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Para especialistas, medidas ainda são insuficientes
DA REPORTAGEM LOCAL
As medidas anunciadas ontem pelas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal são insuficientes,
conforme cientistas políticos
ouvidos pela Folha.
Ricardo Caldas, professor da
UnB (Universidade de Brasília), avalia que as mudanças
não passam de "uma gota no
oceano de problemas".
"As verbas parlamentares, os
gastos do Legislativo são muito
maiores do que a questão das
passagens, que, é claro, também é importante. É preciso
ser mais radical", diz.
O cientista político Marco
Antônio Carvalho Teixeira, da
FGV-SP (Fundação Getúlio
Vargas), afirma que as medidas
são tímidas e apenas "reativas".
"O lamentável é que eles só agiram após ter havido um escândalo. A Câmara está dando resposta a problemas que ela própria criou", afirma.
Carlos Ranulfo de Melo, da
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), também faz
avaliação semelhante:
"É evidente que, no caso das
passagens aéreas, a medida é
correta e responde a um escândalo, a um problema que não
fazia mais sentido. Mas o problema da imagem do Legislativo no Brasil é muito mais complexo do que isso".
Para Wanderley Guilherme
dos Santos, cientista político,
no entanto, a "instituição"
Congresso deve ser preservada.
"Quem precisa ser cobrado é
quem está fazendo mau uso do
dinheiro", disse.
Ricardo Caldas afirma acreditar que somente uma reforma política poderia aprofundar
o controle de gastos do Legislativo e renovar o Congresso.
"Mas a mudança não pode
ser cosmética. Caso contrário,
será apenas uma reforma eleitoral. Com as devidas exceções,
acho que essa legislatura está
contaminada", afirmou o cientista político.
Aumentos
Teixeira e Caldas temem ainda que, na esteira das medidas
anunciadas ontem pelas Casas
do Congresso, ocorra um novo
aumento de salários dos congressistas ou de suas verbas.
As Mesas Diretoras da Câmara e do Senado estudam formas
de acabar com a chamada verba
indenizatória, que destina R$
15 mil mensais a cada um dos
594 congressistas. Entre as alternativas que estão à mesa, está a de incorporar parte do recurso aos salários.
"Seria trágico. Primeiro, porque há uma crise financeira que
nos obriga a cortar gastos. Depois, porque produziria um
efeito cascata nos legislativos
de todo o país", disse Teixeira.
O salário máximo dos 1.059
deputados estaduais e dos
52.007 vereadores do país está
vinculado constitucionalmente
ao dos congressistas.
"O Congresso perdeu representatividade. As pessoas não
confiam mais. Não pode haver
novos aumentos", disse Caldas.
Segundo ele, o Parlamento no
Brasil levará muitos anos para
reverter a imagem atual.
Teixeira defende O aumento
da fiscalização. "Os escândalos
só aparecem por conta do monitoramento."
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
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