemente da última versão apresentada por Dilma, segundo a qual o documento teria sido montado a partir de dados do Planalto.
As investigações fugiram ao controle do Planalto e, até a conclusão dos trabalhos da Polícia Federal, a estratégia do governo é manter Dilma o mais distante possível da crise do dossiê. A ministra fica no exterior até o final do mês.
No Planalto, há quem avalie como erro o governo não ter admitido que o dossiê havia sido elaborado por funcionários da Casa Civil como instrumento de defesa na luta política, na busca de comparar gastos do tucano com os de Lula.
Fora o temor com o desfecho das investigações, assessores do presidente crêem que, passado o desgaste pessoal, Dilma poderia obter dividendos numa eventual corrida à sucessão de 2010 por se tornar mais conhecida e se apresentar como vítima no episódio.
A crise estaria ainda impondo uma revisão no comportamento de Dilma -considerado arrogante e explosivo, incompatível com uma campanha.
Dilma Rousseff está calada sobre o dossiê há mais de duas semanas e pretende manter esse silêncio até o início de maio.
Em entrevista de 4 de abril, a chefe da Casa Civil reconheceu que anotações com viés político lançadas na planilha não seriam compatíveis com um trabalho burocrático de organização das prestações de contas de FHC. Mas ela insistiu na versão de que as planilhas teriam sido "montadas" a partir de dados organizados por sua equipe.
Naquela altura, a Casa Civil acreditava que manteria as investigações restritas a uma comissão de sindicância interna e ao ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), ambos subordinados a Dilma.
A PF entrou no caso na semana seguinte, e a escolha do delegado Sérgio Menezes frustrou a intenção da cúpula política do governo de limitar o objetivo do inquérito a apontar o autor do vazamento do dossiê.
Há risco de a perícia nos computadores apreendidos na Casa Civil desmontar as versões de "montagem" e de que a equipe da ministra Dilma Rousseff teria lançado informações do governo tucano em uma base de dados paralela e num formato diferente do sistema oficial de controle de suprimento de fundos, o Suprim, por problemas tecnológicos.
Caso isso ocorra, alguém teria de ser sacrificado. Essa pessoa pode ser Erenice Guerra, que assumiu a responsabilidade por montar a base de dados sobre os gastos de FHC.
Assessores da ministra chegaram a levantar suspeita de que o vazamento poderia ser obra de alguém da equipe de Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da Casa Civil. A amigos, ele disse que temia ser o bode expiatório da crise. Ele nega qualquer envolvimento no vazamento.


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