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CRISE CAPIXABA
Scalfoni, que integrava a missão especial enviada ao Estado, deixa Superintendência da Polícia Rodoviária Federal
Ministro afasta ex-integrante da Le Cocq
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O superintendente da Polícia
Rodoviária Federal no Espírito
Santo, João Adilson Scalfoni, foi
afastado do cargo pelo ministro
da Justiça, Paulo de Tarso Ramos
Ribeiro. Integrante da entidade
supostamente paramilitar Scuderie Detetive Le Cocq entre 1988 e
1989, ele continuará na polícia.
Para substituí-lo foi nomeado
Faride Sipauba, que era o superintendente no Estado do Tocantins.
Scalfoni integrava, até ontem, a
cúpula da missão especial convocada pelo governo federal para
combater o crime organizado no
Espírito Santo. O ministro tomou
a decisão depois de a Folha ter revelado ontem que o superintendente fora filiado à entidade.
Segundo a assessoria do ministério, a medida visa resguardar a
"isenção" e o "objetivo" da missão especial que o governo federal
criou para combater o crime organizado capixaba, após o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, arquivar pedido de
intervenção no Estado.
Na semana passada, Scalfoni
disse que manteve silêncio sobre
sua filiação à Scuderie "porque
ninguém perguntou". A Folha
não conseguiu falar com Scalfoni
até a conclusão desta edição. Ele
não poderia atender à reportagem
por estar em reunião.
A missão especial é uma espécie
de "intervenção branca" no Estado. Um grupo composto por 57
policiais federais e cinco promotores foi enviado há uma semana
ao Espírito Santo para identificar
possível envolvimento de autoridades, como policiais, deputados
e membros do Judiciário, com a
criminalidade.
Os promotores federais utilizam a estratégia de duplo envolvimento -em crimes federais e estaduais. Assim, os suspeitos serão
processados pela Justiça Federal.
Intervenção
A Ordem dos Advogados do
Brasil pediu ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) a intervenção federal no Estado. Segundo o Ministério Público, a entidade Scuderie
Detetive Le Cocq seria uma das
agremiações capixabas com atuação criminosa.
Aprovada pelo CDDPH, a intervenção foi arquivada por Brindeiro. Sentindo-se desautorizado no
cargo, o advogado Miguel Reale
Júnior, então ministro da Justiça,
pediu demissão da pasta.
Após a pressão de entidades e
da comissão de direitos humanos
da Câmara, o presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou
uma alternativa à intervenção, batizada de "missão especial".
De acordo com a assessoria de
imprensa do Ministério da Justiça, a parte operacional da Polícia
Rodoviária Federal na missão especial já estava a cargo do inspetor Faride Sipauba, mas Scalfoni
foi afastado para que não houvesse dúvidas sobre os objetivos do
governo.
A Folha apurou que Sipauba foi
indicado pelo diretor da Polícia
Rodoviária Federal, Álvaro Henrique Viana de Moraes, tendo o
nome aceito pelo ministro.
Durante o dia de ontem, representantes do Fórum Reage Espírito Santo e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados telefonaram para o ministro para cobrar providências.
A exoneração de Scalfoni foi
anunciada às 16h50.
Faride Sipauba, 48, é superintendente em Tocantins desde
março de 2000 e policial rodoviário federal há 23 anos. Formou-se
em direito pela Universidade de
Brasília. Ele está no Espírito Santo
desde sexta-feira, acompanhando
os trabalhos da missão especial.
Dizendo-se "surpreso" com a
nomeação, afirmou que tem mais
perfil operacional que administrativo. Antes da exoneração de
Scalfoni, a Polícia Federal no Estado divulgou nota considerando
desnecessário seu afastamento da
missão. Segundo a nota, "qualquer acusação contra a idoneidade do inspetor Scalfoni deverá ser
avaliada a partir de provas, caso
contrário corre-se o risco da leviandade".
Colaborou a Agência Folha
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