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Para economistas, "efeito tango" é terrorismo eleitoral
LIA HAMA
DA REDAÇÃO
A declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso, de que
o Brasil corre o risco de virar uma
Argentina se os próximos governantes forem incompetentes, é
"terrorismo eleitoral", na opinião
de economistas consultados pela
Folha. "Certamente é terrorismo.
[A declaração de FHC] tem uma
conotação política muito clara,
que é a pretensão de que só um
pequeno grupo poderia dirigir o
Brasil e, portanto, qualquer mudança vai quebrar o Brasil", afirma o deputado federal Antonio
Delfim Netto (PPB-SP).
"Não se deve fazer terrorismo",
defendeu o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga
Belluzzo. "Isso é suposição sobre
como os outros [candidatos a
Presidência" vão se comportar.
FHC devia fazer uma autocrítica
sobre seu próprio desempenho",
disse Belluzzo. "Se o Brasil virar
Argentina é porque o governo
FHC deixou o país vulnerável."
Em entrevista à ASN (Agência
Sebrae de Notícias) divulgada anteontem, FHC, ao ser questionado sobre se o país corre o risco de
viver uma situação semelhante à
do país vizinho, respondeu: "Se os
próximos governantes forem incompetentes, claro. É o que aconteceu na Argentina".
A declaração de FHC segue a
mesma linha de discurso do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que afirmou que a volatilidade dos mercados nas últimas
semanas está ligada ao medo da
alternância de poder no país, e do
próprio pré-candidato tucano à
Presidência, José Serra, que apontou o risco de o Brasil se transformar em uma Argentina.
Na opinião da maioria dos economistas ouvidos pela Folha, no
entanto, é remota a possibilidade
de um "efeito tango" no país.
"Acho remotíssima essa possibilidade, tendo em vista os candidatos com chances de ser eleitos e
suas declarações, que são bastante
razoáveis", disse Sérgio Werlang,
diretor do Itaú e ex-diretor do
Banco Central, referindo-se a Serra e ao pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A comparação não é pertinente. O risco do Brasil não é cambial,
é fiscal, e a sociedade brasileira
não está tão fragilizada como a argentina", avalia o economista
Eduardo Giannetti da Fonseca.
Economia "apertada"
Na opinião de Giannetti, o nervosismo dos mercados nas últimas semanas é fruto de uma situação econômica "apertada",
que será herdada pelo substituto
de FHC. "A situação que FHC vai
deixar é muito apertada. Se o PT
estivesse na frente [das pesquisas
eleitorais] e a situação econômica
não fosse tão apertada, isso não
causaria tanta apreensão nos
mercados." "Essa agitação que
existe aí é porque os indicadores
[econômicos" não são uma maravilha", concordou Delfim Netto.
A preocupação com a vulnerabilidade da economia brasileira é
compartilhada pelo professor de
Economia da FGV, Paulo Nogueira Batista. "A situação do Brasil
não é de tranquilidade, é de vulnerabilidade. O Brasil tem uma
dívida pública que cresceu muito,
a taxa de juros é muito alta e o déficit em conta corrente, elevado.
Esses indicadores não são bons
para padrões internacionais."
Desvalorização cambial
Para o ex-ministro da Fazenda
Luiz Carlos Bresser Pereira, o Brasil estava na rota da Argentina em
98, mas mudou de trajetória ao
desvalorizar o real, no início de
99. "O Brasil tomou a decisão certa. Hoje é muito menor a fragilidade da economia do que alguns
anos atrás." Segundo Bresser, o
próximo governo deverá "completar o trabalho" de FHC, "com
equilíbrio nos juros, retomada de
investimento e equilíbrio nas contas correntes".
Na opinião do professor de Economia da Unicamp Luciano Coutinho, no entanto, se forem mantidas as políticas de FHC e do ministro da Economia, Pedro Malan, o Brasil chegará a um cenário
semelhante ao argentino.
"Manter as atuais políticas por
mais três ou quatro anos levaria
ao default [calote] da dívida, pois
esta se tornará insustentável",
alertou o economista.
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