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JANIO DE FREITAS
Dois casos
Enquanto os especuladores
da Bolsa e do dólar entravam em crise histérica, aos candidatos à Presidência chegavam
indicações de mais um avanço
da candidatura de Ciro Gomes e
de recuperação, por Luiz Inácio
Lula da Silva, de dois pontos
que perdera na última pesquisa
divulgada. No mais, sem mais.
Quanto aos outros dois candidatos, a situação, a esta altura,
já se mostra difícil e, para o outro, já não é fácil. Não parece,
mas existem aí diferenças sutis.
É certo que Anthony Garotinho conta com a possibilidade
de um apoio religioso que, nos
seus cálculos iniciais, seria suficiente para levá-lo ao segundo
turno. Até hoje tal apoio não se
mostrou vigoroso. E, se existir
potencialmente, já está muito
prejudicado pela relação entre o
enorme retardo de Garotinho,
persistente na faixa dos 10%, e o
tempo ainda disponível para a
eventual recuperação. Em se
tratando de apoio religioso, não
é demais admitir o milagre, mas
teria que ser uma multiplicação
de votos digna da multiplicação
bíblica dos pães.
Em termos potenciais, a situação de José Serra não é dramática. Em termos operacionais e
políticos, porém, observa-se que,
a cada onda de providências para acelerar a candidatura, as
deficiências voltam a confirmar-se.
O alarme emitido pelo salto de
Ciro Gomes para o segundo lugar isolado produziu, com a rapidez devida, mais uma reestruturação de pessoal e de funções
na campanha de Serra. Mas nas
atividades, digamos, técnicas:
relações com a mídia (se bem
que esta seja a principal atividade do próprio Serra), agenda,
transporte, material de propaganda, elaboração do programa, sempre coisas assim. A estrutura da campanha continua
aumentando a presença tecnocrata.
Mesmo que tudo se torne capaz de funcionar muito bem, fica a questão de saber onde e como se aplicará o funcionamento. Em muitos Estados - Rio,
Minas, Bahia, para dar exemplos - a maioria, para não dizer a totalidade, do pessoal de
PSDB, PMDB e PFL serrista não
está incluindo a candidatura de
Serra nas suas campanhas eleitorais. E esse não é um problema
tecnocrático, é político e é grave
para uma candidatura.
Os que estão em campanha
para deputado e para senador
devem ser os mais importantes
cabos eleitorais dos candidatos
a presidente. No caso de Serra,
muito mais do que para Lula da
Silva e Ciro Gomes. Sem o trabalho de base daqueles puxadores de votos, a candidatura estará dependendo, sobretudo, da
empolgação popular que Serra
suscite e do programa eleitoral
gratuito. Parece não haver
quem imagine Serra provocando entusiasmo popular. Logo,
recai sobre o seu programa eleitoral a sobrecarregada responsabilidade de produzir resultados grandiosos e velozes. E isso
não seria fácil.
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