São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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Banco dos EUA exigiu pagamento de dívidas atrasadas da Transbrasil

DE WASHINGTON

O financiamento de US$ 1 bilhão concedido pelo Eximbank norte-americano ao Banco do Brasil foi o fator principal que determinou a vitória da Raytheon no processo de seleção do Sivam.
Para o governo brasileiro, o banco dos EUA financiou 100% dos equipamentos que o Brasil vai comprar da Raytheon, em vez dos 85% usuais nesse tipo de contrato. Além disso, teria optado pelo financiamento direto, enquanto o concorrente, a francesa Thomson, optou por oferecer garantias em lançamentos de títulos do governo brasileiro no exterior.
Mas documentos obtidos pela Folha mostram que, para liberar seu financiamento ao Brasil, o Eximbank exigiu o pagamento de dívidas atrasadas de companhias aéreas, em especial as da Transbrasil, companhia que sofrera intervenção na década de 80.
O total das dívidas das companhias aéreas com o Eximbank passava de US$ 300 milhões. A Folha confirmou que ao menos US$ 30 milhões foram pagos pelo governo brasileiro, em 1996.
Essa exigência permeou todas as negociações entre o governo brasileiro e os americanos mesmo depois do anúncio da vitória da Raytheon, em julho de 1994. Em diversas ocasiões, os norte-americanos chegaram a ameaçar cancelar o financiamento. No entanto, para justificar a lentidão do financiamento, o governo brasileiro preferiu colocar a culpa no "denuncismo" que cercava o Sivam e na insistência do Congresso em investigar suspeitas de irregularidades no processo de seleção da Raytheon.
Em agosto de 1994, logo depois de o Eximbank ter aprovado o financiamento para o projeto Sivam, o Departamento de Estado enviou um telegrama à embaixada informando que o Congresso dos EUA ainda teria que avaliar as circunstâncias da oferta. "O presidente Brody [Ken Brody, do Eximbank" notou que o Brasil precisa pagar cerca de US$ 30 milhões em dívidas atrasadas da Transbrasil antes que o Exim desembolse qualquer dinheiro para o projeto do Sivam. Apesar de promessas anteriores, o ministro das Finanças [à época, Rubens Ricupero] ainda não formulou um esquema de pagamento."
(MARCIO AITH)


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