São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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JANIO DE FREITAS

Dois casos

Enquanto os especuladores da Bolsa e do dólar entravam em crise histérica, aos candidatos à Presidência chegavam indicações de mais um avanço da candidatura de Ciro Gomes e de recuperação, por Luiz Inácio Lula da Silva, de dois pontos que perdera na última pesquisa divulgada. No mais, sem mais.
Quanto aos outros dois candidatos, a situação, a esta altura, já se mostra difícil e, para o outro, já não é fácil. Não parece, mas existem aí diferenças sutis.
É certo que Anthony Garotinho conta com a possibilidade de um apoio religioso que, nos seus cálculos iniciais, seria suficiente para levá-lo ao segundo turno. Até hoje tal apoio não se mostrou vigoroso. E, se existir potencialmente, já está muito prejudicado pela relação entre o enorme retardo de Garotinho, persistente na faixa dos 10%, e o tempo ainda disponível para a eventual recuperação. Em se tratando de apoio religioso, não é demais admitir o milagre, mas teria que ser uma multiplicação de votos digna da multiplicação bíblica dos pães.
Em termos potenciais, a situação de José Serra não é dramática. Em termos operacionais e políticos, porém, observa-se que, a cada onda de providências para acelerar a candidatura, as deficiências voltam a confirmar-se.
O alarme emitido pelo salto de Ciro Gomes para o segundo lugar isolado produziu, com a rapidez devida, mais uma reestruturação de pessoal e de funções na campanha de Serra. Mas nas atividades, digamos, técnicas: relações com a mídia (se bem que esta seja a principal atividade do próprio Serra), agenda, transporte, material de propaganda, elaboração do programa, sempre coisas assim. A estrutura da campanha continua aumentando a presença tecnocrata.
Mesmo que tudo se torne capaz de funcionar muito bem, fica a questão de saber onde e como se aplicará o funcionamento. Em muitos Estados - Rio, Minas, Bahia, para dar exemplos - a maioria, para não dizer a totalidade, do pessoal de PSDB, PMDB e PFL serrista não está incluindo a candidatura de Serra nas suas campanhas eleitorais. E esse não é um problema tecnocrático, é político e é grave para uma candidatura.
Os que estão em campanha para deputado e para senador devem ser os mais importantes cabos eleitorais dos candidatos a presidente. No caso de Serra, muito mais do que para Lula da Silva e Ciro Gomes. Sem o trabalho de base daqueles puxadores de votos, a candidatura estará dependendo, sobretudo, da empolgação popular que Serra suscite e do programa eleitoral gratuito. Parece não haver quem imagine Serra provocando entusiasmo popular. Logo, recai sobre o seu programa eleitoral a sobrecarregada responsabilidade de produzir resultados grandiosos e velozes. E isso não seria fácil.


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